Ciúme, um problema anunciado
A palavra “ciúme” se origina no latim, ZELUMEN, que deriva de ZELUS, traduzida como “desejo amoroso, ciúme, emulação”.
A palavra “ciúme” se origina no latim, ZELUMEN, que deriva de ZELUS, traduzida como “desejo amoroso, ciúme, emulação”. Indo mais afundo, a palavra latina que deu origem a todas essas é ZELOS, que significa “zelo, ciúme, ardo. Segundo Antônio Geraldo da Cunha - Dicionário Etimológico
Nas relações humanas o ciúme é certamente um dos sentimentos mais comuns. Surge nas diferentes formas de relações e nas diferentes etapas da vida. Ocorre desde a mais tenra infância e se prolonga pela vida toda. Podendo-se, inclusive, considerá-lo uma experiência normal pela universalidade e frequência com que ocorre.
O ciúme é um sentimento que brota em uma relação e se caracteriza como um sentimento, emoção e sentimento de carência afetiva, desejo de posse em relação a alguém ou a alguma coisa. Traduz um forte sentimento de medo, ameaça e perca de algo muito querido e desejado. Essencialmente, o ciúme se revela como uma suspeição da infidelidade, desconfiança persistente no parceiro, podendo ocasionar sofrimento nessa relação.
Para Camilo Castelo Branco (1825 -1890) escritor e novelista português, dizia: “O ciúme vê com lentes, que fazem grandes as coisas pequenas, gigantes os anões, verdades as suspeitas”. Marcel Proust (1871-1922) romancista, ensaísta e crítico literário francês. Autor da obra-prima “Em Busca do Tempo Perdido”, sobre o ciúme, dizia: “É espantoso como o ciúme, que passa o tempo a fazer pequenas suposições em falso, tem pouca imaginação quando se trata de descobrir a verdade”.
Marie-Madeleine de La Fayette (1634-1693), conhecida como Madame de La Fayette, escritora francesa, sobre o ciúme dizia: “É impossível exprimir a perturbação que o ciúme causa a um coração em que o amor ainda se não tenha declarado”.
Os distintos escritores, em épocas diferentes, identificam o ciúme como uma experiência avassaladora e inusitada e repleta de contradições. Há inúmeros estudos realizados em diferentes países e com diferentes populações sobre a presença do ciúme em boa parte dos pesquisados. É um sentimento peculiar forte e muito presente em nossa condição de seres humanos. É um fenômeno que pode aparecer ante uma imensa diversidade de situações, sendo comum em relacionamentos amorosos, entre filhos, pais e filhos, amigos e parentes. Percebe-se, que quanto mais íntima e próxima for uma relação, mais ciúme suscita.
Há níveis diferentes de se experimentar o ciúme, de tal forma que nem sempre esta experiência é patológica em que sua presença em dado relacionamento não demonstra dano de qualquer natureza. Há ocasiões, inclusive, que o próprio ciúme tempera a relação e favorece a aproximação entre as pessoas de tal forma que em sua falta total o conflito se manifesta. Este tipo de ciúme é considerado normal ou funcional onde caso haja qualquer conflito por sua presença, uma boa conversa sempre resolve.
Todavia, quando esta fronteira é ultrapassada e a relação é formalmente afetada surgem impreterivelmente, uma série enorme de alterações comportamentais, afetivas e emocionais persistes e duradouras, entre as quais destacamos: dor, aflição, agonia, angústia, ansiedade, paranoia, pesar, ressentimento, desconfiança mórbida, descontrole emocional, violência e sofrimento entre os envolvidos na relação. Nestes casos estamos diante do ciúme doentio ou patológico.
Este tipo de ciúme se expressa de forma heterogênea, através de ideias obsessivas persistentes, ininfluenciáveis (os argumentos contrários, não modificam a ideia central), ideias prevalentes ou até mesmo podendo chegar as raias de atividade delirante. Este tipo de ciúme pode se constituir como um sintoma de diferentes doenças, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno delirante persistente, transtorno de personalidade, transtornos graves do humor, esquizofrenia e dependência de álcool (alcoolismo) e ou outras drogas.
O ciúme patológico está presente em uma gama de diagnósticos psiquiátricos: 7%; das psicoses orgânicas (doenças cerebrovasculares, demências etc.) 6,7% distúrbios paranoides; 5,6% psicoses alcoólicas e 2,5% em esquizofrenia e é também frequente em quadros de depressivos, ansiosos e obsessivos. A maioria absoluta dos portadores de ciúme patológico, entretanto, não está dentro dos hospitais, nem nos ambulatórios e sim nas ruas especialmente entre casais. Muitos destes portadores destes ciúmes não estão sem tratamento médico e quando procuram o especialista suas relações já se encontram desgastadas, deterioradas, restando, tão somente, o rompimento, pela impossibilidade de recuperar a convivência.
Entre os dependentes graves de álcool, em quadros de intoxicação alcoólica aguda e em estágios de cronificação dessa doença, é comum esses enfermos apresentarem delírios de ciúme, ao ponto desse sintoma poder ser considerado uma característica da dependência do álcool. Neste caso a impotência sexual comum entre alcoólatras é um importante fator no desenvolvimento de ideias de infidelidade, sentimentos de inferioridade e rejeição. A prevalência do ciúme patológico no alcoolismo é muito alta e gira em torno de 34%. A evolução comum do ciúme patológico como sintoma do alcoolismo, pode ser, inicialmente, apenas durante a intoxicação alcoólica e, posteriormente, também nos períodos de sobriedade. Nas mulheres, fases de menor interesse sexual ou atratividade física, como ocorre na gravidez e menopausa, produz redução da autoestima, aumentando a insegurança e a ocorrência do ciúme patológico.
Por se tratar de uma condição mórbida o portador de ciúme patológico deve sempre procurar tratamento médico e psicossocial, só assim estas pessoas podem se recuperar. A utilização de medicamentos é uma estratégia importante especialmente quando este ciúme é secundário a outros transtornos mentais: dependência de drogas, alcoolismo, depressões graves, quadros psicóticos esquizofrênicos etc. As psicoterapias se constituem armas poderosas na recuperação destes enfermos especialmente as terapias-cognitivo – comportamentais - TCC.
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