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COLUNA

Ruy Palhano
Ruy Palhano é médico psiquiatra.
RUY PALHANO

Movimentos de solidariedade em momentos de crise

A solidariedade é, indubitavelmente, um dos mais nobres e importantes sentimentos humanos.

Ruy Palhano

A solidariedade é, indubitavelmente, um dos mais nobres e importantes sentimentos humanos. Corresponde a uma ação benemérita, benevolente de alguém para com o outro, sobretudo, quando esses se encontram em situações de necessidade, sofrimento e dor. É uma das maiores expressões de bondade ao próximo e uma das mais importantes formas de nos desprendermos de nós mesmos e de nossos mais profundos interesses.

Franz Kafka, escritor de língua alemã, dizia: a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.  É uma expressão, em que o pensador demonstra uma enorme grandeza espiritual e afetiva, destacando a solidariedade, como algo de valor máximo. Digo, sempre, que solidarizar-se é alcançar as pessoas em seus maiores níveis de precisão e necessidade. A solidariedade é extensão da gentileza, da benevolência, do amor ao próximo, do carinho e da amizade e exige de todos desprendimentos de si mesmo em sua consecução. O solidário é desprendido, altivo, bondoso e generoso. 

A palavra solidariedade indica a qualidade de solidário é um sentimento de identificação em relação ao sofrimento dos outros. Tem origem no francês solidarité que também pode remeter para uma responsabilidade recíproca.  Em Dicionário Etimológico Nova Fronteira, solidar – solidariedade - solidário, remete a sólido que tem consistência, que não é oco ou que não se deixa destruir facilmente. De fato, as atitudes de solidariedade são, em geral, firmes, decididas e fortes e provém de atitudes de quem é grande, firme e forte. 

Dalai Lama, líder espiritual do Tibete 'mestre', 'guru', e várias vezes referido como possuidor de um "Oceano de Sabedoria", destacando a importância de gestos de solidariedade, diz: Quando a sua ajuda aos semelhantes é fruto de motivação e preocupação sinceras, isso lhe traz sorte, amigos, alegrias e sucesso. Se você desrespeita os direitos dos outros e descuida-se do bem-estar alheio, acabará imensamente solitário

O que nos diz esse pensador e líder espiritual é que a solidariedade é um meio de demonstrarmos afeição, compaixão, amor e zelo pelo outro na convivência. É a forma de fortalecermos as relações sociais e o bem-estar geral da sociedade. Ser solidário, portanto, é demonstrarmos respeito por alguém e de estabelecermos vínculos forte uns com os outros.

Lamentavelmente, a sociedade contemporânea, há muito tempo, não vinha prezando por isso, pois não demonstrava atitudes solidárias, como condição de realce, nas relações humanas. Pelo contrário, o que ainda se destaca são atitudes egoístas, alheamento social, individualismo, possessividade, egocentrismo, desinteresse pelo social, e indiferentismo, etc. Tais atitudes colaboravam para a desarmonia, para os conflitos sociais profundos, para o afastamento das pessoas e para a desagregação progressiva dos valores e dos seres humanos. 

As relações humanas antes da pandemia, estavam se precarizando, com uma velocidade estratosférica, levando-nos, inexoravelmente, ao isolacionismo pessoal e social, para o egoísmo e para o egocentrismo. Esse movimento de indiferença social nos leva a crer que somos “o centro do mundo". Esse pragmático egocêntrico, reforçava a vaidade, a arrogância, a onipotência, condições muitos comuns e presentes nos dias atuais.

Parece que este corona vírus, com toda sua imponência e poder destruidor, estimulou em nós as práticas de solidariedade, de bondade e de compaixão, uns pelos outros, tanto que essas atitudes passaram a se sobressair no curso da pandemia e está se espalhando pelo mundo afora. As redes sociais, estão repletas de ações benevolentes, de campanhas de ajuda ao próximo e de cooperação mútua. As instituições e pessoas, individualmente, estão a todo momento se solidarizando umas com as outras, no sentido de ajudar outras pessoas, especialmente, para os mais necessitados.

Esse mesmo vírus, tão pequeno e imponderável, mesmo não podendo vê-lo, tem uma capacidade gigantesca de nos adoecer e de nos matar, paradoxalmente, é ele que nos faz refletir sobre a empáfia, a arrogância, a vaidade e o egoísmo, atitudes perversas que em tempos anteriores fazia parte de muita gente, como o legado de uma sociedade desajustada e desagregada. 

O vírus e toda essa situação que o rodeia, paradoxalmente, nos fez enaltecer e renovar nossa fé em Deus, nos aproximou mais de práticas religiosas, das orações, dos cultos, da meditação e da sagrada missão de agradecer a Deus o Dom e a importância da vida. Despertou em nós mais convicção da bondade e a proteção da saúde. Possibilitou voltarmos mais nossa atenção para dentro de nós mesmos, dos nossos entes queridos, da nossa família e dos que nós amamos. Condições essas, que estavam sendo vilipendiadas, desprezadas e desvalorizadas nos tempos modernos. 

Esse mesmo vírus, realçou também a nossa impotência, nossas debilidades, fragilidades, pois ao mesmo tempo que somos capazes de enviar homens para a lua e para outros planetas, de construirmos tecnologias altamente avançadas e sofisticadas com distintas aplicações, de avançarmos na ciência e na tecnologia e darmos um passo gigantesco na era da informação e da comunicação, somos incapazes de enfrentar e controlar um inimigo que o vemos, que de tão pequeno e tão leve, flutua. 

Considero, portanto, o grande legado dessa pandemia, apesar das grandes perdas e danos que ela vem causando o renascimento da solidariedade humana, o ponto mais alto. Alguém imaginou, que empresas como os bancos ITAU, Bradesco e Santander e muitos outros bancos e muitas outras grandes empresas de grande capital econômico, pudessem estar juntos, sem as históricas e ferrenha competição pelo mercado financeiro? Grandes condomínios, as favelas, os morros, em rede, dando uma grande demonstração de solidariedade humana. Torçamos, para que no-pós pandemia, essas atitudes de solidariedade se consolidem e se expanda muito mais ainda.

Eis, o nosso grande desafio, manter essas grandes conquistas como elementos fundamentais para a vida humana. Somos seres, eminentemente sociais e a solidariedade e a maior demonstração desse pressuposto. A liberdade, a solidariedade, o livre arbítrio, a responsabilidade e a promoção do bem-estar coletivo, fazem parte de nossas entranhas e delas não deveremos nos afastar. O que faremos depois da pandemia, o que seremos depois da pandemia e que mudanças em nossos “modus vivende” irá ser ocorrer, não sabemos ainda. Pessoalmente, espero que ao sairmos de toda essa tragédia, construamos um mundo melhor e mais fraterno, baseada na solidariedade e no respeito ao outro.

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