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COLUNA

Dr Hugo Djalma
Médico nutrólogo e neurocientista
Dr Hugo Djalma

No fundo todos queremos ser julgados

Tudo que fazemos, inclusive divagando, é voltado para a sobrevivência individual ou de sua tribo, em especial a prole genética.

Dr Hugo Djalma

Atualizada em 12/04/2024 às 10h50

Você pode nem aceitar, dizer que prefere viver sozinho, que não liga para a opinião dos outros. Pode dizer que é plenamente “autêntico”, forte o bastante para não sofrer se alguém falou de você ou que não liga quando é rejeitado. Mas infelizmente sua regulação emocional precede você e não funciona assim como você pensa.

O homo sapiens, e até mamíferos e outros animais, fomos selecionados por cérebro “intuitivos” que usamos majoritariamente como nossos guias de sobrevivência. Ou seja, não pensamos e exercemos exatamente nosso comportamento como máquinas programadas.

É claro que há homens que se consideram superiores e que acham que controlam tudo sobre suas decisões, pensamentos, reações e atitudes. Mera inocência, nem mesmo a natureza de seus pensamentos ou seu foco atencional neste momento lendo este artigo são guiados por seu controle mental.

Seu cérebro está exatamente agora tentando presumir as próximas palavras do texto e sua memória está unindo cada pedacinho lido para formar novas conclusões e adicionar com coisas que você já viveu para seu resumo final. E isso acontece involuntariamente. Você faz previsões o tempo todo.

Na verdade, tudo que fazemos, inclusive divagando, é voltado para a sobrevivência individual ou de sua tribo, em especial a prole genética. Quando você não está pensando em nada, ainda assim, seu cérebro tem áreas ativadas que calculam seus ambientes. O que chamamos de modo padrão.

E dentre destes cálculos, há prioridades a serem respeitadas. O primeiro atributo é seu cérebro ter consciência de sua existência, ser possuidor de si, e que calcule e adapte tudo (até mesmo as células) para se antecipar aos eventos. Sempre preferindo evitar riscos que buscar recompensas.

A segunda mais importante habilidade de sobrevivência é a coletividade. Sim, ter tribos fortes significa mais chances de viver e ser protegido. E seu cérebro automático sabe disso há milhares de anos.

Essa coletividade ou vínculo entre seres é tão importante que, em contrapartida, a maior dor que podemos sentir é exatamente da anti-coletividade, ou melhor explicando, da rejeição.

Testes com ratos com afastamentos das mães na primeira semana de vida causam alterações na amígdala cerebral (onde fica memória do medo) e até na memória explícita (hipocampo) dos animais.

Portanto, há um necessidade que nos precede: sermos notados ou, “existidos”.

Em 1966, na Romênia, um ditador criou leis para aumento da população de forma descontrolada achando que seria o meio para o crscimento do país. Proibiu contraceptivos, camisinhas, criminalizou aborto e até impostos para quem não engravidasse. Após alguns anos havias centenas de orfanatos com crianças abandonadas e, décadas depois, sequeladas com transtornos mentais. Mostrando que a afetividade humana é obrigatória para a estabilidade mental e sua importância para a sobrevivência.

Tudo isso para entendermos que o vínculo humano pesa em nossas conclusões sobre nós mesmos por mais forte que você seja.

Testes com ressonância funcional mostram ativações de áreas cerebrais da recompensa quando somos positivamente julgados ou tratados com justiça. Em contraposição há ativação de áreas de dores como a ínsula anterior e amígdala cerebral quando tratados mal ou quando julgados negativamente.

Acredite, você quer ser julgado e faz de tudo para que seja positivamente, mesmo da forma errônea que seu cérebro calculou.

Ser objeto de julgamento é precedido de uma necessidade maior: ser vinculado à existência!! Falem mal de mim, mas falem de mim, tem fundamentação neurocientífica.

Por isso você verá sapiens, de forma subconsciente, calculando troféus em seus ambientes e fazendo coisas que não entendemos. Comprar um relógio no preço de um carro, se submeter a drogas ou álcool para ter créditos na tribo que tenta fazer parte, tatuar o corpo inteiro ou até mesmo estimar os padrões de comportamentos adequados em um local e ferí-los sob argumento de serem vítimas de preconceito. Tudo isso para existir.

Mas todos, sem exceção, tomaram suas decisões por cálculos que envolvem sua existência naquele ambiente relacionada a dos outros. Dificilmente um vegano se preocupa realmente com os animais. Sempre será a própria existência recalculada para atrair “vínculos”.

Quando a balança entre “existir” e ser julgado positivamente estão em disputa, sempre o primeiro prevalece. Por isso você verá adolescentes atirando em escola matando inocentes ou obesos mórbidos defendendo “aceitação” nas redes sociais na “luta” contra os padrões. Balela, você precisa “existir” e isso sobrepõe a razão. Ainda que chame atenção por julgamentos negativos.

Por fim ser julgado é uma necessidade consequente de outra; existir no meio dos seus semelhantes! Seu cachorrinho pula em cima de você chamando atenção porque simplesmente tem essa mesma necessidade emocional.

Assim, entenda quando seu amigo briga por razão fútil ou sua esposa grita por nada, ou seu filhinho chora sem saber explicar que você trabalha muito e não tem tempo com ela. Tudo era sobre a própria existência em relação a você.

O caminho para entendermos a consciência afetiva é raso e você dificilmente saberá nitidamente quando os vínculos foram feitos por uma carência prévia ou por interesses lícitos, ou ilícitos. Saiba ler as entrelinhas, elas geralmente têm mais significados que o próprio texto. A linguagem comportamental sempre precede a linguagem verbal e, no fundo, todos queremos ser julgados.

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