(Divulgação)

COLUNA

Curtas e Grossas
José Ewerton Neto é poeta, escritor e membro da Academia Maranhense de letras.
Curtas e Grossas

Em defesa de Machado de Assis (o natural )

Será que o grande Machado de Assis precisa de alguém que o defenda?

José Ewerton Neto

Será que o grande Machado de Assis precisa de alguém que o defenda?

Huummm!... Pela lógica não deveria ser, mas, nesses tempos bicudos que correm, vai ver que até o velho e bom Machado.

Acontece que a bem-intencionada Academia Brasileira de Letras  inaugurou um Machado de Assis artificial para quem visitar a sua sede com a intenção de bater um papo e interagir com o mesmo. 

Fantástico, não é? Feito com IA e tudo, teria tudo pra dar certo. Porém,  muita gente saiu reclamando e eu,  mesmo sem ter ido lá,  devo dizer que sou mais o Machado natural.  E explico por quê:

1.O Machado de Assis artificial é branco.

Pois é. Isso mesmo. Esbranquiçaram o homem. Como se ele fosse um Michael Jackson, artista como ele, que fazia o diabo para esbranquiçar sua pele. 

Está certo que Machado negava a cor de sua pele também, como Michael, e fazia tudo para não parecer preto de jeito algum. Porém, pensando bem, talvez devesse lá ser tuas razões. Estávamos no início do século passado, o preconceito era enorme e estava no auge. A discriminação estava disseminada na classe rica e intelectual que ele almejava e na qual estava inserido. Que mal havia em mandar colorir suas fotos para a posteridade exagerando na coloração branca?

Mas claro que não fica bem, hoje, com tanto  movimento de conscientização contra o racismo  a ABL dar uma de Michael Jackson e inaugurar,  com tecnologia e tudo,  um  Machado de Assis branquelo, negando sua cor original. 

Viva Machado de Assis. O negro!

2.O Machado de Assis artificial só fala clichês.

Como se fosse um autor  de autoajuda. Lá está o velho e bom Machado, outrora tão sutil e irônico, respondendo obviedades, ao sabor de uma IA da qual falam maravilhas , mas que, na prática,  só sabe empurrar, em termos artísticos, repetições para otários.  Pobre Machado! Se pudesse saltaria do túmulo para reclamar. 

E, pior, com um sotaque empostado de gaúcho morando no Nordeste que parece uma mistura de Galvão Bueno com William Bonner, deturpando sua fala original de carioca.   

É fácil concluir que se algum de seus leitores quiser mesmo bater um papo com Machado de Assis é mais vantajoso ir até seu túmulo e fazer uma oração. 

Claro, lá estarão apenas seus ossos e, possivelmente, sua alma. Mas serão, pelo menos, do verdadeiro Machado de Assis. 

 

As opiniões, crenças e posicionamentos expostos em artigos e/ou textos de opinião não representam a posição do Imirante.com. A responsabilidade pelas publicações destes restringe-se aos respectivos autores.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.