A fome e o Maranhão
Já dizia a escritora Carolina Maria de Jesus em seu diário, em 1955, “a fome é a escravatura atual”.
Segundo o resultado da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN), a taxa de maranhenses que não têm acesso a alimentos em número suficiente chega a 29,9%. Proporcionalmente, o Maranhão ocupa o sexto lugar entre os estados em que há o maior número de pessoas passando fome no país, atrás dos estados de Sergipe (30%), Pará (30%), Amapá (32%), Piauí (34,3%) e Alagoas (36,7%). Em todo o Brasil, 33,1 milhões de pessoas se encontram em situação de fome, de acordo com a pesquisa.
Essa pesquisa considerou três tópicos importantes: insegurança leve, relacionada à incerteza quanto ao acesso à alimentação em curto prazo, com possibilidade de comprometimento na realização de refeições; insegurança moderada, cujos alimentos são considerados de baixa qualidade, em proporção incompatível ao número de familiares, e grave, quando ninguém acessa alimentos em quantidade suficiente e passa fome. Esses números foram coletados entre os meses de novembro de 2021 a abril 2022, a partir de realização de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal.
A Semana Mundial de Alimentação aconteceu com o Tema: ÁGUA É VIDA, ÁGUA NUTRE- NÃO DEIXAR NINGÉM PARA TRÁS. A pergunta é: o que aconteceu na vida dessas pessoas que acabaram sendo esquecidas, sobretudo o povo afrodescendentes, pretos, pobres famintos do Maranhão? Esses nos trilhos, nas BRs, nas estações rodoviárias, nos lixões e/ou encostados nos velhos casarões espalhados pela Ilha onde seus antepassados construíram? Acredito que a ramificação da árvore do esquecimento em que colocavam os negros para esquecer sua história, cresceu de uma outra forma. E tem muita gente ainda para trás. Esse povo continua esquecido no submundo catando o que comer.
A ÁFRICA É AQUI NO MARANHÃO. De acordo com o IBGE de 2022, quase 1,5 milhão de maranhenses lutam diariamente para ter o que comer ou qualquer tipo de alimento. Ainda com suas contradições, no entanto, há um esforço gigante por parte do Conselho Estadual de Segurança Alimentar, através dos seus conselheiros para que aconteça as políticas públicas no âmbito da insegurança alimentar no estado. Uma política de fortalecimento e monitoramento das ações de segurança alimentar. É possível destacar que as experiências no estado são exitosas, no que tange ao avanço crescente de 2 Restaurantes Populares e com o crescimento de municípios já possuindo o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional. O maranhão tem sido essa referência. Há um esforço de Todos Nós. Mas o Brasil, continua sendo um dos países desiguais do mundo.
Já dizia a escritora Carolina Maria de Jesus em seu diário, em 1955, “a fome é a escravatura atual”. E digo que esse diário da escritora poderia fazer referência ao passado colonial e escravista, mas não. No ano de 2022, a fome atingia 65% dos lares da população negra do Brasil. Isso ainda é escravidão! Posso parecer piegas, mas os aumentos dos preços de alimentos têm levado às mudanças de hábitos, sobretudo em famílias de baixa renda da população afrodescendentes, levando ao abandono das culturas alimentares. O desafio é o incentivo à produção e ao consumo de alimentos agroecológicos e de promoção à saúde.
Ressalto que é necessário cada vez mais o investimento na produção de alimentos e a geração de renda para a população do Maranhão e sobretudo a mais pobre e preta desse estado. Porque a FOME DÓI e é uma verdadeira arma política, econômica, religiosa e social. É um direito básico do ser humano a COMIDA na MESA de homens e mulheres. E culmino ao pensamento de nosso Escritor JOSUÉ DE CASTRO em que dizia no seu livro a GEOGRAFIA DA FOME: “que a fome não era um problema, isto, não dependia nem era resultado dos fatos da natureza- ao contrário, era fruto de ações dos homens, de suas opções, da condução econômica que davam a seus países”, portanto, a fome é uma questão política.
A Árvore do Esquecimento NUNCA MAIS!
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