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COLUNA

Dr Hugo Djalma
Médico nutrólogo e neurocientista
Dr Hugo Djalma

Por que o mundo está engordando?

A inflexão ocorre quando a indústria alimentícia muda os interesses; outrora para a sobrevivência, agora para o lucro. Eis a mudança de direção. Vender é o que interessa mesmo que para isso haja prejuízos à saúde.

Dr Hugo Djalma

Desde a existência de nossa espécie sapiens, na verdade, bem antes mesmo, o maior reforçador relativo de nossa existência sempre foi o alimento. Em maranhês fica melhor de entender que fazemos questão mesmo é de comer e garantir que não vai nos faltar.

Éramos nômades praticamente coletores de frutas, tubérculos e caçávamos animais. E isso por milhares de anos. Conseguimos criar ferramentas, distribuir tarefas, dominar o fogo para proteção, cozimento e iluminação, aprendemos agricultura, pecuária e pesca, estocamos alimentos e tudo para uma vida em local fixo sujeitando-nos a outras formas de comportamento coletivo.

Desde a revolução agrícola, há mais de 10 mil anos atrás, até meados do século passado, diga-se mil e novecentos e tanto, um trabalhador que viajasse no tempo conseguiria facilmente um emprego, seja como ferreiro em Roma 300 d.c ou como cuidador de animais nos pastos de feudos da baixa idade média na Inglaterra.

Acontece que após a revolução industrial, cerca de 150 anos atrás, até dias atuais, estamos progressivamente, a passos largos, mudando nossos meios coletivos de sobrevivência. E isso não combinou com a adaptação evolutiva de nossa vida.

Alguém que cuidou de plantações nas terras egípcias na invasão macedônica hoje não conseguiria nem estágio em supermercados ou na própria área agrícola por nunca ter visto a tecnologia essencial da vida moderna com eletricidade, internet e redes sociais.

Então conseguimos ir mais longe, cozinhamos, congelamos vegetais, pasteurizamos o leite, salgamos a carne e outros vários processos de manipulações alimentares que nos permitiram viajarmos geograficamente, prepararmo-nos para escassez, ganhássemos tempo de cozimento e até melhorarmos algumas qualidades nutricionais.

A inflexão ocorre quando a indústria alimentícia muda os interesses; outrora para a sobrevivência, agora para o lucro. Eis a mudança de direção. Vender é o que interessa mesmo que para isso haja prejuízos à saúde.

O mesmo cérebro que conseguiu diminuir os esforços para mais recompensas, que buscava frutas e tubérculos como fornecimento imediato de energia e que age mais pela facilidade de acesso do que pela razão agora encontra-se nas suas próprias crateras de adaptação no decorrer da evolução: o excesso de sucesso.

Enquanto um quilo de cereais equivalia a duas horas de trabalho no século XVIII, hoje, na vida urbana, corresponde a 5 minutos de vida ocupacional. Bastam alguns cliques e sua refeição de 2000 calorias chega na porta de casa em alguns minutos. Basta deitar-se no sofá e esperar.

O cérebro resolve problemas, mas quase sempre cria colaterais de mesmas proporções. Facilitar a vida humana não contava que nossa natureza fosse selecionada desejando sempre mais; e de forma insaciável. Na década de 60 o tempo gasto preparando o jantar no Reino unido passou de 1,5 horas para 30 minutos. O mesmo aconteceu com a invenção da máquina de lavar roupas e depois de louças.

Desde então as facilidades domésticas deram maior tempo livre e modificaram completamente a forma de vida social e familiar. Esquentar comida no forno ou micro-ondas permitiu refeições sem rituais com entes familiares e gastar as horas livres vendo televisão ou celulares virou praticamente uma regra.

Eis a convergência dos focos atencionais das populações. A centralização de opiniões, valores, regras, moedas sociais e venda de produtos. A mídia concentrando um poder outrora inexistente.

Agora temos nós sapiens sem necessidade de muitos esforços para aquisição de muitas calorias para a sobrevivência. Um cérebro que sempre preferiu recompensas ao máximo possível, que modificou severamente os alimentos para ingesta a sua conveniência e palatabilidade e um corpo selecionado estocando energia em forma de gordura e sedento por carboidratos com fontes imediatas de energia. Bem-vindo à era do fast food, a explosão da obesidade.

Assim conseguimos entender as predileções a que estamos submetidos entre facilitar a vida moderna e preencher as preferências e necessidades selecionadas por milhares de anos. Tendemos a perder quase sempre.

O livre arbítrio é uma ilusão e os sapiens não diferem tanto seus comportamentos de outros primatas. Nestes tempos de mudanças globais haverá repercussão na saúde global mesmo que tente haver conscientização. Suas atitudes são praticamente tomadas pelo cérebro e você apenas as interpreta com sua mente. Portanto, direcionar sua automatização de hábitos de forma racional para saúde física e mental é o melhor caminho seus úteis resultados. Seu destino agradece.

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