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COLUNA

Dr Hugo Djalma
Médico nutrólogo e neurocientista
Dr Hugo Djalma

Neurociência do emagrecimento

A neurociência estuda basicamente o funcionamento do cérebro, na sua natureza de sobrevivência. Aliada à psicologia, vemos que toda a medicina ainda hoje trabalha com meios em que o paciente não emagrece, mas sim, que seja emagrecido.

Dr Hugo Djalma

Atualizada em 23/06/2023 às 10h21

No congresso internacional de nutrologia de 2023, no Albert Einstein em São Paulo, houve muitas novidades sobre medicamentos no combate à obesidade. Palestrantes internacionais, estudos científicos, experiências de vários estados e de alguns países, tudo visando manejar ou tentar diminuir a progressão desta doença inflamatória crônica que cresce cada vez mais no mundo.

Porém interessante mesmo foi a ausência da pergunta que busca realmente a cura definitiva da obesidade e não apenas o uso de inibidores de apetite: como pensa alguém depois que perde vários quilos?

A neurociência estuda basicamente o funcionamento do cérebro, na sua natureza de sobrevivência. Aliada à psicologia, vemos que toda a medicina ainda hoje trabalha com meios em que o paciente não emagrece, mas sim, que seja emagrecido.

Sempre houve terceirizadores de culpas e o mercado deu seu jeito de ganhar com isso. Foi assim com a sibutramina, ozempic, venvanse ou tizerpatide (você ainda nem ouviu falar nesse). É assim com balões gástricos, cápsulas deglutiveis, bariátrica sleeve ou y de roux. Todos são meios de “castrar”, seja farmacológica ou anatomicamente, a possibilidade de comer em excesso.

Mas quando a Maria emagrece, ela com 15 quilos a menos não pensa mais no bolo com aquele desejo que tinha. Na verdade, ela até estraga o bolo no prato porque a recompensa dela não é mais passageira, aquela dopaminérgica que depois traz a conta na balança. A recompensa dela passou a ser a sua autoestima, o modo de como ela se ver.

O maior medidor no sucesso na perda de peso não é quanto você perdeu, mas sim com que elementos psicológicos você encarou a jornada do déficit calórico.

Pacientes decididos (de-cisão vem do latim caedere que é cisão) já têm em mente que abrirão mão de gratificações imediatas sem qualquer arrependimento sobre não comer doces ou beber a cervejinha de final de semana.

Quando você começa dietas ritualísticas de internet ou toma a fórmula que a cabelereira indicou, você só inibiu seu apetite como um sintomático, mas nada fez para você ser a garota que usa um top ou camisa de alça pelo tempo que quiser. 

O pior mesmo vem quando a mente elege automaticamente a dieta como um sacrifício temporário e exige um resultado baseado somente no seu achismo, sem qualquer noção profissional. Está instalada a gangorra da frustração, quando você faz sacrifícios e ver a comida que o engordou como a amiga distante que agora tem saudade. 

Todo cálculo de esforço da sua mente exige uma resposta, um prêmio pelo que fez. Agora imagina seu cérebro ver no google histórias cabulosas de perda de 15kilos em um mês e usar isso como referência. 

Bem-vindo ao mundo real, onde o virtual falacioso dita as regras.

Por fim vem o ponto mais paradoxal de todos: a desfeitura de tudo construído.

Imagina que você trabalha e no final do ano viaja como recompensa de um ano de muito trabalho. 

Agora imagina você guardar dinheiro e no final do ano gastar tudo que guardou para comemorar por ter guardado. Perdeu sentido, né!!

É exatamente o que você faz quando abre mão de tudo que o engordou e resolve comemorar a dieta comendo... Exatamente os vilões que o engordaram!!! Contraditório, mas muito comum.

Mas há caminhos sólidos e castelos que podem ser construídos na rocha da vida saudável. Basta trabalhar a mente para isso. E a neurociência te ajudará.

Redistribua seus valores e saia do ciclo. Aliás, existe uma enorme conexão da obesidade com transtornos de ansiedade e compulsão alimentar. Portanto, procure algum profissional que seja além de prescritor de rituais de anorexia com medicamentos. A forma como a neurociência faz você vê treinos e autocuidados é tão importante quanto redesenhar sua rotina e seus horários de refeições.

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