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COLUNA
Euges Lima
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
Euges Lima

Vinte anos sem Mário Meireles

Lembro-me que em 2001, dois anos antes do seu falecimento, assisti a uma palestra do professor Mário Meireles na Academia Maranhense de Letras, foi uma das poucas vezes que o vi pessoalmente.

Euges Lima

Há vinte anos, no dia 10 de maio de 2003, falecia em São Luís, o historiador e professor universitário ludovicense, Mário Martins Meireles, aos 88 anos. Ele nasceu no dia 8 de março de 1915. Foi um historiador que marcou uma época, nas letras, na historiografia e no meio universitário maranhense, sobretudo na Universidade Federal do Maranhão, onde exerceu por longos anos a docência no Curso de História e foi um de seus fundadores.

Lembro-me que em 2001, dois anos antes do seu falecimento, assisti a uma palestra do professor Mário Meireles na Academia Maranhense de Letras, foi uma das poucas vezes que o vi pessoalmente, era um Ciclo de Palestras promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Eu era recém-graduado em história pela Universidade Estadual do Maranhão, tinha colado grau no ano anterior e fazia um curso em nível de especialização pela mesma Universidade. O auditório da Academia estava repleto, principalmente de jovens estudantes, ansiosos para ouvir o lendário professor Meireles.

Nessa época, ele já bem idoso, porém bastante lúcido e ativo, era uma das atrações principais do evento. Meireles fazia uma palestra descontraída, cheia de tiradas bem-humoradas, que arrancavam gargalhadas do público e prendia sua atenção. Era uma característica dele, o senso de humor em suas entrevistas e palestras. Nesse dia, contou  sobre a ocasião em que certa vez, foi participar de um evento sobre a história da medicina no Brasil – Meireles escreveu sobre a história da medicina no Maranhão −, e lá estavam vários médicos, pesquisadores da história da medicina, especialistas nas mais diversas áreas. Um deles se aproximou de Mário Meireles, e perguntou acerca de sua especialidade médica, o que Meireles retrucou, “sou clínico geral!”. Esse era seu estilo, falava de coisas sérias, com pitadas de humor, característica dos bons palestrantes.

Mário Meireles se tornou um dos historiadores maranhenses mais conhecidos do século XX, principalmente a partir da segunda metade. Teve uma longa carreira como professor, historiador e acadêmico, sendo membro da Academia Maranhense de Letras, do Instituo Histórico e Geográfico do Maranhão, sócio correspondente da Academia Paulista de Letras, sócio correspondente do prestigioso Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, além de outras agremiações. 

Para entrar na Academia Maranhense de Letras, Meireles foi incentivado pelo professor Mata Roma − seu grande amigo −, a se inscrever a uma vaga. Tinha 33 anos quando foi eleito para cadeira de nº 9, patroneada por Gonçalves Dias e curiosamente, em que pese ele já vinha publicando artigos em jornais, era professor de História Universal do Colégio Cisne, além de ser um voraz leitor de livros de história, Meireles é eleito para a AML, sem ter nenhum livro publicado. É a partir de sua entrada na Casa de Antônio Lobo que Meireles inicia sua produção literária com a publicação de seu discurso de posse: O Imortal Marabá em 1948. Um opúsculo, considerado seu primeiro livro publicado.

A partir daí, nos anos seguintes, o jovem acadêmico, vai publicando alguns opúsculos, em sua maioria, frutos de palestras e conferências proferidas por ele. A exemplo de “Ana Amélia e Gonçalves Dias”, (1949) e “José do Patrocínio”, (1954). Até que em 1955, publica o seu primeiro livro importante: “Panorama da Literatura Maranhense”. Três anos depois, no cinquentenário da AML, em coautoria com Arnaldo Ferreira e Domingo Vieira Filho, publica “Antologia da Academia Maranhense de Letras”, (1958). Portanto, Meireles, começa sua carreira como historiador da literatura maranhense. Finalmente, em 1960, publica a sua “História do Maranhão” pelo DASP, Rio de Janeiro. Este trabalho, o consagra como historiador, pois é o primeiro livro publicado com esse caráter de abarcar toda a história do estado, uma espécie de manual de história, desde “História do Maranhão” de Barbosa de Godóis de 1904, que já se constituía numa raridade, portanto, nesse sentido, Meireles, preenche essa lacuna didática, essa carência bibliográfica e vira referência.

Embora tradicional na forma de escrever sobre história, fazendo uma história positivista, mas como o historiador é filho do seu tempo, Mário Meireles deve ser analisado dentro das possibilidades e referências historiográficas que o influenciaram e que estavam ao seu alcance. Não obstante, ele se notabilizou como historiador, por contata da sua vasta e variada produção bibliográfica, não se restringindo a estudar apenas um tema, mas estudando e publicando dezenas de trabalhos durante sua longa carreira, sobre os mais diversos e principais temas da história do Maranhão, “clínico geral”, como ele brincava, se constituiu em referência obrigatória a quem se propunha a pesquisar e escrever sobre a história do estado. 

 

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