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COLUNA

Euges Lima
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
EUGES LIMA

Um Inconfidente em São Luís

Ao se mudar para o Maranhão, Silvério do Reis, assina acrescentando o sobrenome Montenegro, que era do seu pai, como já havia fazendo desde 1795, quando residia em Campos do Goitacazes, provavelmente para disfarçar sua identidade.

Euges Lima

Qual seria a ligação histórica entre o Maranhão e a Conjuração Mineira de 1789? Que ficou mais conhecida pela historiografia tradicional como Inconfidência Mineira, porque acabaram assimilando a expressão oficial da Coroa portuguesa, dos autos da devassa (processo), imputando aos conjurados a acusação de inconfidentes, ou seja, traidores. 

Hoje, os historiadores, com toda razão, preferem o termo conjurados, conjuração... A rigor, a adoção dessa nova terminologia para esse movimento, tão emblemático da história do Brasil e um dos principais temas da nossa historiografia, não é tão nova assim. Por exemplo, no livro clássico, um dos primeiros trabalhos sobre o tema, publicado em 1873, escrito pelo historiador, intelectual, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Joaquim Norberto, já trazia o seguinte título: “História da Conjuração Mineira”.

Feito esse preambulo e essa questão provocativa inicial, para tentar atrair a atenção do leitor, a resposta é que não há, evidentemente, nenhuma ligação histórica entre os eventos de 1789 nas Minas Gerais e o Maranhão nesse período. No entanto, de alguma forma, o Maranhão vai se ligar com a história de um dos seus inconfidentes, anos depois. Estamos falando da vinda e estada do inconfidente delator, Joaquim Silvério dos Reis em São Luís do Maranhão.

Mesmo vários anos após os episódios da delação de 1789 em Minas Gerais, Rio de Janeiro e a execução de Tiradentes, Silvério dos Reis, ainda não tinha ambiente favorável para habitar nessa região, por isso, a indicação ou escolha pela Capitania do Maranhão, pois era uma região distante, que possuía uma grande e poderosa colônia portuguesa, mais ligada à Portugal que ao Rio de Janeiro.

Ao se mudar para o Maranhão, Silvério do Reis, assina acrescentando o sobrenome Montenegro, que era do seu pai, como já havia fazendo desde 1795, quando residia em Campos do Goitacazes, provavelmente para disfarçar sua identidade. Silvério foi transferido para São Luís entre 1808 e 1809 no cargo de Coronel de milícias com soldo e pensão pagos pelo Tesouro da Capitania do Maranhão, tinha 53 anos, veio acompanhado do seu filho primogênito e homônimo, nascido em Campos dos Goitacazes e sua esposa, Bernardina Quitéria dos Reis, com quem se casou em 1790, após sua delação, quando ela tinha apenas 10 anos.

Aqui, ainda teve mais dois filhos com d. Bernardina, conforme registros em Assentos de Batismos, o Luiz dos Reis Montenegro, nascido em 1811 e o José dos Reis Montenegro, nascido em 1814, este, teve como padrinho o Doutor Físico Mor Antônio José da Silva Pereira, o lendário proprietário do Sítio Santo Antônio da Alegria (Sítio do Físico) e como madrinha, d. Vicência Rosa, casada com o Tenente Coronel de Milícias Isidoro Rodrigues Pereira, influente e rico comerciante, político que depois de viúvo, iria casar-se com Ana Jansen. 

No Maranhão, Silvério dos Reis, em requerimento, encaminhado a D. João VI, então Príncipe Regente, expõe seus problemas de saúde e velhice e a condição de habitante em terra estranha e sem bens, alegando que não teria mais muitos anos de vida, solicita então a sua Majestade que após sua morte, mantenha para sua mulher e filhos, a pensão anual de 400 mil réis que recebia do Tesouro do Maranhão, pedido recusado pelo Príncipe de próprio punho, mas após a morte do delator, foi reconsiderado. 

Silvério dos Reis faleceu em São Luís em 17 de fevereiro de 1819, aos 63 anos, foi sepultado na Igreja de São João Batista, com todas as honras, os sacramentos e vestido no uniforme com o manto da Ordem de Cristo. Após sua morte, sua esposa e filhos retornaram ao Rio de Janeiro. Com a reforma da Igreja de São João em 1934, seu túmulo ficou desaparecido e até hoje não sabemos o seu paradeiro.

 

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