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COLUNA

Aline Alencar
Jornalista e mestranda em comunicação pela UFMA.
Aline Alencar

DE UM EXTREMO A OUTRO: Casos Realengo, Suzano, Blumenal, Vila Sônia. Qual a próxima escola escolhida?

Parece alarmismo, mas, talvez, ataques podem ser uma crescente preocupante

Aline Alencar

Atualizada em 05/05/2023 às 15h24

Neonazismo, bullying, negligência familiar, autoritarismo parental, fatores psicológicos sem acompanhamento, efeito manada, busca pela fama e sensação de pertencimento. Junte tudo isso em uma panela e crie a combustão perfeita para uma sequência imprevisível de ataques motivados pelo ódio. 

Estes são os elementos já observados por pesquisadores que podem contribuir e se encaixar no perfil de jovens que premeditam assassinatos em escolas que, em sua maioria, têm sido as principais vítimas disso.

Os números, que não enxergam pessoas, parecem poucos, mas a crescente é evidente. E isso não é mero achismo, mas uma previsão, analisando os últimos dados sobre os casos. O aparente alarmismo não é à toa, embora, muitas vezes, a mídia nacional e regional trate com exagero, se alimentando a todo momento de possíveis relatos de ataques, que não se sabe se são mesmo verdade.

Porém, segundo um estudo realizado, ainda neste ano, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), relatado na íntegra pela Agência Brasil (VEJA AQUI), que trata exclusivamente de ataques em escolas, mostra, para os olhos mais atentos, que é uma tendência, no mínimo, assustadora. O estudo, aliás, considera apenas as ocorrências registradas em que os ataques foram planejados com antecedência. 

Desde 2002, foram registradas 22 ocorrências. No total, 30 pessoas foram assassinadas, entre eles 23 estudantes, cinco professores e dois funcionários. O estudo relata ainda que. do total de casos, 13 (mais da metade) estão concentrados apenas nos últimos dois anos. E é aí que mora o perigo.

As cidades e os bairros onde ocorreram esses ataques são as mais diferenciadas; Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Blumenal, Realengo, Vila Sônia, Suzano, entre outras. Fora do estudo citado, aqui em São Luís, dois ataques suspeitos que seriam planejados foram evitados a tempo. Pode ser a qualquer hora, em qualquer cidade. E, mais uma vez, é por isso que o assunto tem causado medo. E com razão.

Como baratas tontas, as pessoas estão procurando culpados. Os debates são os mais variados: fazer ronda escolar, proibir os jovens de ouvirem determinado tipo de música, proibir jogos, proibir isso, proibir aquilo, proibir e proibir. Mas não passa disso, em uma rasa tentativa de solucionar um problema que está na cara de todo mundo, mas ninguém quer ver: a condição em que esses jovens vivem ou viveram (já que alguns se suicidaram após o ato). 

Com pais e mães cansados que mal prestam atenção no que acontece dentro da própria casa, muitas vezes olham com alívio a distração que o mundo virtual proporciona aos seus filhos. E, novamente, não custa reforçar, o perigo mora exatamente aí.

Existe um universo inteiro dentro da rede mundial de computadores e redes sociais que envolve desde inocentes bichinhos fofinhos até páginas e fóruns de grupos neonazistas que procuram exatamente algumas cabecinhas jovens, vazias e frustradas, por aí para estimular o que há de pior nesse discurso que, infelizmente, não morreu de vez, tal qual uma erva daninha. 

Contudo, ainda é muito cedo para afirmar categoricamente que os fatores todos aqui relatados são primordialmente o motivo ou os motivos principais. Mas, é evidente que, Wellington, Guilherme, Luís Henrique, e tantos outros assassinos, têm algo muito em comum. São essas nuances em volta deles e de demais que foram impedidos que contribuem ainda mais para o pânico instalado. 

Já foi o tempo que notícias lamentáveis do tipo eram "coisa dos Estados Unidos", como muitos populares costumavam dizer, pois os massacres já ocorriam há mais tempo e com frequência na terra do tio Sam, como pode ser observado em outro mapeamento, dessa vez, do jornal Washington Post (VEJA AQUI). O estudo apontou 377 ocorrências desde 1999. Lá, também, nos últimos dois anos, houve mais registros, sendo 88, isto é, um quarto do total.

Aliás, o ano de 1999 foi quando Mateus da Costa Meira, “O atirador do Shopping Center”, de 24 anos, à época, usou uma submetralhadora durante uma sessão do filme Clube da Luta, no Morumbi, bairro nobre de São Paulo, matando três pessoas, ferindo mais quatro e deixando 15 em estado de choque. 

A única diferença? Não foi numa escola, mas, coincidência ou não, o primeiro caso registrado de ataque à escola no Brasil, citado no início desse texto, aconteceu três anos depois, em um curto espaço de tempo, revelando, meus amigos, que o buraco pode ser muito, mas muito mais embaixo. A pergunta é: quem está disposto a cavar?

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