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COLUNA

Ruy Palhano
Ruy Palhano é médico psiquiatra.
Ruy Palhano

Viroses, outras doenças e a saúde mental

O maior exemplo de impacto emocional e psiquiátrico de uma virose na população foi o da Covid 19.

Ruy Palhano

Nosso país, está passando por novas ondas de vários vírus os quais vem fazendo um estrago enorme na saúde da população. Os que mais comumente vem se alastrando, atualmente, são: a chicungunha, HPV, o da gripe, dengue entre outros. Nossos estados permanecem de olhos abertos para a COVID-19, muito embora, epidemiologicamente, esteja havendo um declínio acentuado dos indicadores sanitários (transmissibilidade do vírus, morbimortalidade) da doença. Para o controle de toda essa virulência o destaque, do ponto de vista da saúde pública, é que nos vacinemos em massa para estancar os agravos provocados por esses vírus.

Um ponto alto no transcurso destas doenças virais e muitas outras, são os problemas emocionais e psicológicos associados às mesmas, pois, a exemplo do que aconteceu com a pandemia do Corona vírus, onde o estrago psicossocial causados pela Covid-19 foi gigantesco, ante essas viroses atuais e outras doenças crônicas, deveremos também ter esses mesmos cuidados. Nota-se, que assim que foi anunciado para o mundo o advento da pandemia, a OMS tomou os cuidados de anunciar também os cuidados que deveríamos tomar para minimizarem os impactos emocionais e comportamentais da COVID-19.

Temos em nosso país, indicadores muito desfavoráveis do ponto de vista da saúde mental. A OMS nos informa que há no Brasil 50 milhões de doentes mentais, portanto um quarto da nossa população e no mundo 1 bilhão dessas pessoas padecem dessas doenças em distintas proporções.

Mais de 8 milhões de brasileiros, adultos e adolescentes, usaram maconha no último ano. Somos o primeiro país no mundo quanto ao uso de crack e estamos entre os primeiros, no consumo no consumo de outras drogas ilícitas. Quando ao uso de álcool etílico, 65% da população bebe e 10 a 13% são dependentes de álcool (alcoólatras), correspondendo a 17 s 20 milhões desses enfermos. Muitos fatores colaboram para a expressão desse cenário, onde os fatores socioeconômicos, como pobreza, desemprego, violência no campo e urbana, danos ambientais, crises políticas, instabilidade econômica e estilo de vida da população, pesam muito na expressão e carga global desses transtornos.

Particularmente, sobre a violência (urbana e rural) que a cada dia se estabelece entre nós e que cresce invariavelmente em diferentes sentidos na sociedade contemporânea, sabe-se, que direta ou indiretamente, favorece ao desenvolvimento de um clima emocional nas pessoas de tal forma que colabora para o consumo expressivo do álcool e de outras substâncias. 

Os números acima citados, são significativos e demonstram que a saúde mental de nossa população é precária e a qualidade de vida, ainda pior. Se agregarmos, ainda mais, as desigualdades sociais, o desemprego, o subemprego, as taxas enormes de criminalidade, uma população carcerária gigantesca, a corrupção e muitas outras mazelas econômicas, sociais e política, agravarão mais ainda o cenário grave das doenças psiquiátricas.

É nesse cenário que essas viroses e particularmente o Corona vírus se instalam em um país como o nosso com uma infraestrutura sanitária, uma economia e atividades políticas e sociais incongruente e incertas. E é também nesse cenário de incertezas e contradições que desfavorecem a adesão em massa da população, em não se vacinando e não colaborando para o enfrentamento dessas doenças virais. Por isso mesmo é que termos que ter muita prudência, criatividade e bom-senso para não adoecermos mais ainda do ponto de vista emocional e comportamental no curso natural dessas epidemias virais e de muitas outras doenças humanas.

O maior exemplo de impacto emocional e psiquiátrico de uma virose na população foi o da Covid 19. As medidas recomendadas para impedir a transmissibilidade do vírus foram e são muito relevantes, no enfrentamento da situação, porém sabe-se, que também geraram impactos extremamente negativos do ponto de vista emocional, psiquiátrico e comportamental. 

O confinamento social, isolamento social ou afastamento físico, medidas sanitárias impactantes, que foram recomendadas para o enfrentamento do Covid-19 foram recomendações que afetaram profundamente muitas pessoas, tendo em vista que a sociabilidade é um dos mais importantes pilares que garantem o bem-estar físico, mental e social da população. Conviver, é condição fundamental e inata na vida dos seres humanos, somos seres, eminentemente sociais e em sendo alterada essa prerrogativa, seja pelo motivo que for, isso põe-se em risco a saúde mental, social e o bem-estar da população. 

A condição de ir e vir, de circularem entre si, se darem umas às outras, se relacionarem, se abraçarem, se beijarem, se cumprimentarem, são condições absolutamente fundamentais que fazem parte da condição humana. A nossa segurança, a saúde física, psíquica, emocional e social, o nosso bem-estar social dependem, fundamentalmente, dessas prerrogativas e todas essas viroses, em distintas proporções, afetam essas necessidades inatas de todos nós. 

A privação social, mesmo por motivos relevantes, como as que foram recomendadas há três amos atrás, alteram a funcionalidade humana, geraram profundos descontentamentos e frustrações emocionais, pessoais e sociais, que provocaram graves desequilíbrios mentais e comportamentais. Angustia, tristeza persistente, desadaptação social, ansiedade disfuncional, insegurança, retraimento social, depressão, estresse, fobias e muito outros problemas psiquiátricos, emocionais e psicossociais são as formas mais comuns de anunciarmos esses problemas. 

O pavor disseminado de morrer ou de se contrair a doença, o bombardeio de notícias que houve sobre a pandemia do Covid -19, que todos recebíamos pelas mídias, provocaram sensações de mal estar geral, inseguranças e apreensões. A perda do emprego, agravou ainda mais a situação mental da população na época, fato que, por si só põe em risco a saúde mental dos trabalhadores. 

Por todos esses problemas, que em geral se associam às doenças humanas, a exemplo das viroses, temos que ter muito cuidado com nossa saúde em todos os sentidos, especialmente os portadores de canceres, os imunodeprimidos, os alérgicos, asmáticos, obesos, diabéticos, hipertensos se tornam mais inseguros, preocupados e apreensivos, ante situações que favoreçam a contaminação dessas viroses e estes são também as principais vítimas de problemas emocionais e psiquiátricos. 

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