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COLUNA

Kécio Rabelo
Kécio Rabelo é advogado e presidente da Fundação da Memória Republicana Brasileira.
Kécio Rabelo

Sarney, amigo do tempo

Sarney faz 93 anos. Muito mais que ao expoente da política, ao escritor, ao estadista, todo reconhecimento ao José, daqui, ao menino da Baixada, amigo do tempo, que a tantos leva o nome do Maranhão.

Kécio Rabelo

Contar os anos é das invenções humanas mais inquietantes. Os anos não esperam, são impacientes, têm pressa e um olhar quase sempre preso ao futuro, ainda que como anseio de vir a ser; a contagem é sempre dominada pelo tempo, senhor e soberano. Padre Antônio Vieira dizia que “Nem todos os anos que passam se vivem: uma coisa é contar os anos, outra é vivê-los”. Vivemos no tempo - e para um tempo - que corre contra si mesmo. É a roda da vida, a girar destinos.

A história humana é marcada por pessoas que fizeram do tempo um aliado, marcando-o com suas trajetórias e emprestando-lhes de suas biografias. É assim que lemos a história, dando nome aos períodos, significado às datas, comemorando feitos heroicos, *construindo* memórias ou aquela inexplicável coleção de impressões, que são marcos dessa passagem. Há tempo que passa e segue, assim como há tempo que passa e vai deixando marcas e marcos...

José Sarney é desses homens que parecem amigos do tempo e dos marcos que a vida deixa em seu correr, como legado. Sua vocação literária e de homem público testemunham essa ligação de amizade com o tempo. Foi deputado federal, governador do Maranhão, Senador e Presidente da República, conduzindo a transição democrática, - defendida por pesquisadores como Ronald Schneider como “a mais exitosa de todas”. Esta foi, sem dúvida, a maior de todas as suas façanhas e o ápice de sua trajetória política, que o comprometeu sobremaneira *como* defensor vitalício do Estado de Direito. Um dos incontestáveis marcos do correr de sua vida.

A generosidade do tempo a ele propiciou imortalizar seu nome em mais de 120 obras publicadas, das quais li , - “A canção inicial”, “O dono do Mar”, “Saraminda”, “Norte das Águas”, “A Duquesa vale uma Missa”, “Maribondos de Fogo”, “Saudades Mortas”, “A Onda liberal na hora da Verdade”, “Semana sim, outra também”, “Galope à Beira-mar”, dentre outros...um orgulho sutil reverbera nas páginas destas obras, que antes de contos, ensaios, crônicas e romances, são retratos genuínos do modo de vida e dos saberes do povo simples, geralmente, do povo do Maranhão. Outro daqueles marcos...

Não apenas os roteiros, mas também a alma dos personagens e a paisagem que, vez por outra, saltam da preamar de São Marcos e São José para as águas caudalosas do Oiapoque, ou para onde o facciosismo aguçado do escritor as quiser transportar. E com ele, seguem os leitores, numa viagem na qual, mais do que letras, visita-se a alma da narrativa e dos que as inspiram e, assim, passa-se a conhecer bem mais o homem, o autor, cuja vida parece para ali ser transportada, permitindo-nos conhecê-lo a partir dessa sua paixão fundamental.

Enaltecido por figuras como Jorge Amado e Claude Lévi-Strauss, reservo-me a conclusão: é um pouco do José escritor, uma imensidão digna de deferência. 

Razão tem o padre Vieira sobre viver e contar os anos, e ainda, neste caso, sobre marcar o tempo *vivido* com o sinal de sua existência, por isso completa: “é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto (...) Por isso os antigos sabiamente pintavam o amor menino; porque não há amor tão robusto que chegue a ser velho”, - o tempo, a tudo confere um ar de eternidade e a tudo eterniza!

Sarney faz 93 anos. Muito mais que ao expoente da política, ao escritor, ao estadista, todo reconhecimento ao José, daqui, ao menino da Baixada, amigo do tempo, que a tantos leva o nome do Maranhão, elevando-o em missão de carinhosa reverência ao sentimento de pertencimento. Este sim, o maior dos marcos dessa belíssima trajetória, que aos demais, como reconhecimento, confere ares de eternidade, como legado fundamental!

Parabéns, José Sarney!

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