(Divulgação)

COLUNA

Ruy Palhano
Ruy Palhano é médico psiquiatra.
Ruy Palhano

Modernidade nas placas de sinalização para idosos

A imagem do idoso encurvada e com bengala sugere indiscutivelmente, decrepitude, enfermidade e debilidade, etc.

Ruy Palhano

Há 7 anos atras publiquei um artigo em nossos jornais denominado A bengala o idoso e o sinal de trânsito, nele tratava sobre as placas de sinalizações as quais asseguram vagas em logradouros, públicos e privados, destinados a essa população. Destacava também no referido artigo que este símbolo nas placas sempre me incomodara bastante, porquanto, a imagem nessas placas representara a figura de um idoso, encurvado e segurando uma bengala, configurando um quadro, ao meu  ver, bizarro e inadequado.

Ao ver tais imagens nas placas, me perguntava: o que levaria alguém propor tal imagem para garantir esses direitos a esses idosos?  No artigo citado, pressupunha, entre outras coisas, que as mesmas apontavam para uma época onde havia e ainda há, muitos preconceitos, discriminação, segregação aos idosos, da mesma forma como existe ainda hoje uma visão distorcida sobre a pessoa idosa. A imagem do idoso encurvada e com bengala sugere indiscutivelmente, decrepitude, enfermidade e debilidade, etc.

Quando eu atingi meus sessenta anos, por um lado me tornei mais atento aos fatos e circunstâncias que estão relacionados a essa idade, no que diz respeito às minhas novas expectativas, planos, modo de vida e anseios, etc. Quando cheguei aos 60 e hoje já na casa dos setenta tenho uma sensação gostosa e agradável de ter chegado a uma idade com saúde e disposto a trabalhar e prosseguir com a vida com os mesmos compromissos que me fizeram chegar a essas idades. 

Ao mesmo tempo em que passei a desfrutar dos direitos assegurados na Lei N.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), entre os quais, acessar tais espaços e outros direitos à educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que são prerrogativas da minha idade. Nesse aspecto, ir para uma fila de idosos, estacionar em determinados locais, ter algumas prioridades em certa circunstância, etc.  Mas, sempre me incomodou o símbolo dessas placas, por isso mesmo passei a discutir em diferentes ambientes a possibilidade de mudarem isso.

Em minas pesquisas sobre o assunto, pude perceber que essas placas geravam incômodos em muitas outras pessoas as quais também já haviam chamado a atenção para essa discriminatória e preconceituosa situação e, por isso mesmo, tentavam propor mudanças na construção de outra imagem dos idosos nessas placas. 

Verifiquei que havia um publicitário de nome Max Petrucci, que com a ajuda de cem mil internautas encontrados nas redes sociais, propuseram uma nova simbologia que traduzisse melhor esse direito da pessoa idosa com acesso aos estacionamentos, públicos e privados, simbolizada de forma diferente, isto é, que fosse menos discriminatório e mais adequado à situação. 

Passado todos esses anos depois da publicação do meu artigo, qual foi minha surpresa, ao tomar conhecimentos que o Conselho Nacional do Trânsito – CONTRAN, em junho de 2022, através de Resolução mudou o feitio dessas placas, propondo a retirada da bengala das mãos dos idosos, não o recurvassem e colocasse com letras bem visíveis nas placas, a expressão 60 +.

Acredito que tenha sido um ganho para todos os idosos desse país, que apesar de suas grandes conquistas advindo do seu Estatuto ainda precisa avançar muito mais na direção de outras conquistas quanto aos seus direitos e prerrogativas.

O símbolo anterior era, indiscutivelmente, segregador, preconceituoso e dava ênfase a uma imagem constrangedora, pejorativa, sinalizando para decrepitude, fragilidade ou enfermidade de pessoas nessa idade, o que não condiz coma verdade dos fatos sobre o idoso. Diz o publicitário e criador da nova proposta: “evidentemente que a terceira idade tem suas fragilidades, mas não precisa ressaltar tão negativamente até porque não é esse o retrato da terceira idade no Brasil”. Diz, ainda, que “essa proposta que elaborei, é ao meu ver, bem mais representativa e simbolicamente mais adequada, quando se compara com essa que está aí”.

Com esse trabalho, o publicitário esperava traduzir o idoso de hoje, que vive uma condição de vida saudável, e participativo que vive bem melhor e completamente diferente da vida que levava há anos. Um sujeito com bengala e encurvado não demonstra alguém que esteja vivendo a plenitude da terceira idade propriamente dita. Resta saber se as mudanças ora propostas pelo CONTRAN (2022) foram produzidas pelas sugestões dos internautas e o publicitário ou se foram medidas tomadas pelo próprio CONTRAN baseadas nos movimentos nacionais que pediam mudanças nessas placas.

Soube a terceira idade, sabe-se que com a evolução dos conhecimentos médicos, especialmente na área da nutrologia, da fisioterapia, da atividade física, do sono, ocupacionais e de outras especialidades científicos, sociais, econômicos, verificou-se que nas últimas três décadas a terceira idade, bem como outras etapas da vida, tiveram ganhos fabulosos quanto a promoção e manutenção da vida em seus diversos sentido especialmente na direção de uma vida longa e saudável.

Dados obtidos polo novo levantamento realizado pela Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que pessoas com 60 anos ou mais representam 14,7% da população residente no Brasil em 2021. Em números absolutos, são 31,23 milhões de pessoas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Continua) publicada em 22 de julho de 2022.

Os idosos, na atualidade, vivem mais, querem participar ativamente da vida querem ter uma vida social ativa, praticar esportes, frequentar academias, se cuidar e promovem sua saúde, produzindo e colaborando da melhor forma possível com a vida e com o mundo. E não fazem mais porque temos uma política pública segregacionista, desvalorizante, discriminadora e violenta contra os idosos. Não fora isso, os idosos estariam bem mais inseridos na história nacional, social e psicossocial do seu tempo, de sua cidade e de seu país. 

Só à guisa de curiosidade, sobre a bengala propriamente dita, sabe-se que historicamente, ela tinha um outro sentido. Em conversa com meu genro Diogo Guagliardo Neves, grande advogado e historiador desse estado e desse país, ele me explicara que a bengala, por volta do século 19, era considerada um artigo de elegância e de status social masculino, inclusive. Homens jovens desfilavam em diferentes ambientes para demonstrar beleza, elegância e posição social em cenários da época, simbolizando que isso fazia parte da cultura e da tradição da moda inglesa. Cartola, colete e bengala faziam parte dessa indumentária.

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