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COLUNA
Ruy Palhano
Ruy Palhano é médico psiquiatra.
Ruy Palhano

Como identificar dependentes de drogas

Apresento-lhe, resumidamente, um breve roteiro de como identificar usuários de drogas que estão adentrando para a síndrome de dependência. Faço uma síntese de cada tópico destacando a essencialidade de cada um.

Ruy Palhano

Atualizada em 02/05/2023 às 23h50

O uso de drogas permanece sendo um dos mais graves problemas em saúde pública, segurança e na área social. Uso e o tráfico ilícito de drogas são interfaces de um mesmo problema que a cada dia crescem seu poder deletério e destruidor. Observa-se que não faltam esforços dos governos quanto da sociedade para o adequado enfrentamento desses problemas, todavia, ainda não se observa um movimento de retração desses problemas e, sim o contrário.

A Organização Mundial da Saúde – OMS estabelece alguns critérios para identificarmos, entre os usuários de drogas, os que são dependentes ou não, já que nem todos que consomem drogas o são. Abaixo, discorremos de forma breve, sobre esses critérios.

1 -   Manifestações fisiológicas, comportamentais e cognitivas características.

Dependentes mudam sua forma de pensar e de agir e estas mudanças, são acentuadas à proporção que o transtorno avança. A rigor, mudam inclusive traços caracterológicos e da própria personalidade. Muitas destas alterações psicossociais e comportamentais estão associadas diretamente aos efeitos deletérios das drogas sobre o cérebro, a ponto de, atualmente, considerarmos os transtornos por uso de substâncias – TUS como transtornos de cerebral.

2 - Prioridade ao uso da substância.

À proporção que a dependência avança vai havendo uma espécie de priorização ao consumo da droga em detrimento a outros interesses, importantes paro a pessoa. O consumo de droga vai se transformando em algo muito relevante e prioritário na vida dessa pessoa. 

As outras atividades ou interesses, anteriormente importantes, como esporte, artes, estudos, trabalho, relações sociais, laser e até mesmo atividade sexual e afetiva, vão cedendo lugar ao interesse, cada vez maior, pelo uso da substância. Pode acontecer que, no futuro, a pessoa não faça outra coisa a não ser consumir.

3 - Forte desejo de usar droga.

Em nosso país, conhecemos isso como “fissura”, entre os ingleses “craving”. Representa um desejo intenso, sem limites, incontrolável para usar a droga. Às vezes, isto é tão forte, que esses usuários são capazes de fazerem qualquer coisa, para adquiri-las: AGREDIR, MENTIR, DELINQUIR, MATAR, etc. Esse comportamento compulsivo é atualmente considerado um dos sintomas mais importante para o diagnóstico da dependência.

4 - Recaídas, após a abstinência:

Recair significa retomar um padrão de consumo da substância que fora anteriormente rechaçado, a recaída é uma possibilidade quase sempre presente a esse transtorno. Acontece com frequência entre dependentes, esses deixam de usar as drogas e posteriormente retornam ao consumo como o faziam antes. O que se sabe, é que, independentemente do tempo que passaram abstinentes estes usuários ao retornarem a passam a fazê-lo intensamente e de forma descontrolada, isto é agrava-se a situação. O

A base disso é que o uso continuado e por longo tempo de drogas formaria no cérebro, desses usuários, uma espécie de memória química da droga, uma espécie de registro neuroquímico no cérebro dos usuários de tal forma que ao retornarem ao uso, reacenderia essa “memória”, fazendo com que os mesmos voltem a usar de forma mais intensa e pior que antes.

Recaída não significa fracasso do tratamento, como se pensava anteriormente, significa, tão somente, um fato previsível relacionado à clínica do transtorno. Os profissionais, os familiares e os próprios enfermos, portanto, devem estarem atentos e informados, sobre esse fato.

5 - Dificuldade em controlar o consumo (compulsão).

Os dependentes têm dificuldades de interromperem o consumo das drogas quando começam a usá-lasAo iniciar o consumo não param mais, e prosseguem ininterruptamente, até atingirem altos níveis de intoxicação. Este fato é determinado pela compulsão. A frase clássica para definir isto é: “fulano quando fulano começa a beber não para mais”.

6 - Presença dos sintomas de tolerância.

A tolerância é um fenômeno biológico é ela que faz com que haja aumento progressivo do consumo da droga. Inicia-se usando drogas ou bebendo pouco e tempos depois o consumo aumenta excessivamente. É um fenômeno metabólico e comportamental. 

7 - Sinais de abstinência.

Abstinência diz respeito a uma série de sinais e sintomas de natureza física, psíquica e emocional em geral desagradáveis que surgem sempre que os usuários interrompem ou diminuem a quantidade da droga consumida.

Algumas pessoas dependentes de nicotina, álcool ou outras drogas ao deixarem de usá-los ou mesmo por diminuírem as doses consumidas, passam a apresentar tremores, ansiedade, insegurança, sudorese, taquicardia, insônia, dificuldade na concentração, respiração acelerada ou mesmo outros sintomas mais complicados com crises convulsivas, alucinações e delírios, todas estas reações podem ser provocadas pela abstinência.

8 - Persistência do uso, apesar dos danos.

À proporção que a dependência avança os usuários não se dão conta dos inúmeros problemas psicológicos, emocionais, sociais ou outros transtornos e mesmo assim não param de usá-las. Dependentes de álcool com cirrose, diabetes hipertensão arterial cânceres e diversas outras doenças não param de beber ou mesmo de fumar ou usar outras drogas. Pessoas com problemas emocionais, sociais e familiares adquiridos por uso de drogas não impedem que os mesmos parem de usar, e assim por diante.

Esses acima são os itens que devemos estar atentos diante de pessoas usuárias de álcool, tabaco e outras drogas e representam as fronteiras das diferentes formas de uso dessas substâncias.

 

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