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COLUNA

Euges Lima
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
EUGES LIMA

Passeios carnavalescos e o novo sentido do carnaval ludovicense do século XIX

A origem do Carnaval no Brasil colonial se dá com o entrudo que consistia em uma série de variadas brincadeiras e folguedos que saiam pelas principais ruas das cidades.

Euges Lima

Atualizada em 02/05/2023 às 23h50
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM.
Euges Lima é historiador, professor, bibliófilo, palestrante e ex-presidente do IHGM. (Ipolítica)

Em 21 de fevereiro de 1857, o jornal “Publicador Maranhense”, anunciava para tarde do dia seguinte, domingo de carnaval, um “Grande Passeio Carnavalesco” que seria percorrido em “carros” e cavalos, tudo organizado pela “Sociedade Carnavalesca”.

O ponto de concentração, a partir das catorze horas, foi o Teatro São Luiz, atual Teatro Artur Azevedo, localizado à Rua do Sol. O passeio teria inicio às 16 horas e o circuito momesco seguiria o seguinte percurso: Teatro São Luiz (Rua do Sol), Rua de Nazaré, Rua da Palma, Rua de Santana, Rua do Passeio, Rua Grande, largo do Carmo, Rua da Paz, Quartel do 5.º Batalhão de Infantaria (Atual Biblioteca Pública Benedito Leite e Praça do Panteon) e Rua dos Remédios (atual Rua Rio Branco), retornando pela própria Rua dos Remédios e seguindo pela Rua do Sol, terminando no Teatro São Luiz, onde teve inicio. Esse era o circuito carnavalesco da São Luís de meados do século XIX.

É partir da segunda metade do século XIX que vão surgir em São Luís as “Sociedades Carnavalescas,” como alternativa e apropriação pela elite ludovicense do Carnaval, como uma oposição ao entrudo e ao carnaval popular das ruas, praticados por libertos, escravizados e pessoas do povo.

A origem do Carnaval no Brasil colonial se dá com o entrudo que consistia em uma série de variadas brincadeiras e folguedos que saiam pelas principais ruas das cidades, onde participavam desde escravizados, libertos, ex-escravos, pessoas do povo, onde os foliões andavam mascarados e fantasiados pelas ruas, munidos de bisnagas e limões de ceras, carregados de líquidos e água de cheiro, jogando uns nos outros na maior “algazarra” e se realizava quarenta dias que antecedia a páscoa.

Além do entrudo e do Carnaval de rua como já mencionamos, já se fazia presente na São Luís do final do século XIX a existência também de um outro modelo de Carnaval, com um perfil mais elitista, mais aos moldes dos carnavais veneziano e parisiense; dos préstitos  a exemplo dos “Arautos de Momo”, dos bailes de máscaras, do corso, do Zé-pereira, das batalhas de flores e das sociedades carnavalescas – como a “Mephistopheles”.

Essas sociedades eram responsáveis e organizadoras dos bailes de máscaras, dos corsos, do Zé-Pereira, dos préstitos, das batalhas de flores e toda sorte de diversão carnavalesca, seja em salões, clubes ou nas ruas da cidade. Era um novo padrão do carnaval das elites, cheio de regras, organização e urbanidade.

As bisnagas com água mal cheirosa e limões de cera que eram lançados nos foliões e transeuntes incautos, típicos das algazarras do entrudo, neste novo modelo de carnaval, já não eram mais aceitos e tolerados. Neste sentido, a “Sociedade Carnavalesca roga ao respeitável público que por obséquio não lhes lancem água e pó, pois só se destinam a brincarem com confeitos e flores. (PUBLICADOR MARARENSE, 1857)”.

Observa-se a partir daí a apropriação do Carnaval pelas elites, o surgimento do dito Carnaval “civilizado”, que agora estava “longe” das ruas, “desorganização” e permissividade do entrudo, mas mesmo quando ocupava as ruas, largos e praças, o fazia com “organização”, “critérios” o “horários”, cheios de regras de urbanidade e civilidade, eis aí o novo sentido do Carnaval em São Luís e também nas principais cidades do Brasil nessa virada de século. Quanto ao entrudo, passou então, a ser mal visto pelas classes abastadas, sendo a partir daí, marginalizado e criminalizado pela polícia e autoridades.

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