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COLUNA

Diogo Gualhardo
Diogo Gualhardo Neves advogado e historiador.
Diogo Gualhardo Neves

E se o Brasil fosse escrever um livro?

A propósito, história é coisa que ninguém liga. O Brasil não gosta. Abandonamos, deixamos queimar e agora quebramos museus com nossas próprias mãos.

Diogo Gualhardo Neves

Atualizada em 02/05/2023 às 16h10
Diogo Gualhardo Neves advogado e historiador.
Diogo Gualhardo Neves advogado e historiador. (Ipolítica)

Qual seria o título? Livro nosso, brasileiro. Mas que fosse sincero. Sincero como nunca foi.

A depredação dos prédios governamentais da nação seria uma de suas páginas. Mais uma, das vergonhosas e obscuras, daquelas que estamos a escrever indômitos na história de nossa nunca sereníssima república.

A propósito, história é coisa que ninguém liga. O Brasil não gosta. Abandonamos, deixamos queimar e agora quebramos museus com nossas próprias mãos. O que aconteceu ontem não interessa. Nem o que vai acontecer amanhã. O país vive uma eterna surpresa com o hoje. Faz de conta que não tem passado e faz de conta que não tem futuro.

Porém, gostando ou não, o Brasil está ligado ao que seus cidadãos constroem no passado. E eles, infelizmente, não o estão construindo bem porque, enfim, o que hoje chamamos de “passado” foi também um presente, e nossas quase soluções só servem ao agora. Aqui sim: temos um especial gosto pelo improviso.

O novo caos que atravessamos é a degeneração dos protestos de 2013, contra a Copa e Olimpíadas. Começaram com uma insatisfação lícita pelo derrame de milhões de reais nesses dois eventos internacionais quando milhões de brasileiros não tinham – e ainda não têm – acesso a serviços públicos básicos. No entanto, nem a Copa nem as Olimpíadas, e nem os protestos, deixaram quaisquer legados.

Temos os culpados daquele ignominioso domingo de destruição em Brasília, mas temos os culpados lá de trás também. Nossa redemocratização foi apenas formal. Não estamos avançando significativamente para uma democracia real, onde todos podem ter uma vida confortável e segura.

Nossa Constituição, se louvável em seus fundamentos na garantia dos Direitos Humanos, no domínio econômico, trocou os pés pelas mãos. A 7 de dezembro de 1986, Roberto Campos publica um breve artigo intitulado “Proibido Sonhar”, onde cita os direitos sociais do projeto para a Carta de 1988. Para ele, em resumo, “[...] a Constituição decretaria o fim do subdesenvolvimento econômico.” Por exemplo, “[...] Onde se lê: Art. 343 XII – Direito a moradia... adequada, em condições de higiene e conforto. Leia-se: Ficam abolidas as favelas.”

O embaralho se repetiu na organização política. Fizemos o famigerado “presidencialismo de coalisão”, onde o presidente só pode governar através de acordos com os parlamentares. Costumo dizer que inovamos mesmo, criando o que chamo de “semi-parlamentarismo”, uma vitamina de pedaços do presidencialismo, do parlamentarismo, e do semi-presidencialismo. Ou estamos muito certos ou estamos muito errados.

Arremedamos a todo instante. É preciso notar mesmo que o Brasil não está projetando nada sério, não está conversando sobre nada concreto. Está parado, vivendo do que a vida oferece.

Enfim, não está escrevendo nada digno de celebração. Enfim, qual será mesmo o título desse livro?

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