Lençóis Maranhenses

Analistas enfrentam 4 dias de caminhada para cruzar os Lençóis

Foram 70 km a pé entre os dias 7 e 11 de agosto.

Imirante

Atualizada em 27/03/2022 às 13h11

BRASÍLIA - Numa caminhada que durou quatro dias, analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) cruzaram toda a extensão do Parque Nacional (Parna) dos Lençóis Maranhenses para diagnosticar a situação da unidade, avaliar se esse tipo de caminhada pode ser adotada como atividade esportiva, levantar dados para a atualização do plano de manejo de uso público e buscar subsídios para normatização da travessia com o objetivo de integrar o Planejamento e Gestão dos Esportes de Natureza nas Unidades de Conservação Federais.

Do povoado Canto do Atins até Santo Amaro, eles seguiram, a pé, os 70 quilômetros que perfazem todo o Parna do extremo leste ao oeste, entre os dias 7 e 11 de agosto, e registraram rastros de animais, como o da raposa (Cerdocyon thous), o da tartaruga-pininga (Trachemys adiutrix), o do tatu-peba (Euphractus sexcinctus) e o do mucura (Didelphis albiventris).

A chefe da unidade, Carolina Alvite, diz que “o principal impacto observado foi o rastro de veículos motorizados, principalmente quadriciclos, no campo de dunas móveis e na Zona Primitiva do parque”, afirma. Segundo ela, esse tipo de atividade é proibido no campo de dunas e na Zona Primitiva. “Além disso, essa informação consta do plano de manejo da unidade”, informa.

As dunas – ecossistema especialmente frágil e seriamente impactado pela visitação intensiva e pela circulação de veículos motorizados – constituem cerca de 70% a 80% da área do parque e, nelas, segundo Carolina, não foi encontrado lixo. “O grupo de seis pessoas que atravessou o parque quase não encontrou lixo ao longo de toda a unidade. Apenas nas áreas próximas aos povoados foi verificada a existência do lixo”, garante a chefe do Parna.

Com o apoio da Coordenação Geral de Visitação do ICMBio, o grupo detectou, durante a travessia, outros tipos de problema, como a presença de quadriciclos e de animais criados soltos, principalmente do gado bovino, ovino e caprino. Carolina disse que, independentemente do impacto ambiental que provoca, “a circulação de quadriciclos nas vias públicas urbanas e rurais do Estado do Maranhão está proibida desde dezembro de 2008 pela Resolução n°. 004/08, do Conselho Estadual de Trânsito do Maranhão, por considerar que esse tipo de veículo não atende à legislação vigente em termos de segurança”.

Ela informa também que a administração do Parna iniciou um trabalho de conscientização entre os agentes, as agências e todo o comércio de turismo da região a fim de esclarecê-los sobre esse tipo de irregularidade. Há também um projeto de realização de ações fiscalizadoras para combater ações ilegais.

Dunas – O Parna dos Lençóis Maranhenses, criado em 1981, possui uma área de 155 mil hectares e abriga um extenso campo de dunas tropicais, restingas, praias e manguezais. A unidade é um dos maiores atrativos turísticos do estado do Maranhão e recebe mais de 62 mil visitantes por ano. Embora tenha grande potencial para realização de esportes na natureza, esse tipo de atividade ainda permanece pouco disponível ao público, visto que a travessia, apesar de muito procurada por visitantes, cuja grande maioria é estrangeira, ainda não é totalmente acompanhada pelo ICMBio.

O grupo do Instituto que realizou a caminhada reconhece que a travessia exige bom condicionamento físico. “O nível de dificuldade é considerado alto por exigir preparo físico e, embora não exija habilidades técnicas específicas, é necessário o conhecimento da região, por isso é recomendado o companhamento de um condutor de visitantes local.”, diz a analista ambiental Carolina Alvite. Segundo ela, o parque apresenta grande potencial para integrar o grupo de unidades de conservação com possibilidade de oferecer caminhadas de longo curso.

Durante o trajeto percorrido, o grupo também mapeou as distâncias diárias percorridas, pontos de pernoite, povoados existentes, pontos mais sensíveis aos impactos da visitação, dentre outros. Carolina disse que “os dados levantados vão servir como marco inicial de referência da travessia como atividade de visitação com vistas à aplicação do Roteiro Metodológico para Manejo da Visitação com enfoque na Experiência do Visitante e na Proteção dos Recursos Naturais e Culturais, elaborado pelo ICMBio”, afirma.

Carolina informa que o próximo passo do ICMBio para disciplinar essa atividade será a realização de uma reunião entre o gestores do Parna, as agências e os condutores que operam atividade turística “a fim de estabelecer com eles condutas que deverão reduzir o impacto e adotar normas de segurança, como a assinatura de termo de assunção de riscos”, diz.

As informações são do Instituto Chico Mendes

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