(Divulgação)

COLUNA

Gabriela Lages Veloso
Escritora, poeta, crítica literária e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Gabriela Lages Veloso

Poemas Italianos

O livro Poemas Italianos (1968) reúne textos que Cecília Meireles escreveu durante sua viagem à Itália, durante o ano de 1953.

Gabriela Lages Veloso

Ilustração: Bruna Lages Veloso
Ilustração: Bruna Lages Veloso

Cecília Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, no Rio de Janeiro, onde faleceu, em 9 de novembro de 1964. Publicou seu primeiro livro, Espectros, em 1919, e em 1938 seu livro Viagem conquistou o prêmio Olavo Bilac de poesia, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Foi poeta, jornalista, cronista, ensaísta, professora, autora de literatura infantojuvenil e pioneira na difusão do gênero no Brasil. Em 1965, recebeu, postumamente, o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra.

O livro Poemas Italianos foi publicado pela primeira vez em 1968 e reúne textos que Cecília Meireles escreveu durante sua viagem à Itália, durante o ano de 1953. A Global Editora produziu uma bela edição dessa obra, em versão bilíngue (português e italiano), com a tradução/versão para a língua italiana de Edoardo Bizzarri. Como o próprio título sinaliza, o livro apresenta um olhar apurado e minucioso acerca da Itália, não somente o território geográfico, mas também as ramificações sociais, históricas e materiais desse país.

Em Poemas Italianos, não existem barreiras precisas entre o passado e o presente. O tempo é contínuo e se dissolve paulatinamente. Imagens do passado áureo (e sombrio) do império romano se fundem com as atuais ruínas italianas, como é possível notar nos seguintes versos: “Cem mil pupilas ficam aqui,/ pregadas nas pedras do tempo,/ manchadas de fogo e morte,/ no fim do dia trágico, / depois daquela ávida e acesa coincidência/ quando convergiram nesta arena de angústias/ que hoje é pó de silêncio,/ esboroada solidão” (poema Coliseu, p. 47).

O eu-lírico também se une ao espaço e vive, simultaneamente, duas vidas: “Atravesso este momento,/ transfigurada de outrora,/ por muros brancos de estátuas./ Em sonho vou respondendo/ ao que dizem noutra língua” (poema Ritmo de Nápoles, p. 33). Existe uma conexão profunda entre a poeta e a cidade, um tipo de simbiose, assim como é possível identificar nos versos a seguir: “A cidade estrangeira, dorida de guerras,/ altiva em seus brunos muros e palácios/ dava sombra de séculos à minha alma. [...] Passante nenhum me conhecia - como ninguém conhece as ondas./ Podia ficar ali sentada, com meus olhos de solidão e silêncio” (poema Adeus a Roma, p. 57).

Um dos temas mais recorrentes no referido livro de Cecília Meireles é o cataclisma que ocorreu em Pompeia. Essa história é contada em, pelo menos, 5 poemas da obra. Dentre eles, os mais emblemáticos são O que me disse o morto de Pompeia e Cave Canem. Enquanto o primeiro mostra o clamor de um homem que virou uma estátua, após a erupção do Vesúvio: “Levanta-me da cinza em que me encontro,/ põe nos meus olhos o seu lume antigo!/ [...] E a estar, ao mesmo tempo, longe e perto,/ e a ser múltiplo, unânime e indiviso,/ porque estive acordado em plena morte,/ e sei tudo que é preciso” (p. 63). O segundo traz, no título, a expressão latina Cave Canem, que significa, literalmente “cuidado com o cão”. Esse aviso foi encontrado em um mosaico, em boa condição, nas ruínas de Pompeia e Cecília o poetizou: “Cave Canem! -/ o cataclisma que não hesitou diante do aviso de porta alguma” (p. 73).

Após unir-se ao passado e presente da cidade, e ter empatia pelos seus moradores, o eu-lírico declara o seu amor por Roma: “Qual é a cidade que, vista ao contrário, está no coração?/ ROMA/ AMOR” (poema Geografia, p. 83-85). O eu-poético explica que anda por essa cidade de “altos sonhos e de largas ruínas” como alguém que está “atrás de um outro destino” (poema Caminhante, p. 105). No entanto, deixa um aviso aos demais: “Perde-se a alma, nestes lugares,/ com o passado erguido nos muros,/ e os deuses visíveis, nos ares…” (poema Chuva no palácio dos Doges, p. 113).

“Viva é sempre a memória/ dos poetas” (poema Pedras de Florença, p. 125). Esses versos resumem bem todo o livro Poemas Italianos, pois foi a memória sempre viva da poeta brasileira Cecília Meireles que transformou as pinturas, ruas, esculturas, paisagens, colunas, monumentos, aquedutos e cidades da Itália em poesia. Essa obra é uma bússola que nos guia pelo território físico e metafísico da Itália.

REFERÊNCIA:

MEIRELES, Cecília. Poemas Italianos. 2ª ed. São Paulo: Global, 2017.

O livro está disponível para venda no site da Global Editora: https://grupoeditorialglobal.com.br/catalogos/livro/?id=3846 

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