Sexo com Nexo

É porque eu ainda estou vivo!

Confira a coluna desta semana da sexóloga e educadora sexual Monica Moura.

Mônica Moura/Sexologia clínica e Educação sexual

Mônica Moura/Sexologia clínica e Educação sexual.
Mônica Moura/Sexologia clínica e Educação sexual. (Divulgação)

Sr. Manoel é um homem de 64 anos que mora no interior do estado. Jovial no espírito e na aparência física. Um homem distinto, de fala firme e clara. Coerente nos seus argumentos (dentro da educação que recebeu da vida) e bem direto nas suas pontuações. Casado há 45 anos, pai de 3 filhos, homem seguro de si e resignado.

Ele é um paciente antigo do Hospital, e foi submetido a cirurgia de próstata no ano passado (tumor em estágio moderado). Eu o conheci no ambulatório, pós-operatório imediato. Conversamos sobre os comprometimentos urinários e sexuais que poderiam surgir a partir de então. 

Naquela primeira consulta, após me apresentar como sexóloga do hospital, ele se antecipou como quem mostra para a professora suas atividades do livro de matemática: "Não se preocupe, porque eu mesmo já me reservei do sexo, doutora!". Ouvi, e começamos juntos a desconstruir muitas "certezas" que ele trazia. Sr. Manuel me falou sobre o longo período sem fazer sexo porque não queria "passar câncer" para a sua esposa. Lamentou também pelos anos seguintes em que não o faria, afinal, temia que por causa da fornicação o câncer voltasse. Expliquei que eram mitos. Sexo não transmite o câncer e também não faz um câncer voltar. E por fim, sobre as práticas sexuais, ele disse "A gente fazia sexo normal mesmo, eu por cima. (pausa) É isso. (pausa) E pronto".

Na segunda consulta, dessa vez acompanhado da esposa, a conversa foi mais leve, sem culpa. Ela disse que ele contava sobre a nossa consulta com a timidez de quem nunca pensou em falar sobre esses assuntos com um médico. Entre um sorriso e outro, ele afirmava: "É porque eu ainda estou vivo!". Naquele dia, reforcei a importância de tomar o Sildenafil na dose correta, prescrevi novos exercícios de Kegel para aumentar a vascularização do pênis, estimulações sensoriais diferentes para melhorar a sensibilidade e falamos sobre as técnicas de motivação sexual (fantasias eróticas). A parceira tem um papel importantíssimo na terapia, insisti.

Hoje ele chegou ao ambulatório para a terceira consulta, dessa vez desacompanhado. "Eu mexi no pênis sem querer uma vez que a minha esposa não estava por perto. Foi muito bom, mas sei que é errado", ele disse. Perguntei o porquê de ele sentir que estava errado. "Quando faço sozinho, me concentro mais e a ereção é melhor. Mas eu tenho que dizer a verdade: nem sempre eu estou pensando na minha esposa".

E aqui voltamos para a velha discussão de todos os tempos, tão frequente nos meus textos, no consultório e na vida: O DESEJO SEXUAL NÃO É MONOGÂMICO. É pouquíssimo provável que alguém consiga canalizar os seus pensamentos eróticos para uma só pessoa a vida inteira. Isso é um fato. Agora… o que você decide fazer com esse desejo, é um outro capítulo de uma nova história.


 

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