Riqueza maranhense

A trajetória de Nascimento Morais Filho no caminho da imortalidade literária

Ludovicense, se estivesse vivo, completaria 98 anos em 2020.

Nelson Melo - especial para o Imirante

Atualizada em 27/03/2022 às 11h07
A vida do gênio é a força que movimenta outros autores em busca da originalidade.
A vida do gênio é a força que movimenta outros autores em busca da originalidade. (Foto: reprodução)

MARANHÃO - No último dia 15 de julho, foi comemorado o nascimento do poeta maranhense José Nascimento Morais Filho, um dos expoentes do Modernismo no Maranhão. Ludovicense, se estivesse vivo, completaria 98 anos.

Evidentemente, ele continuaria produzindo, em termos literários, pois sua trajetória foi marcada por vitórias nesse campo, com descobertas que enriqueceram a cultura local. O que o escritor ofereceu ao público ultrapassa a fronteira entre o começo e o fim, o que o torna além do seu tempo.A vida desse gênio é a força que movimenta outros autores em busca da originalidade.

Nascimento Morais é o arquétipo do herói de uma maneira peculiar, não apenas por conta de sua pesquisa brilhante acerca da escritora Maria Firmina dos Reis, como, principalmente, pela maneira como se dedicava aos estudos, uma de suas paixões. Para ele, compreender o então incompreensível era apenas uma questão de saber como iniciar. A partir do primeiro passo, o caminho para o êxito estava aberto, para além de atalhos que poderiam se tornar um obstáculo para a perfeição literária. Sistematizar um pensamento era algo que o poeta fazia como ninguém.

Em sua memorável obra sobre Maria Firmina, o poeta maranhense descreveu os pormenores da carreira da escritora, desde o nascimento dela, em 1825, em São Luís/MA, até o seu falecimento, em 1917, em Guimarães/MA. Essa genialidade de Nascimento Morais Filho para a literatura parece ser consanguínea, em um sentido metafórico, pois o pai dele, José do Nascimento Moraes, também se destacou como escritor. Este foi poeta, romancista, cronista, ensaísta e jornalista, além de ter sido autor da excepcional obra “Vencidos e Degenerados”.

A habilidade de Nascimento Morais Filho com as letras era impressionante. Em “Evocação”, ele observa que é o sofrimento dos sem nome, a voz dos oprimidos, sendo que a liberdade é abordada como tendo a forma da Cruz e a cor do sangue. Sua poesia teve abrangência internacional. Se o planeta fosse o próprio Universo, sua literatura, sem sombra de dúvidas, percorreria o espaço- tempo na velocidade da luz ou na velocidade dos seus pensamentos. Esse “clamor da hora presente” era a forma como lutava contra as mazelas sociais. Ele combateu o bom combate com a sabedoria de quem sabia para onde estava indo, sem medo de enfrentar os perigos.

Em fevereiro de 2009, Nascimento Morais Filho faleceu, mas sua imortalidade no campo literário não pode ser ignorada. Sentimentalmente, ele ainda vive na memória dos familiares, amigos e admiradores. A sua produção não precisa ser lembrada, pois jamais será esquecida. O fim é apenas uma questão de ponto de vista. O que realmente importa é o que produzimos e deixamos para as próximas gerações. Esse é o segredo da existência e o caminho para a eternidade. .

Expoente do Modernismo

A professora universitária Natércia Moraes Garrido, neta de José Nascimento, é uma das pessoas que se esforça para que o lado poeta dele seja sempre enfatizado em qualquer análise sobre o seu avô. Autora da obra “A Poética Modernista em ‘Azulejos’ de Nascimento Morais Filho”, ela assinalou que o aspecto modernista já pode ser detectado bem antes de 1950, durante o funcionamento do Centro Cultural Gonçalves Dias (CCGD), fundado em São Luís por Morais Filho juntamente com outros intelectuais da época.

Esse centro, aliás, teve papel muito importante na década de 1940, uma vez que seus integrantes promoviam debates relacionados à literatura e à cultura, e, ao mesmo tempo, divulgavam ideias e pensamentos novos no contexto maranhense. Isso, de certa forma, já introduzia o Modernismo em nosso estado. Nesse sentido, a essência da Semana de Arte Moderna, considerada o marco que consolidou o movimento modernista no Brasil, chegava ao território maranhense e era difundido pelo CCGD.

Conforme Natércia Garrido, o Centro Cultural Gonçalves Dias surgiu com o objetivo de ler e discutir textos, autores e estética até então inacessíveis aos jovens maranhenses. Nas palavras da autora, “desta forma, entende-se que o verdadeiro diálogo com a proposta modernista no tocante ao rompimento com o academicismo, só acontece quando esta geração maranhense começa a publicar seus escritos a partir de 1940”. Nascimento Morais Filho, nesse contexto, integrou esse movimento e ajudou na difusão dessa nova forma de escrever poesias.

A neta do poeta observou que somente no período de 1950 os intelectuais da década anterior “voltarão mais ativamente para a reflexão social”, com textos sobre desigualdade social, luta pelo direito de sobreviver, liberdade e denúncias contra o descaso da cidade. Ela menciona a obra “Clamor da hora presente”, de Nascimento Morais Filho, que possui características distintas e amadurecidas em comparação com o poema “Horizonte vesperal”, também escrito pelo avô dela.

A pesquisa sobre Maria Firmina dos Reis

Maria Firmina dos Reis é considerada a primeira escritora negra do Brasil, sendo que nasceu em São Luís no dia 11 de outubro de 1825. Sua obra “Úrsula” continua ecoando pelo mundo. Filho do escritor José Nascimento Morais Filho, Renan Nascimento Morais frisou que seu pai foi o responsável pela descoberta de Maria Firmina e pela divulgação de sua brilhante obra literária nocenário maranhense, onde até então era desconhecida. Por dez anos, prosseguiu o médico-veterinário e presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa/MA), José realizou uma extensa pesquisa sobre a escritora maranhense.

Maria foi a primeira romancista da literatura brasileira e primeira poetisa da literatura local, sendo muito estudada nas grandes universidades internacionais. “Úrsula”, importante frisar, tornou-se o primeiro romance da literatura afro-brasileira, tendo sido publicado em 1859, e denuncia, em sua mensagem implícita no explícito enredo, as condições pelas quais os africanos e mulheres passavam no período anterior à abolição da escravatura no Brasil.

O médico-veterinário ressaltou a importância indiscutível da escritora não apenas para a literatura maranhense, como, também, para a mundial. O pai dele, aliás, foi o autor da primeira biografia da romancista, que foi intitulada “Maria Firmina: fragmentos de uma vida”, lançada em 1975.

Da pesquisa feita pelo seu pai, resultaram trabalhos acadêmicos e obras sobre Maria Firmina, com destaque para a tese sobre a romancista defendida por Charles Martin na Universidade de Nova York. Martin, em seu texto, descreveu que o romance Úrsula foi publicado em 1859, mas o nome da autora era representado pelo pseudônimo “uma Maranhense”, passando a circular em 1860.

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