Nhe’ẽ Porã

Exposição no Museu da Língua Portuguesa mergulha na diversidade das línguas indígenas do Brasil

A exposição busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades dos povos indígenas Brasileiros.

Adriano Soares / Na Mira

Exposição fica aberta até dia 23 de abril de 2023, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. (Foto: Adriano Soares / Imirante.com)
Exposição fica aberta até dia 23 de abril de 2023, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. (Foto: Adriano Soares / Imirante.com)

SÃO PAULO – ‘Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação’ é a mais nova exposição do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, aberta no último dia 12 de outubro. Com curadoria da ativista e educadora indígena Daiana Tukano e patrocínio do Instituto Cultural Vale, a mostra faz um mergulho histórico e cultural na diversidade de línguas faladas pelos povos indígenas no Brasil.

A exposição, que fica aberta até o dia 23 de abril de 2023, também marca o lançamento oficial no Brasil da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032), instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), sob coordenação da Organização das Nações Unidas Para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em todo o mundo.

Durante a abertura da exposição, Daiara Tukano afirmou que o mundo vive hoje, provocada pelas grandes mudanças climáticas, a maior extinção em massa dos povos indígenas. De acordo com a curadora da mostra, são os territórios dos povos indígenas que protegem mais de 80 % da biodiversidade no planeta.

“Falar dos povos indígenas, das línguas indígenas, é falar da vida, é falar da diversidade, da sabedoria de andar neste mundo com respeito por tudo o que há: os rios, as florestas, as montanhas, os mares, falar do conhecimento de todos os ancestrais, dos povos da terra. Então, é uma honra, um prazer, estar aqui junto com tantos parentes – em presença e em espírito – para trazer aqui no Museu da Língua Portuguesa, essa língua que por tanto tempo foi uma língua perigosa para nós, essa mensagem de esperança, de alegria, de beleza, para compartilhar qual é a força que motiva a nossa luta”, disse Daiara Tukano.

Daiara Tukano, curadora da exposição, durante abertura da mostra. (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil)
Daiara Tukano, curadora da exposição, durante abertura da mostra. (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil)

A exposição conta com quatro ambientes, sem um começo ou fim definidos. Em um deles, o visitante é apresentado a uma chuva de palavras com expressões de dialetos indígenas e também é convidado a ouvir os sons dessas línguas que são sinônimos de resistência ao longo de mais de 500 anos no Brasil.

Um outro espaço da exposição é a sala “Língua é Memória”, que apresenta diversos momentos da história dos povos indígenas desde o contato com o homem branco, passando por históricos de violência e conflitos que decorreram da invasão dos territórios desses povos desde o século 16 até hoje. Objetos arqueológicos, obras de artistas indígenas e registros documentais também podem ser apreciados pelo visitante nessa sala da exposição.

O monumento trocano, que é um tambor feito a partir de uma tora única e cedido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), também pode ser visto na exposição. De acordo com Daiara Tukano, esse objeto é como o “WhatsApp de antigamente”, ou seja, um meio de comunicação dos povos indígenas. Este instrumento pertence aos povos do Alto Rio Negro, no estado do Amazonas, onde nasceu o pai da curadora, e na exposição é acompanhado por outros objetos cerimoniais originários da mesma região.

Na sala “Palavra tem Poder”, o visitante vai poder conhecer a pluralidade das ações e criações indígenas contemporâneas a partir de seu protagonismo em diferentes espaços da sociedade, a exemplo de sua atuação milenares no ensino, na pesquisa e nas linguagens artísticas.

No chão da exposição está desenhado o percurso de um rio. Nele, o visitante alcança um quarto ambiente, noturno, que permite o contato com a força presente na cantoria dos mestres das belas palavras. O rio que percorria pelo chão da mostra sobe até uma parede, como uma grande cobra, até se transformar em nuvens de palavras, preparando a chuva que voltará a correr sobre o próprio rio, continuando, assim, o ciclo.

História das línguas dos povos indígenas é retratada durante toda a exposição. (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil)
História das línguas dos povos indígenas é retratada durante toda a exposição. (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil)

Nhe’ẽ Porã

O nome da exposição é um conceito dos povos Guarani, que significa “belas palavras”. Segundo os povos indígenas, Nhe’ẽ Porã é a fala de divina sabedoria carregada de bons sentimentos. Para ser ouvida, precisa ser compartilhada com doçura, unindo a delicadeza do sopro e do espírito (nhe’ẽ) ao que é belo e bom (porã).

Instituto Cultural Vale

“Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação” é a primeira exposição totalmente voltada às línguas indígenas do Museu da Língua Portuguesa. De acordo com Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, a mostra é uma iniciativa urgente e necessária no momento em que a sociedade vive, onde, segundo ele, há um apagamento da identidade das culturas indígenas e dos povos originários. 

“É com esse intuito que o Instituto Cultural Vale procurou o Museu da Língua Portuguesa e a Unesco para nos juntarmos em torno dessa iniciativa que marca também a abertura da Década das Línguas Indígenas, da ONU, no Brasil. É uma experiência fundamental, é uma exposição muito rica, que retrata um pouco das mais de 170 línguas indígenas faladas no Brasil”, afirma Barreto.

Visitas

A exposição temporária “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação” fica aberta até o dia 23 de abril de 2023. O acesso à mostra ocorre pelo Portão A  do Museu da Língua Portuguesa, de terça a domingo, das 9h às 16h30 (permanência até 18h).

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