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‘Brasil não pode ficar passivo’, diz jornalista detida em Quito

Brasileira Manuela Picq trava uma batalha contra o governo do presidente Rafael Correa e pede que autoridades brasileiras não fiquem passivas.

Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h40
(Reprodução)

SÃO PAULO - Enquanto aguarda uma audiência que pode deportá-la do Equador, a jornalista brasileira Manuela Picq trava uma batalha contra o governo do presidente Rafael Correa e pede que autoridades brasileiras não fiquem passivas diante do seu caso. Ela, que está desde sexta-feira detida em um centro para imigrantes irregulares, disse que está sem visto, sem direito à defesa e sem visitas, portanto, sem seus direitos constitucionais.

"Meus direitos não estão sendo respeitados. Não fui informada do que estou sendo acusada, cancelaram meu visto de forma arbitrária, não tive chance de me defender e estão limitando a visita dos meus advogados. Estou presa, sem liberdade e sem direitos fundamentais — conta ela, pedindo apoio do governo brasileiro. — Preciso da ajuda do Brasil e do Itamaraty, que é famoso por defender os direitos humanos. Espero que esses esforços se articulem no meu caso".

Mais cedo, pelas redes sociais, ela acusou o Brasil e a França, país do qual também tem nacionalidade, de silenciarem sobre sua situação.

“Estou sendo mantida presa em um ‘hotel’, enquanto nenhum dos meus países de cidadania estão tentando proteger meus direitos”, escreveu ela em seu perfil no Facebook.

Em resposta, o Itamaraty informou que prestou toda assessoria à jornalista dentro de sua capacidade, e ressaltou que a concessão ou não de visto é uma decisão soberana.

O visto de Manuela foi cancelado na sexta-feira. O motivo alegado pelas autoridades é que ela tinha um status de intercâmbio cultural e não poderia participar de atividades políticas. Eles alegam ainda que a brasileira participou “de maneira violenta e ilegal” dos protestos de quinta-feira contra o governo de Correa, o que ela nega:

"Eu nunca participei de atos de violência, eu estava ali como jornalista, como outros que foram cobrir os eventos, e como esposa de Carlos. Fui defendê-lo da violência policial, isso é humanamente compreensível e legítimo", diz.

Nos protestos, Manuela e seu marido, Carlos Pérez Guartambel — opositor e líder de um movimento indígena — foram agredidos por policiais. Para os dois, tanto a ação violenta, quanto todo o processo que tenta fazer com que ela deixe o país são formas de retaliação pelas críticas à Correa.

"Sou uma prisioneira política, vítima de uma guerra jurídica, onde o governo usa as instituições legais e toda a sua máquina como instrumento de opressão contra os opositores. Eu me sinto uma formiga diante dessa desigualdade de forças", ressalta Manuela, que ainda tem hematomas pelo corpo, nos braços e na cabeça.

Do Brasil, sua mãe, Lena Lavinas, considera que a filha é vítima de um processo político e questiona a democracia vigente no Equador.

"As cenas da minha filha apanhando são iguais às cenas de quando eu apanhava na ditadura. Mas o governo equatoriano se diz democrático e revolucionário. Que Estado de Direito é esse?", questiona Lena, economista e professora da UFRJ.

Até a audiência de segunda-feira, que decidirá sobre a deportação de Manuela, a defesa corre contra o tempo para que ela permaneça no país. Segundo um de seus advogados, Julio Sarango, eles estão reunindo provas de que a jornalista tinha uma união estável com Pérez e vínculos trabalhistas com a Universidade de San Francisco, onde é professora.

Sarango afirma que a brasileira está sendo mantida como refém desde quinta-feira e denuncia que o processo ocorreu de forma atropelada.

"Ela não teve sequer um familiar ou amigo que a acompanhasse", diz Sarango.

Sozinha no centro de imigrantes, Manuela tem poucas esperanças de ver seus direitos respeitados:

"Como sou vítima de uma vingança política, vai ser o que o governo quiser", comenta.

Vulcão e exceção

Ontem, o presidente Rafael Correa declarou estado de exceção após sinais de atividade no vulcão Cotopaxi, a 70 quilômetros de Quito. A medida dá mais liberdade para o governo mobilizar recursos financeiros e tropas no caso de uma erupção e permite que impeça a publicação de informação relacionada ao Cotopaxi. O estado de exceção não pode exceder 60 dias. A decisão foi tomada após duas explosões levarem à evacuação de cidades pequenas nas proximidades.

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