(Divulgação)
COLUNA
Sexo com Nexo
Sexo com Nexo por Mônica Moura, sexologia clínica e Educação sexual.
Sexo com Nexo

Março lilás

(A vida após o diagnóstico de câncer de colo do útero)

Mônica Moura/Sexologia clínica e Educação sexual

Mônica Moura/Sexologia clínica e Educação sexual.
Mônica Moura/Sexologia clínica e Educação sexual. (Divulgação)

Maria saiu de casa em uma tarde chuvosa, dessas que roubam toda a luz do sol, transformam a cor do tempo e até o cheiro do asfalto. Tudo era melancólico. Ao chegar na sala de espera da clínica, ela respirou fundo, cumprimentou a secretária e entregou seus documentos, reforçando ter sido encaminhada pelo seu ginecologista. Depois, sentou de cabeça baixa, como se estivesse segurando a esperança com mãos trêmulas. O diagnóstico de câncer de colo do útero já tinha virado sua vida de cabeça para baixo mas aquele era o dia em que uma reviravolta peculiar a aguardava. E ela nem sabia disso.

O encaminhamento para a Sexologia fazia parte do tratamento integral de Maria, que apesar de ter hesitado algumas vezes, acabou cedendo e finalmente marcando essa consulta. E naquela tarde chuvosa, Maria, que passou por duas cirurgias e várias sessões de quimioterapia, estava prestes a descobrir que a cura não se limitava apenas às células doentes.

No consultório, acolhida pela privacidade e envolvida pela serenidade da conversa, demos início ao tratamento que já não era físico, mas uma travessia interior rumo ao autoconhecimento e aceitação. Sim. Uma travessia que às vezes era turbulenta e outras calmaria. Não foi linear, nem fácil, nem indolor.

Maria explorava a reconexão com seu próprio corpo, severamente abalado pelas intervenções feitas durante a fase inicial do tratamento. Com paciência e sabedoria, Maria encarou o vazio deixado ali e caminhou para a redescoberta do prazer e da intimidade. Ela precisava! Estava com casamento abalado, bem-estar debilitado, afetos questionáveis, autopiedade e dor. Medo de retomar a vida sexual, de uma possível separação, medo da solidão, medo do espelho.

Falamos sobre a importância de ter uma comunicação aberta, sobre experimentar novas formas de fazer sexo, do uso de lubrificantes e outros produtos específicos, dos exercícios pélvicos, da aceitação do corpo, e principalmente sobre o suporte emocional.

Transformar a dor em amor próprio era como bálsamo para a alma ferida dela, e no meu consultório, desafiamos os estigmas (e preconceitos) que cercam a sexualidade feminina, especialmente quando afetada por doenças como o câncer. A sensualidade vai além dos padrões estéticos, e a verdadeira beleza mora na aceitação de si.

Nos encontros semanais, risos ecoavam na sala, parecia um renascimento emocional. Ouso dizer que re-descobrimos a felicidade. Nascia uma nova Maria. Mais forte. Transformada.

Há poucos dias, ela deixou um recado no meu Instagram, agradecendo por ter ajudado a encontrar a luz mesmo nos dias mais sombrios. Missão cumprida!

PS: Mulheres, façam seus exames de rotina!


 

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