Copa 2014

Eliminação vexatória na Copa coloca futebol brasileiro em xeque

Seleção brasileira já começa a mirar o evento da Rússia, em 2018.

Nathália Mendes/EBC

Atualizada em 27/03/2022 às 11h52

BRASÍLIA - O quarto lugar na Copa do Mundo de 2014 encerrou o vigésimo ciclo de mundiais para a seleção brasileira, que já começa a mirar o evento da Rússia, em 2018. Diferentemente de anos anteriores, a forma vexatória – com as piores derrotas do time canarinho em sua história – com a qual o único pentacampeão do mundo foi derrotado acabou colocando em xeque tanto a escola brasileira de futebol quanto a estrutura que sustenta o esporte no país. “O futebol brasileiro está parado no tempo. Temos que reconhecer que o Brasil não tem mais o melhor futebol do mundo”, destaca o ex-lateral-esquerdo Gilberto, que defendeu a seleção nas copas de 2006 e 2010.

“A maneira com que o Brasil caiu nesses dois jogos finais não deve ser esquecida. O que aconteceu deve servir de lição para tocar uma reformulação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e dos clubes”, avalia Antônio Lopes, que foi coordenador da comissão técnica em 2002. “Temos que lançar um olhar sobre todos os setores e ângulos, porque o futebol brasileiro precisa ser chacoalhado. Até para dar uma satisfação para o torcedor”, aponta Batista, ex-volante da seleção, que esteve nas copas de 1978 e 1982.

 Foto: Hassan Ammar/AP
Foto: Hassan Ammar/AP

A CBF, entidade que controla o futebol no país, é apontada como uma das principais responsáveis pelo fracasso dos comandados de Luiz Felipe Scolari. “Os que dirigem o futebol nacional não deram as caras, se esconderam em ambas oportunidades. Como de costume, evitaram e evitarão ao máximo falar sobre as propostas para o futuro”, criticou o zagueiro Paulo André, um dos líderes do movimento Bom Senso Futebol Clube, em seu perfil no Facebook.

Para Antônio Lopes, a CBF precisa ser mais atuante: “É preciso trazer mais profissionais do futebol e atuar mais em cima dos clubes, para que eles possam fazer o trabalho de formação de talentos de uma maneira mais eficiente”. Gilberto conta que a entidade não costuma dialogar e trocar experiência com veteranos: “Você liga na CBF para conversar e expor sua opinião e nunca consegue ser ouvido. Esta é a hora de chamar mais gente para participar. Ex-jogadores, jogadores, árbitros, sindicatos de jogadores, a imprensa, todos precisam ser chamados para propor soluções”.

Em seu texto, Paulo André defendeu uma democratização da CBF. Atualmente, apenas presidentes de federações e dos 20 clubes que estão na Série A têm direito a voto na eleição para presidente da entidade. Haverá troca de comando em abril de 2015, quando José Maria Marin será substituto por Marco Polo Del Nero, candidato único eleito em abril deste ano.

“Sobrevivente” da tragédia do Sarriá, quando a seleção de 1982 caiu diante da Itália, Batista destaca o despreparo psicológico dos jogadores, que, com um time muito jovem, sucumbiu diante da pressão de buscar o título em casa. “Faltou experiência e estrutura psicológica. Esses jogadores valem milhões, são reconhecidos aqui e lá fora por terem talento, jogarem bem em seus clubes e foram praticamente unanimidade quando foram convocados. Alguns deles são a base do time que teremos daqui a quatro anos. A questão é o amadurecimento, que só virá com o tempo.”

Ex-técnico da seleção na Copa de 2010, Dunga endossa essa opinião: “Eles [os jogadores] precisam entender que vai haver a crítica e que é preciso que isso seja superado. As gerações se criam durante os momentos de dificuldades. Como uma Copa é uma competição curta, sem tempo de recuperação, esses jogadores precisam ser maduros, assimilar o golpe e reagir. Se isso acontecer, acredito que muitos deles tenham tudo para permanecer”, disse o capitão do tetra ao site oficial da Federação Internacional de Futebol (Fifa).

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