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Entre câmeras e playlists, vive Bruna Castelo Branco, jornalista cultural e diretora de TV que respira entretenimento. Fala (com paixão e um pouco de drama) sobre filmes, séries e mús
Cinema

O Agente Secreto expõe a Ditadura em carne viva

O Agente Secreto estreia em novembro e já desponta como a grande aposta do Brasil nos festivais internacionais

Bruna Castelo Branco

Atualizada em 01/10/2025 às 16h35
Wagner Moura em cena de O Agente Secreto (Foto: Divulgação)
Wagner Moura em cena de O Agente Secreto (Foto: Divulgação)

O cinema brasileiro tem uma longa tradição de contar grandes histórias, e o Nordeste tem sido um dos polos mais pulsantes dessa produção. Para quem acompanha esse movimento, o sucesso internacional de O Agente Secreto, novo filme de Kléber Mendonça Filho, não chega a surpreender. Depois de abrir o festival Maranhão na Tela, o longa chega oficialmente aos cinemas do Brasil em 6 de novembro.

Demorei a escrever sobre ele porque queria deixar o filme me atravessar, como se ao colocar em palavras eu pudesse perder um pouco da experiência. Mas percebi que não: a sensação fica.

Ambientado em 1977, no auge da Ditadura Civil-Militar, o longa mergulha na perseguição política de forma visceral, em carne, cheiros e desconfortos e, apesar de tudo, tem a leveza do cotidiano, pois as grandes tragédias históricas acontecem com a vida em movimento. Logo na primeira cena, Marcelo (Wagner Moura) para abastecer o carro e, ao lado do posto, jaz um corpo em decomposição. As histórias sobre aquela morte se cruzam, nenhuma esclarecida, e o público sente tudo: o calor, o odor, a tensão. Ali já entendemos o terreno em que estamos pisando.

Marcelo é um pesquisador em tecnologia que, ao ser perseguido, volta para Recife. Acompanhamos sua vida íntima, a família, o sogro, suas relações, enquanto torcemos por sua sobrevivência. E, no meio da tensão, surgem respiros de leveza, referências e ambientações que só o Nordeste pode oferecer. Nenhum cineasta que não tivesse alma nordestina ousaria colocar a lenda da Perna Cabeluda em uma narrativa tão densa e isso fazer total sentido na trama.

Atuação marcante e ambientação autêntica de Wagner Moura 

Wagner Moura entrega uma das grandes atuações de sua carreira, com chances reais de prêmio. Ele domina um papel absurdamente difícil com uma naturalidade desconcertante. E, sim, o baiano tem o molho (eu não ia deixar de escrever: meu Deus do céu, que baianinho gostoso). No fim do filme, é impossível não sentir saudade de Marcelo, mesmo sabendo que logo veremos Moura, lindíssimo, celebrando esse trabalho em festivais internacionais.

Não posso encerrar esse texto sem mencionar outro nome que merece destaque é Tânia Maria, a dona Sebastiana. Artesã que já havia chamado atenção em Bacurau, ela imprime a medida exata que o filme pede, sem excessos, com presença magnética.

Sem ufanismo: O Agente Secreto é um forte candidato a qualquer prêmio que disputar. A maneira como retrata a Ditadura Civil-Militar e mostra como suas feridas ainda ecoam no presente reafirma a necessidade de lembrar sempre, para que nunca mais se repita.


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