Investigação

Defensor público federal afirma que morte de líder indígena não é um caso isolado

Segundo Yuri Costa, a DPU tem a noção clara de que esse crime se soma ao contexto de conflitos históricos da região da terra indígena Araribóia.

Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h08
Zezico Rodrigues era líder da Aldeia Zutiua, que fica na terra indígena Araribóia, além de diretor e professor do Centro de Educação Escolar Indígena Azuru.
Zezico Rodrigues era líder da Aldeia Zutiua, que fica na terra indígena Araribóia, além de diretor e professor do Centro de Educação Escolar Indígena Azuru. (Foto: Divulgação)

SÃO LUÍS – Nesta quarta-feira (1º), o defensor regional de Direitos Humanos no Maranhão (DRDH), o defensor público federal Yuri Costa, se manifestou acerca do assassinato do líder indígena Zezico Rodrigues Guajajaras, que foi encontrado morto a tiros na Estrada da Matinha, que dá acesso à Aldeia Zutiua, na cidade de Arame.

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Segundo Yuri Costa, a Defensoria Pública da União recebeu a notícia com muito pesar e indignação, pois Zezico Guajajaras era uma liderança muito conhecida por atuar na educação indígena, uma área de resistência e defesa dos interesses indígenas no Maranhão e no Brasil. O defensor afirmou que as circunstâncias do crime ainda estão sendo apuradas e cabe à Defensoria acompanhar a apuração, como tem feito no caso de outras mortes de lideranças indígenas no Estado.

“A Defensoria Pública da União tem a noção bem clara que não se trata de crimes isolados, mas de reiterados atos contrários, não apenas à etnia Guajajara, mas com destaque a essa etnia. Nós tivemos em novembro em 2019 o assassinato do líder Paulo Paulino Guajajara, até hoje acompanhado pela Defensoria Pública da União. É importante frisar que, recentemente, os responsáveis por esse homicídio foram denunciados pelo Ministério Público Federal”, afirma o defensor público federal.

Ele reforça que a DPU aguarda a apuração das autoridades, mas tem a noção clara de que esse crime se soma ao contexto de conflitos históricos, sobretudo entre indígenas, madeireiros da região da terra indígena Araribóia. Por isso mesmo, não pode existir uma apuração isolada, como se esse crime fosse avulso.

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*Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Zezico Guajajaras tinha acabado de ser nomeado coordenador-regional da Comissão de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Arariboia (Cocalitia).

Ainda de acordo com a entidade indigenista vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zezico é o quinto membro da etnia Guajajara assassinado desde meados de novembro de 2019. Entre eles está o líder Paulo Paulino Guajajara, integrante do grupo Guardiões da Floresta, formado pelos próprios indígenas para monitorar e defender seus territórios. Paulino também foi morto a tiros, em novembro.

Os crimes motivaram o Ministério da Justiça e Segurança Pública a autorizar o envio de agentes da Força Nacional de Segurança Pública para reforçar a segurança na Terra Indígena Cana Brava Guajajara.

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Apesar de terem atendido a ocorrência, nem a Polícia Civil nem a Polícia Militar forneceram mais informações oficiais sobre o caso. Para o cacique da aldeia Zutiua, Paulino Rodrigues Guajajara, Zezico foi vítima de um “ato covarde”, praticado por quem tinha "raiva" e "inveja" do professor.

“O assassinaram com um tiro de espingarda quando ele estava voltando da cidade de Grajaú. A uns três quilômetros da aldeia o surpreenderam e atiraram contra ele”. O cacique não descarta a hipótese de Paulino ter sido morto por outro índio da própria comunidade. “Todo mundo está comentando que não foi um branco quem o matou, mas os próprios parentes [indígenas]. É uma suspeita”.

Em nota, a Fundação Nacional do Índio (Funai) lamentou a morte de Zezico e informou que a Polícia Federal (PF) e a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão já estão investigando as motivações do crime, tentando identificar os responsáveis. A Constituição Federal estabelece que a proteção dos povos indígenas e das terras por eles ocupadas compete à União, à qual está subordinada a PF.

No Twitter, o governador Flávio Dino lamentou o homicídio e afirmou que as forças estaduais estão à disposição “para auxiliar o governo federal na segurança a indígenas”.

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação se solidarizou com os parentes, amigos e com toda a comunidade escolar, “que se encontra de luto" pela perda do professor.

Já a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) exigiu justiça, atribuindo o homicídio ao que classificou como “o agravamento da violência e da vulnerabilidade dos povos indígenas, sobretudo das lideranças que lutam pela defesa dos seus territórios”.

*As informações são da Agência Brasil.

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