Protótipo

Embrapa Cocais apresenta ferramenta de quebra do coco babaçu

Nova tecnologia é acionada manualmente pela mulher, que trabalha sentada em uma cadeira de posição regulável, com melhor ergonomia e maior rendimento

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15
Pesquisadores da Embrapa durante apresentação das máquinas de quebra do coco babaçu
Pesquisadores da Embrapa durante apresentação das máquinas de quebra do coco babaçu (babaçu)

Para mostrar que a pesquisa já oferece alternativa para melhorar as condições de trabalho e de vida das quebradeiras de coco e ainda incrementar a produção, pesquisadores da Embrapa Cocais levaram protótipos da ferramenta de quebra de coco babaçu à Secretaria de Agricultura Familiar – SAF do Governo do Estado do Maranhão. A máquina foi uma demanda das próprias quebradeiras à Unidade da Embrapa no Maranhão, que buscou parceiros e desenvolveu o protótipo com a participação direta delas e adaptada às suas necessidades.

A ferramenta de uso individual para quebra do coco babaçu é uma das finalistas no Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2021, cuja premiação ocorre este mês. Ela foi selecionada considerando-se a efetividade, inovação, sistematização da tecnologia e a interação com a comunidade.

“As quebradeiras de coco compartilharam o desejo por um equipamento de uso individual, mecanizado, acionado manualmente e acessível economicamente e que ainda não descaracterizasse a essência do extrativismo do coco babaçu. Toda habilidade do processo artesanal que a mulher quebradeira de coco usa para seu trabalho foi aproveitada na ferramenta de quebra do coco. Com os testes de laboratório e as experiências das quebradeiras de coco, chegamos a uma segunda versão. As duas foram demonstradas para os técnicos da SAF e ainda para quebradeiras convidadas que ainda não conheciam a ferramenta”, resumiu o pesquisador José Mário Frazão.

O engenheiro Ivanildo Madeira Albuquerque, parceiro da Embrapa no desenvolvimento da ferramenta, acredita que seja de interesse do estado em fomentar o uso e garantir o acesso das quebradeiras a essa tecnologia. “Construímos o protótipo movido pelo idealismo de incluir socialmente esse grupo social e resgatar a cultura das mulheres quebradeiras, adaptando a máquina à realidade delas, com resultados muito bons também para a produção”, completou.

A empolgação com a tecnologia foi unânime. Para a secretária adjunta da SAF, Luciene Dias Figueiredo, o protótipo representa o diálogo da pesquisa com as quebradeiras de coco e uma perspectiva de melhoria nas condições de trabalho e de vida das quebradeiras de coco do Maranhão. “Pretendemos adquirir a máquina e colocá-la em grupos de quebradeiras para se observar os resultados a serem obtidos”.

Na ocasião, quebradeiras de coco que testaram a máquina deram seu depoimento sobre a ferramenta de quebra do coco babaçu. Rosa Gaspar, quebradeira da comunidade quilombola Boa Vista, município de Rosário, ficou bastante entusiasmada com a invenção e elogiou os criadores. “Isso que precisamos, de pessoas pensantes e criativas para criar alternativas para o nosso trabalho. Percebi que a operação da ferramenta não necessita de força excessiva, já que possui o mecanismo multiplicador da força humana. Também senti a segurança e o conforto que o equipamento proporciona. Eu aprovei a máquina. Nós testamos, nós queremos”, emendou.

Durante o desenvolvimento da ferramenta, foram realizados testes e validação da ferramenta com grupos organizados de quebradeiras de coco nos municípios maranhenses de Itapecuru-Mirim, Caxias, Cajari, Anajatuba, Pindaré-Mirim, Alto Alegre do Pindaré e Lago do Junco. Foram obtidas percepções e sugestões das quebradeiras de coco para melhoria da ferramenta em desenvolvimento. Um primeiro protótipo de estação de trabalho foi colocado, durante dois anos, em operação na Cooperativa Babaçu é Vida, em Itapecuru Mirim, para ser testado pelas quebradeiras de coco. O segundo protótipo foi criado para se adaptar às sugestões colhidas pelas suas usuárias.

Sonho construído em parceria

O extrativismo do babaçu tem sido fonte de renda para diversas famílias brasileiras há décadas, sem evolução no sistema de produção. É caracterizado pelo uso manual de machado e um porrete para a quebra do coco, trabalho penoso, responsável por doenças laborais e abandono da atividade.

A ferramenta para quebra do coco foi criada a partir da demanda das próprias quebradeiras de coco, durante edições do Babaçutec, evento da Embrapa Cocais que discute temas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D&I) para a cadeia de valor do babaçu, e em oficinas regionais realizadas em diversas regiões do Estado, com agroextrativistas. Nesses momentos, as quebradeiras compartilharam sonhos para a melhoria de suas condições de trabalho e de vida e proteção à saúde. Entre eles, o desejo por um equipamento de uso individual, mecanizado, acionado manualmente e acessível economicamente.

Outra característica importante é que essa máquina não descaracterizasse a essência do extrativismo do coco babaçu e que auxiliasse no processamento integral do coco, não somente o aproveitamento da amêndoa e da casca. "Na época, já existiam cerca de 100 máquinas com pedidos de patentes, mas nenhuma delas atendia às expectativas das quebradeiras de coco. Ou eram muito grandes, ou fora da realidade delas ou simplesmente não funcionavam. A ferramenta é resultado dessa criação conjunta entre pesquisadores e quebradeiras", relembra o pesquisador José Mario Frazão.

A ferramenta é acionada manualmente pela mulher que trabalha sentada em uma cadeira de posição regulável, com melhor ergonomia (conforto e segurança), rendimento do trabalho e aproveitamento integral dos componentes do fruto, agregando valor aos subprodutos e renda para as famílias. O resultado é uma ferramenta ergométrica que propicia a extração da amêndoa com a pessoa sentada em uma cadeira, sem uso do machado e com uma força menor que a empregada anteriormente para quebrar o coco, com potência no corte acionada via alavanca.

Os recursos para a o desenvolvimento da tecnologia inovadora vieram da Fundação de Amparo e Desenvolvimento Científico do Maranhão – FAPEMA e do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), por meio do Projeto Bem Diverso, fruto da parceria entre Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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