Opinião

Baixar armas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

A semana agitada marcada por fatos políticos, destacando-se os atos antidemocráticos em apoio ao presidente Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal, na última terça-feira (7), marcou o cenário de crise institucional no país. E o desfecho de tudo isso aconteceu, dois dias depois, com o recuo do presidente ao divulgar uma carta em que atribuiu seus xingamentos e ameaças contra ministros do STF a um arroubo provocado pelo “calor do momento”. No documento, intitulado “Declaração à Nação” e redigido com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, ele sustenta ainda que não teve a intenção de agredir outros Poderes.

Ao que tudo indica, os atos de 7 de Setembro não foram suficientes para sustentar as bravatas do presidente, que se viu isolado como nunca. Recebeu críticas ferrenhas disparadas desde aliados do Centrão, sua base de sustentação política, a presidentes de órgãos da República, como os ministros Luiz Fux (STF), Luís Roberto Barroso (Tribunal Superior Eleitoral) e Arthur Lira (Câmara). Paralelamente, os protestos de caminhoneiros bolsonaristas saíram do controle do Palácio do Planalto, o que ficou evidente com os bloqueios de estradas país afora.

Temer (MDB) encarnou a figura de conselheiro do governo. Ele próprio avisou ao presidente que se a greve persistir por mais uma semana sua permanência no Palácio do Planalto ficará ameaçada. A avaliação é compartilhada por ministros do Supremo. Em 2018, Temer enfrentou nove dias de paralisação dos caminhoneiros, evento que lhe custou quedas vertiginosas de popularidade e ameaças de deposição.

Após as manifestações, a palavra impeachment voltou para o cenário político. As forças democráticas – da esquerda aos liberais – devem se unir para conter as ameaças de ruptura institucional pregadas por Bolsonaro e seus apoiadores. Assim sendo, o que veremos a partir de agora serão partidos políticos, mesmo do Centrão, e as forças democráticas se unificando. Para analistas, é o momento de lutar contra o fascismo, contra políticos e cidadãos que agem contra a própria cidadania e a democracia. Para muitos, o governo Bolsonaro acabou.

Além disso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), declarou que pautas antidemocráticas “são inaceitáveis”. No entanto, falta uma reação pública do presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL), que tem a prerrogativa de dar aval para o prosseguimento dos pedidos de impeachment contra o presidente. Nesse sentido, partidos de direita e centro-direita, como PSDB, PSD, MDB e Solidariedade, sinalizam que podem passar a apoiar formalmente o impeachment de Bolsonaro. Todos esses elementos fazem com que hoje haja um consenso contra o presidente.

Uma coisa, porém, é certa: existe uma grande desconfiança por parte de integrantes dos Poderes com relação ao recuo de Bolsonaro. O gesto, embora tenha aliviado a tensão por ora, foi visto com ceticismo no Supremo Tribunal Federal. Não custa lembrar que a guinada de Bolsonaro ocorreu após uma campanha iniciada por alguns de seus auxiliares de primeiro e segundo escalões logo após os atos de 7 de setembro.

Reservadamente, em conversas com interlocutores, o ministro Fux classificou o comunicado como um “bom sinal”. A avaliação majoritária na Corte é de que só o tempo vai revelar a real disposição de Bolsonaro em baixar armas. Ministros admitem, contudo, que trata-se da mais importante sinalização do presidente desde o início da crise institucional.

E neste sábado, 11 de Setembro, o mundo lembra os atentados contra o World Trade Center. Há 20 anos, o mundo assistia ao horror de um ataque terrorista em tempo real. Imagens de pessoas pulando no vazio para fugir da morte pelo fogo eram apenas o retrato do desespero extremo de um lado. As imagens apocalípticas das Torres Gêmeas foram acompanhadas por gritos, quer nas ruas de Manhattan, quer por milhões de espectadores que assistiam pela TV o ataque hediondo.

Ao menos três brasileiros mortos constam na lista de vítimas do Memorial & Museu Nacional do 11 de Setembro: Ivan Kyrillos Fairbanks-Barbosa, Anne Marie Sallerin Ferreira e Sandra Fajardo-Smith.


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