Artigo

Da França ao Caminho Grande: a história do Colégio São Vicente de Paulo

Lira Júnior *

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

Nos primórdios era Upaon Açu, a Ilha Grande; se tornou depois a única capital do Brasil fundada por franceses. Foi decantada na poesia de Gonçalves Dias como a Terra das Palmeiras, talvez seja por isso que passaram a chamá-la também de Atenas Maranhense. O som cadenciado e ritmado que vinha das periferias a tornou a Jamaica Brasileira. A resiliência e a resistência de seu povo – estão aí a Balaiada e a Revolta de Beckman para provar isto – deu a ela o título de Ilha Rebelde. A receptividade, hospitalidade e o carisma de seus habitantes transformaram-na em Ilha do Amor. Esta é a São Luís que a irmã Jeanne Mahieu encontrou em 1941. Uma cidade em nítida expansão geográfica e com uma explosão demográfica sem controle. Aquele núcleo urbano que fora projetado pelo engenheiro Francisco Frias de Mesquita logo após a expulsão dos franceses, em 1615, já não se mantinha mais em sua originalidade. A cidade havia crescido, e muito, para além dos limites arquitetônicos que lhes foram impostos pelo próprio Frias de Mesquita. Espraiava-se agora para além dos limites da Praia Grande, o seu núcleo urbanístico original. Novos bairros erigiam-se através da passagem do antigo Caminho Grande, eram eles: Diamante, Fabril, Liberdade, Vila Passos, Monte Castelo, Apeadouro, Jordôa, Cavaco, João Paulo, Túnel do Sacavém, Filipinho, Outeiro da Cruz, Cutim e Anil. Estes eram os bairros fabris, formados por operários, uma vez que ao longo do Caminho Grande foram instaladas as primeiras fábricas da cidade.

O aumento populacional e a consequente expansão geográfica provocada por ele, foram os responsáveis diretos pela criação de uma infraestrutura mínima que pudesse atender às necessidades essenciais da população daquelas imediações. Por esta razão, o caminho grande passou a abrigar também o Matadouro Modelo, o Cemitério da Vila dos Passos e as paradas dos bondes, que garantiam a mobilidade dos operários até os seus locais de trabalho.

Foi nas entranhas do Caminho Grande, precisamente no Bairro do João Paulo, que brotou a semente visionária que fez nascer o Colégio São Vicente. O Caminho Grande - que atualmente é formado pelas Avenidas Getúlio Vargas, São Marçal e João Pessoa - se constituía em um importante via arterial que ligava o centro comercial, localizado na Praia Grande, às áreas periféricas, situadas no entorno das incipientes fábricas que nasciam.

O Colégio São Vicente de Paulo, portanto, brotou nas terras do João Paulo graças à expansão geográfica da cidade, trazida pelo Caminho Grande. Aprouve Clio (musa grega da História) que as trajetórias da França e de São Luís se encontrassem mais uma vez. Agora seria no ano de 1941 do século passado, quando a irmã Jeanne Mahieu e as demais filhas de São Vicente, aportaram em terras gonçalvinas , deixando a sua terra natal, a França, para plantarem a semente de uma obra que já nascera grande. O trabalho seria árduo, mas a terra era boa e havia a perspectiva da frutificação de boas sementes.

A primeira dessas sementes foi lançada ainda em 1941 quando a irmã Mahieu conseguiu ver o que ninguém mais enxergava. De um terreno inóspito, que já havia abrigado uma casa de cômodos, um clube de carnaval, uma fábrica de sabão e a casa humilde de uma trabalhadora doméstica; cravado no coração do Caminho Grande, irmã Mahieu viu nascer o fruto embrionário de uma grande obra. “Quanta coisa se poderia fazer aqui”, disse ela, profeticamente, na ocasião. Passados 80 anos, o CSVP arvora-se em ser um dos centros educacionais mais tradicionais de São Luís, educando gerações e servindo às famílias uma educação comprometida com os valores éticos e cristãos tão caros ao mundo atual. As irmãs fundadoras, sob o olhar profético e visionário da irmã Mahieu, entenderam que a educação era uma vocação e que, portanto, deveria ser encarada como um sacerdócio, exercida com paixão e muito boa vontade; eis aí os alicerces sobre os quais foram construídos os fundamentos de uma obra que já nasceu, visionariamente, grande.

Vida longa ao CSVP, parabéns colégio São Vicente de Paulo !!!!

* Historiador por formação e professor com orgulho

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