Após a conquista da Fada

"Skatemania": o novo fenômeno e a falta de apoio ao esporte

Lojistas apontam elevação na procura por itens relacionados ao skate; em contrapartida, faltam espaços mais adequados para a prática

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h15

[e-s001]São Luís - O esporte, seja lá qual for o escolhido, forma caráter e cidadania. É por meio dele que os jovens se formam como pessoas, sendo influenciadores no mundo social. É inquestionável o papel no desenvolvimento de qualquer país ou território com o fomento saudável do futebol, vôlei, basquete, surf, skate. Sim, o skate, que há pouco tempo virou modalidade olímpica e está, intrinsecamente, relacionado à produção de talentos no Maranhão.

Há seis anos surgia um fenômeno nas ruas e avenidas de Imperatriz, segunda maior cidade do estado. Ainda conhecida como Jhulia Rayssa nas primeiras competições, a “Fadinha do Skate” – em alusão à fantasia de fada nas primeiras aparições em vídeo, em 2015, em especial, manobrando por calçadas da terra natal – era e é simplesmente uma mistura rara de talento e oportunidade.

Este misto proporcionou que, na segunda-feira, dia 26 de julho – a jovem, agora Rayssa Leal, se tornasse a medalhista mais jovem da história do país. A maranhense, com sua simplicidade, graça e desenvoltura elevou o interesse por um esporte que era relacionado sempre à fama de drogados e outros perfis negativos de indivíduos.

A “skatemania” atual, seja por discussões em grupos de WhatsApp, ou acessos a sites especializados, ou pela aquisição de acessórios relacionados ao esporte nos últimos dias, pode e deve perder forças daqui a algumas semanas ou anos. A meta é, neste momento, inverter esta lógica e aproveitar o bom momento do esporte para formar outras “Rayssas” ou cidadãos ou cidadãs.

Atualmente, o skate no Maranhão ainda busca representatividade. Não há espaços, em saldo adequado, prontos para a recepção de novos skatistas e o ente organizador de competições, neste caso, uma federação específica, está inativa. Resta aos adeptos da modalidade se unirem a ligas independentes e a iniciativas de abnegados que lutam pela prática do esporte em um estado e um país cujo apoio a este setor ainda é insuficiente para atender a todas as necessidades.

Desde o surgimento...

Dados históricos e apoiados pelos seguidores do esporte apontam que os primeiros relatos da prática do skate são da década de 1930, no interior dos Estados Unidos. Algumas lojas de brinquedos, à época, perceberam que as crianças – assim que quebravam a parte de cima do patinete – permaneciam com a brincadeira somente “com a parte de baixo” do acessório.

No entanto, apesar da “criatividade”, o skate, como peça de uso na prática, somente surgiu na década de 1960, quando surfistas da Califórnia (EUA) redefiniram o skate encaixando rodas de patins em um pedaço de madeira que “imitava” a prancha.

Como o mercado do surf estava em alta, a modalidade (de Ítalo Ferreira, outro medalhista olímpico) ajudou a impulsionar o skate da maranhense Rayssa Leal. No início era chamado de “sidewalk surfing”, ou seja, surf de calçada, e rapidamente se espalhou pelos EUA.

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Em São Luís
Na capital, de acordo com a galera skatista, a pista considerada precursora ou mais antiga e que ainda é vista na cidade é a do Complexo Esportivo Canhoteiro, no Outeiro da Cruz. Construída em 1989, a pista, neste período e nos anos subsequentes, conseguiu parcialmente “alavancar” o esporte, posicionando o skate em um segmento social específico.

Nomes como Rodrigo Maluf, Mauro Moreira, Paulo Renato e outros surgiram a partir da iniciativa. Posteriormente, outras pistas foram sendo viabilizadas. No Complexo da Lagoa da Jansen, sob iniciativa do Governo do Maranhão, a pista de skate foi construída e, na ocasião, formada por uma área de street completa e uma minirrampa com quatro metros de largura, em um espaço oval de 32 metros de comprimento, 28 metros de largura e 1,6 m de altura.

Atualmente, a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Sedel) considera duas pistas habilitadas para o exercício do skate, ou seja, a pista do projeto de urbanização da Lagoa da Jansen e o espaço próprio no Complexo Canhoteiro, no Outeiro da Cruz.

Outras pistas
Dentre os locais que ainda registram presença de skatistas, estão além da Lagoa da Jansen e do Complexo Canhoteiro, pistas na Praça das Mercês; na Fonte do Bispo; no Recanto dos Vinhais; no Cohafuma; no Parque do Itapiraçó; em São José de Ribamar (considerando pistas na Grande Ilha) e no Maiobão.

Um local também conhecido na cidade com concentração comum de skatistas é a Praça Gonçalves Dias, no Centro, apesar de não ser adequada à prática.

Num dos espaços de homenagem a um dos grandes nomes da literatura local, os skatistas usam os bancos e outros ornamentos, a princípio, usados para embelezar a área, para manter a rotina de “treinamentos e manobras”. Nos últimos dias, os skatistas ainda usaram o espaço, porém com menor frequência.

SAIBA MAIS

[e-s001]O boom da Rayssa, que O Estado acompanhou

A vitória de Rayssa Leal se soma ao período em que O Estado – que acompanhou desde o início a carreira da skatista – era conhecida somente como Jhulia Rayssa. Em 2016, Rayssa competiu em Blumenau, em Santa Catarina, na Taça Santa Catarina de Skate Street Mirim. O torneio a qualificou para o Brasileiro do ano seguinte. Antes disso, ela começou a andar de skate de forma praticamente intuitiva e desenvolvendo o seu próprio talento, num fenômeno raro e, ao mesmo tempo, em uma combinação perfeita entre talento e oportunidade, a partir da influência de um amigo de seu pai, seu Haroldo.

O interessante é citar que, para seguir a este torneio, Rayssa (ou Jhulia Rayssa), que ainda vivia em Imperatriz (MA), precisou organizar com familiares uma campanha pela internet, contando com o apoio de fãs e outros colaboradores. Em pouco tempo, o dinheiro foi arrecadado e o sucesso começava, aos poucos, a ser plantado.

Foi a primeira vez que – após já viralizar na internet com um vídeo “skateando” pelas ruas de Imperatriz e cuja peça foi repostada por, nada mais nada menos do que Tony Hawk (considerado o Pelé do Skate), Rayssa viajou para a disputa de uma competição.

Ela voltaria para Santa Catarina quatro anos mais tarde, quando disputou – já bem mais reconhecida nacionalmente – uma etapa do brasileiro de Skate.

Sua ascensão rápida e consistente serviu de inspiração para muita gente. Neste intervalo, ou seja, entre 2015 e 2020 – ela também conquistou uma etapa da Skate Street League Skateboarding (SLS) e fez história ao se tornar, na ocasião, a skatista mais jovem a atingir tal feito.

Em 2019, no Mundial de Skate Street, Rayssa Leal foi vice-campeã mundial, sendo derrotada na ocasião apenas por Pâmela Rosa, que não chegou às finais dos Jogos Olímpicos em Tóquio, deste ano. Rayssa Leal, Pâmela Rosa e Letícia Bufoni e tantas outras conseguem mudar a imagem de um esporte, antes visto de forma equivocada como algo marginalizado e praticando por determinados perfis de cunho negativo da sociedade.

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