Homenagem

"O centenário do Bisão Branco"

Poeta Luis Augusto Cassas celebra com poema de densidade xamânica, o centenário de seu pai, desembargador Araujo Neto, nascido em 15 de maio de 1921

​Luis Augusto Cassas* / Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16
Araujo Neto, as cores ao fundo, testemunham o seu reencontro com a eternidade
Araujo Neto, as cores ao fundo, testemunham o seu reencontro com a eternidade (pai de cassas)

São Luís - A ancestralidade reconfigura o mito atualizado no embate entre ser e tempo. O poeta Luis Augusto Cassas, celebra os 100 anos da figura paterna, o desembargador Raimundo Nonato Correia de Araujo Neto, (AraujoNeto) nascido em 15 de maio de 1921, Pedreiras, Ma, desaparecido em 1º. de maio de 1979, em São Luis do Maranhão.

Cassas esculpe no totem familiar figuras de devoção à figura guerreira do pai -a memória ancestral da transmissão dos fundamentos, os códigos temporais, os ciclos do ser. O poema “O Centenário do Bisão Branco”,retoma o discurso de reverência familiar à memória do chefe do clã, esgrimindo cores de densidade xamânico-profética, explorando a dimensão da cotidianidade dos passos da caminhada do velho pai.

Araujo Neto, o viver entre o ser e poder

Araujo Neto teve longa folha de serviços prestados ao Maranhão. Formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, foi no retorno à sua terra natal, Promotor de Justiça, Deputado Estadual, Procurador Geral do estado, Secretário de Interior, Justiça e Segurança, Procurador dos Feitos da Fazenda e Desembargador, novamente Secretário de Justiça, tendo presidido os Tribunáis de Justiça e Eleitoral.

Araujo Neto, segundo o historiador Milson Coutinho

“Descende esse Juiz de 2ª. instância de família ilustre do Vale do Mearim, onde se contam jornalistas, poetas, escritores e altos comerciantes.”

“Nasceu na cidade de Pedreiras (berço de seu tio, o poeta Corrêa de Araujo) em 15.05. 1921 e ali mesmo cursou as primeiras letras.”

“O curso secundário fê-lo em São Luis, no tradicional Liceu Maranhense e no afamado Colégio “Cysne”, do Prof. Dr. José de Arimathéa Cysne, mestre de muitas gerações de intelectuais maranhenses.”

“Transferindo-se para Recife, ali tomou grau de bacheral em Ciências Jurídicas e Sociais, na turma de 1945.”

“De retorno ao Maranhão, foi nomeado Promotor Público da Comarca de Itapecuru-Mirim, sendo sucessivamente promovido, e sempre por merecimento, para as Comarcas de Caxias e de São Luis.”

“A 5 de maio, chegava a desembargadoria pelo “quinto”, destinado ao Ministério Público e aos advogados.”

“Nas lides do parlamento, destacou-se o Deputado Araujo Neto (UDN) como líder de sua bancada, e dispondo de altos recursos de oratória e retórica, não poucas vezes estonteou as bancadas governistas, com seus apartes fulminantes e suas intervenções arrasadoras.”

“Exerceu o mandato popular nas legislaturas de 1951/1955 e 1955/1959.”

“Secretário do Interior e Justiça no Governo Newton Bello, foi ainda Procurador Geral do Estado e Procurador dos Feitos da Fazenda”.

“Empossado desembargador em 1970, galgou a Presidência da Corte, posteriormente Presidente do Tribunal Regional Eleitoral.”

“Foi Secretário de Justiça nos Governos Lobão e Ribamar Fiquene.”

“Profundo conhecedor das coisas e gentes do Maranhão.”

Araujo Neto foi casado com Miriam Cassas de Araujo, com quem caminha pelos campos da eternidade. Filhos, Luis Augusto, Mariano, falecido, Antonio Carlos, Raimundo Araujo Junior e Miriam. Muitos netos e bisnetos.

O CENTENÁRIO DO BISÃO BRANCO

Luis Augusto Cassas

O centenário do pai

transcorre em branco

empunhando a pluma branca

que fazia justiça com as mãos

O penteado de nuvens

realça a cordilheira do rosto

19 anos de voto de silêncio

robusteceu-lhe a voz

O silêncio a cor do forte

acende arco-íris aos ventos

O que é o caminho das pedras

senão puro arrebatamento?

O receio de pisar descalço

as alvas areias da praia

não mancharam o sol

mas fortaleceram os ossos

Puro marfim a jornada

dos cavalos na neve

mas a alma sabe do combate

e o tempo cheira a leite

As manchas solares e lunares

renovaram os ciclos de pureza

cintila sobre seus descendentes

o paletó taylor 51 de linho branco

Não há mais explosões nas pradarias

O cachimbo da paz partilha-o o clã

sobre a manhã despida de raios

brilha taurus/aldebarã

* Luis Augusto Cassas é poeta, publicou 25 livros de poemas, dentre eles, “A Paixão Segundo Alcântara”, “Rosebud”, “Evangelho dos Peixes para a Ceia de Aquário”, “Em Nome do Filho”. Desde 2021, circula “Quatrocentona: Código de Posturas e Imposturas Líricas da Cidade de São Luís do Maranhão”. À venda, na Livraria Amei, no São Luis Shopping.

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