São Luís - Como centro de ensino e pesquisa para a área da saúde, o Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA) gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), tem buscado cada vez mais aprimorar a sua qualidade acadêmica e científica. Diante do atual cenário de pandemia, o hospital não se furtou em contribuir com os estudos sobre a Covid-19 e teve recentemente um estudo publicado na renomada revista JAMA Pediatrics.
O estudo é coordenado por pesquisadores da área perinatal da Universidade de Oxford e fornece informações detalhadas sobre os efeitos da Covid-19 na gravidez. Chamado de INTERCOVID, ele revela o risco aumentado de formas graves da Covid-19 para mulheres grávidas infectadas e sintomáticas, com SARS-CoV-2.
O artigo é fruto do trabalho de mais de 100 pesquisadores e que envolveu mais de 2.100 mulheres grávidas (com e sem diagnóstico da Covid-19) de 43 maternidades em 18 países incluindo os de baixa, média e alta renda, em todo o mundo. O estudo revelou que o risco de complicações de doenças graves, em mães e em recém-nascidos, é substancialmente maior na presença da doença.
No Brasil, o estudo foi desenvolvido no HU-UFMA, pela médica neonatologista Marynéa Vale, em conjunto com a médica neonatologista, Patrícia Marques, e as enfermeiras Ana Cláudia Garcia Marques e Rebeca Aranha Arrais Santos Almeida, sob a coordenação da professora doutora Maria Albertina S. Rego, da Universidade Federal de Minas Gerais.
O estudo é único porque cada mulher acometida por Covid-19 foi comparada com duas mulheres grávidas não infectadas (controles), no mesmo período e hospital. E pela primeira vez, os resultados do estudo INTERCOVID fornecem informações comparativas detalhadas sobre os efeitos do Covid-19 na gravidez, ressaltou um dos pesquisadores da Universidade de Oxford, Aris Papageorghiou.
No artigo, os pesquisadores evidenciaram que o risco para mães e crianças é maior do que se pensava no início da pandemia, e que as medidas prioritárias de saúde devem incluir mulheres grávidas. Quantificar os efeitos da Covid-19 na gravidez com dados robustos é importante para assegurar o melhor cuidado possível e que recursos de saúde, como vacinas, sejam alocados oportunamente.
Os autores identificaram que mulheres com Covid-19 durante a gravidez estavam em maior risco de complicações, como parto prematuro e pré-eclâmpsia, demandando admissão em terapia intensiva com risco aumentado de morte. Os recém-nascidos de mulheres infectadas também estavam em maior risco de doenças graves e complicações, principalmente devido à prematuridade. A boa notícia, no entanto, é que os riscos em mulheres infectadas sem sintomas e as mulheres não infectadas eram semelhantes.
Os pesquisadores da Universidade de Oxford destacaram a importância de coletar dados multinacionais em grande escala rapidamente durante uma crise de saúde, o que permitiu a conclusão do estudo em apenas 9 meses, usando infraestrutura já instalada a partir do projeto multicêntrico INTERGROWTH-21 de Oxford.
O professor José Villar explicou como foi possível o estudo “A infraestrutura existente do INTERGROWTH-21 permitiu que pesquisadores em todo o mundo implementassem esta iniciativa urgente em tempo recorde, e o compromisso de todos com o estudo foi notável. Examinar os efeitos de longo prazo nas mães e crianças é o próximo desafio”. Stephen Kennedy, professor de Medicina Reprodutiva da Universidade de Oxford, que co-liderou o estudo, concluiu que “agora sabemos que os riscos para mães e recém-nascidos são maiores do que os assumidos por nós no início da pandemia e que as medidas de saúde conhecidas, quando implementadas, devem incluir mulheres grávidas”.
“Felizmente, aconteceram poucas mortes maternas; no entanto, o risco de morrer durante a gravidez e no período pós-natal foi 22 vezes maior em mulheres com Covid-19 do que em mulheres grávidas não infectadas”. Já a professora Maria Albertina ressaltou os resultados nos recém-nascidos “Cerca de 10% dos recém-nascidos de mães com teste positivo para o SARS-CoV-2 também testou positivo para o vírus durante os primeiros dias pós-natal”, destacou Marynéa Vale.
Segundo Patrícia Marques a amamentação não se associou à infecção. E os resultados apontam para uma possível associação do parto cesáreo a um risco aumentado de infecção no recém-nascido”. Ela ainda acrescentou que a informação ajudará as famílias, pois agora está claro que é necessário fazer de tudo o que estiver alcance para evitar a infecção. E ainda fortalece a necessidade de se oferecer vacinação às mulheres grávidas.
O artigo completo, Covid-19 na gravidez, está associado a níveis maternos de morbidade, mortalidade, parto prematuro e complicações neonatais graves. O artigo pode ser acessado aqui e aqui
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