Entrevista - Wilson Marques

"Escrever para crianças permite tratar temas de forma lúdica"

Autor de dezenas de livros, o escritor Wilson Marques tem obras com a chancela de grandes editoras do Brasil; entre suas produções livros sobre as lendas e o folclore maranhenses

Carla Melo / Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Wilson fMarques é de Caxias
Wilson fMarques é de Caxias (Wilson Marques )

São Luís - Autor maranhense que se dedica, principalmente, à literatura infantojuvenil, Wilson Marques tem como fonte de inspiração as histórias contadas de geração para geração, “causos” que ouviu desde a infância e que moldaram parte do que é hoje. Assim, deu forma e conteúdo a personagens e lendas maranhenses que se materializaram em livros como “Quem tem medo de Ana Jansen?”, “O tambor do Mestre Zizinho”, “Adivinha quem foi o miolo do boi”, “Criações – Mitos Tenetehara”, “Os dois irmãos e o Olu”, “A lenda do Rei Sebastião e o touro encantado” e “O jovem João do Vale” (que resgata a trajetória artística e pessoal do cantor e compositor maranhense João do Vale), entre outros, muitos deles publicados por grandes editoras do país. Os mais recentes são “Fábulas de La Fontaine em cordel” e “As aventuras de Wirai”. Wilson Marques é natural de Caxias (MA), jornalista formado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Trabalhou como repórter em veículos de comunicação em São Luís e em São Paulo. Atuou como fotógrafo e redator publicitário. Na entrevista abaixo, ele fala sobre carreira, mercado editorial e outros assuntos.

Fale sobre seus últimos livros, “Fábulas de La Fontaine em cordel” e “As aventuras de Wirai”.
Wilson Marques - O Fábulas de La Fontaine foi escrito faz tempo e permaneceu engavetado por alguns anos. As aventuras de Wiraí é mais recente e trata-se de um conto guajajara, sobre um garoto que se perde da mãe na floresta e a partir daí passa a viver uma aventura repleta de armadilhas, até encontrar o caminho de casa. Ambos foram publicados pela Kit’s Editora e entraram no PNLD Literário, programa do governo federal que distribui livros para escolas de todo o país. Ambos também foram escritor em versos de cordel.

Você tem enveredado pelo universo do cordel em diversas produções. O que te motivou a escrever a partir deste gênero?
Wilson Marques - Desde criança, quando entrei em contato com a literatura de cordel, embora a oferta fosse mínima, me encantei com as rimas, a criatividade e o humor desse tipo de literatura popular. Quando já escrevia livros, conheci o escritor Marco Haurélio, que tem muitos livros publicados nessa e em outras áreas. Apaixonado pelo cordel, ele me estimulou e revisou minhas primeiras produções. Levo em conta também para continuar produzindo um razoável interesse das editoras pelo gênero, de modo que publiquei cinco livros em cordel, entre eles, “A lenda do Rei Sebastião e o touro encantado”, pela Mercuryo Jovem.

Fale sobre os prazeres e as dificuldades em escrever para crianças.
Wilson Marques - Escrever para crianças permite tratar de qualquer tema, mesmo os mais difíceis, como morte, etc, de forma lúdica. Então, talvez uma das grandes dificuldades, seja justamente essa, dar a esses temas difíceis um tratamento adequado às crianças.

Que conselhos você daria para quem deseja começar a escrever livros infantis?
Wilson Marques - De saída, ler o máximo do que foi e está sendo escrito de literatura infantil por aqui. Daí é mãos à obra, porque escritor se forma com estudo, mas sobretudo na prática. Sem perder de vista que o mercado não é um mar de rosas e que publicar livro para crianças é muito mais caro do que para adultos.

Neste período de pandemia, muitos escritores se debruçaram sobre novos projetos. E você, como tem vivido a pandemia? Achas que é um período que estimula a criatividade ou o contrário?
Wilson Marques - Acredito que cada um viveu e está vivendo a pandemia de um jeito, aproveitando seu tempo de formas diversas. Eu, particularmente, estou trabalhando numa coleção de cordéis antigos, a fim de publicar num futuro próximo textos de cordéis em domínio público, mas que pela beleza e qualidade literária, se tornaram clássicos.

Como você escolhe os temas para suas publicações? Além do folclore regional, quais temas ainda não abordou em livros mas que deseja fazê-lo?
Wilson Marques - Escolho temas que sejam ao mesmo tempo estimulantes e que tenham chances de encontrar um lugar ao sol no mercado, ou seja, de se tornarem minimante comerciais, que possam ser aceitos em editais, etc. Então é mais ou menos o seguinte: aproximar o seu interesse pelo tema, com aquilo que pode interessar os leitores. O fato é que você pode até achar seu livro lindo e maravilhoso, mas se os leitores não se interessarem, eles vão encalhar. E ninguém gosta disso.

Como você vê o cenário literário maranhense? Quais os principais obstáculos que enfrentam quem deseja ingressar nesta área? Há como superá-los?
Wilson Marques - O cenário literário maranhense melhorou um pouco, do meu ponto de vista, com o surgimento da Amei - Associação Maranhense dos Escritores Independentes. Desconheço cidade que tenha uma livraria, dentro de um shopping importante, voltada exclusivamente para a venda de livros de autores locais. Isso é um luxo. Embora a gestão de Edivaldo Holanda tenha fulminado o concurso literário Cidade de São Luís, algumas coisas interessantes aconteceram em nível municipal, através da Secretaria Municipal de Educação: um projeto de valorização de autores locais (que pode e deve ser melhorado), com aquisição de obras de escritores que vivem e trabalham aqui, e aquisição das girotecas, bibliotecas móveis que garantem em seu acervo boa quantidade de livros de autores maranhenses. No âmbito estadual, a coisa foi mais tímida: em seis anos de administração, um único edital voltado para literatura foi lançado pelo governo, e escritores maranhenses, com raras exceções, permaneceram de fora dos acervos de bibliotecas públicas e escolares.

No caso dos livros infantis e juvenis, a maioria vem com ilustrações. Fale sobre a parceria entre o escritor e o ilustrador a partir de suas experiências.
Wilson Marques - Escritores são tentados a meter a colher no trabalho dos ilustradores, mas, sem prejuízo de uma boa troca de ideias, o mais legal, me parece, é deixar que o ilustrador trabalhe livremente. Eu quase sempre prefiro ser surpreendido no final, com os resultados, que sempre tem sido muito bons. Como por exemplo, o livro “Adivinha quem foi o miolo do Boi” (Editora do Brasil) ilustrado pela carioca Luciana Grether. Antes de ser finalizado, vi apenas duas ou três ilustrações. Quando pensei que não, o livro estava pronto, e simplesmente deslumbrante.

Seus livros têm sido publicados por editoras nacionais, mas a maioria dos escritores maranhenses ainda fazem publicações independentes. Na sua opinião, qual a importância das editoras para o sucesso de um livro?
Wilson Marques - Publicar por editoras permite que você tenha uma divulgação mais ampla, e que seus livros possam participar de editais governamentais, como do já citado PNLD. Além disse, você não mete a mão no bolso, porque as editoras bancam os projetos. Já para publicar livros independes, você gasta alguma grana, tem um campo de distribuição geralmente pequeno, mas tem a vantagem, se isso acontecer, de ganhar mais com as vendas, pois o lucro inteiro será seu. Sobre sucesso de livro, publicar por editoras, mesmo grandes editoras, não garante sucesso de livro. Fórmulas para o sucesso, me parece, são bem difíceis. O danado fica mais por conta do imponderável.

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