São Luís - No último dia 18 de setembro nosso querido poeta José Maria Nascimento completou 80 anos de vida bem vivida. Não é pouca coisa. Iniciou sua trajetória poética em 1960 com o lançamento, aos 20 anos de idade, de “Harmonia do Conflito”. De lá para cá foram 14 livros de poesia trazidos a público, talvez menos apenas, em matéria de poesia em todo o Maranhão, que o seu grande amigo Nauro Machado e José Chagas.
José Maria Nascimento nasceu no subúrbio de São Luís, no Areal, hoje bairro do Monte Castelo, filho de João Pereira do Nascimento, um simples vigia do Matadouro, e de Neuza da Silva Nascimento, uma modesta dona de casa. É o caçula de quatro irmãos: Nonato, Mário, Jorge e Guilherme. E foi com simplicidade que enfrentou a vida, apesar das dificuldades, das adversidades muitas, das angústias que lhe aguardavam em cada esquina. Assim, nascido em 1940, em plena efervescência da II Guerra Mundial, fez (na nomenclatura da época) o Jardim de Infância, 1ª e 2ª séries e o restante do Primário em três Grupos do Estado e no Colégio Santa Terezinha. O 1º ano ginasial jamais foi concluído. O poeta abandonou completamente os estudos formais. Nesse período dedicou-se com entusiasmo às serestas, lutas-livres e ao twist, dança em moda na sua adolescência.
Vencido esse entusiasmo, passa a frequentar a Biblioteca Pública Benedito Leite e torna-se um autodidata. Apaixona-se pela literatura e estuda os livros, e ali passa mais de três anos copiando diversos autores da literatura brasileira e universal, tanto poetas quanto de prosa. Publica no “Jornal Pequeno” seu primeiro poema. Chama a atenção dos literatos da época, mas esses acham que ele estava se estragando com a vida boemia e as noitadas na Zona do Baixo Meretrício, a famosa ZBM, única opção para as altas madrugadas da época. Aos 16 enamora-se de uma normalista e faz poemas apaixonados para ela. Dos 18 aos 19 serve ao Exército.
Funda, com outros companheiros literatos, a rebelde Academia Maranhense dos Novos – AMANO. Nessa época, morre-lhe o pai, grande incentivador do seu futuro como poeta. Arrasado, entrega-se de vez ao alcoolismo. É um período de muita dor, muito sofrimento, muita angústia. Nos raros momentos de lucidez, consegue exteriorizar o que lhe vai no espírito. Em luta contra o desespero, consegue escrever seu livro de estreia “Harmonia do Conflito”. Este livro vence o concurso promovido pela AMANO e é publicado por esta Academia. Tem então 20 anos, e estamos na década de 60. O poeta, jornalista e crítico literário José Chagas afirmou:
“José Maria Nascimento começa a identificar-se consigo mesmo, num profundo redescobrimento, e traça um roteiro lírico, através do qual suas vivências ganham legítimas exteriorizações condicionadas e uma temática livre, que varia em função da inquietude do espírito, nota característica neste moço pertencente a uma geração de intelectuais que quase não encontra em nosso tempo outro apoio senão o da própria angústia.”
José Maria Nascimento foi Diretor do “Suplemento Literário do Correio do Nordeste”. Na verdade, colaborou em quase todos os jornais de São Luís. Por sua colaboração, ganhou alguns prêmios dos suplementos do “Jornal O Dia” e do “Jornal O Debate”, todos eles organizados pelo saudoso poeta Carlos Cunha.
Em 1970, nosso poeta, junto com sua mãe e seu irmão, o poeta e jornalista Jorge Nascimento, passa a residir em Recife, onde ficou durante seis anos. Por outro lado, como não podia deixar de ser, ali deu vazão à veia de boêmio
“... jóquei domador de um cavalo em pelo e por ele montado em madrugada (ou noite) de espasmódica bebedeira que o levaria às barras de uma prisão no Recife, por onde lhe ouvi o vencedor grito de despedida: Ó Nauro, eu estou aqui”,
como lembrado por Nauro Machado. Na verdade, José Maria Nascimento afirma que era uma bela manhã de domingo ao ser flagrado a galopar “meio bêbado” em cima de um cavalo nu em pelo (o cavalo) na animada praia de Boa Viagem.
Dando prosseguimento às suas aventuras, na capital pernambucana conheceu, entre outros intelectuais, Mauro Mota, e mutuamente identificados pela poesia, se tornaram grandes amigos.Conheceu também Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho, César Leal e Valdemar de Oliveira, personalidades de destaque do romance, da poesia e do teatro, respectivamente.
Após dois anos de convivência com a intelectualidade e de contato diário com o povo do Recife(PE), principalmente os feirantes e frequentadores da feira, costumava observar os costumes, e os bairros onde se desenrolava a vida cultural recifense, escreveu o belo poema chamado “Graças & Danos ou Reflexos Noturnos do Recife”, quando em memorável concurso de âmbito nacional, disputou com mais de duzentos concorrentes, obtendo o primeiro lugar – o Prêmio Medalha de Ouro do Recife, em 1972, cuja solenidade realizou-se no secular e majestoso Teatro Santa Isabel.
Morre-lhe a mãe, amiga da qual nunca se separou desde a infância. Seus restos mortais são transferidos para o Cemitério do Gavião, em São Luís, para ficarem juntos aos do esposo.
A tristeza com a morte de sua mãe ele a expressa no poema “As Paisagens Nubladas”:
Mãe –olha como o horizonte tornou-se nublado
depois da tua descida às iluminações de novos mundos.
Meses noturnos infernais
ferem as cores da saudade
(...)
Vê a minha infância retratada nos olhos das tuas netas
pobres crianças sem a ternura da tua velhice.
(...)
As coisas me envolvem em seu silêncio
que a beleza não está no rosto – mas nos atos;
(...)
Mãe, se o abismo é fundo o rio é frio
(,,,)
Adeus – aqui eu findo antes que me acabe.
Amargurado, volta a residir na capital maranhense. Acha tudo mudado. Os amigos, ausentes. Os bares onde encontra os companheiros de cachaça e literatura, agora estavam cheios de pessoas estranhas. A solidão é grande. Passa tardes intermináveis na igreja do Carmo. Volta ao círculo do vício, desta vez com maior profundidade. Arrisca a vida na bebedeira. A existência perdeu a razão de ser. Vive um cotidiano de amargura, ceticismo, obscura tragédia, sofrimentos. Dores na alma. Angústia infindável, turbulências que só a solidão, o nada responde!
É internado às pressas na Liga Maranhense Contra Tuberculose. Na tranquilidade tristonha do hospital, naquela melancolia sem fim, naquela solidão tristonha escreve “Carrossel Ensolarado”. Ao sair da Liga, conhece a artista plástica e cantora lírica Maria da Graça, com quem vem a casar-se. Apesar do amor e do apoio de sua mulher, sua vida de farrista intensifica-se. Isola-se no bairro de Vinhais onde conclui “Os Verdes Anos da Maturidade”, tendo já na gaveta “Contemplação dos Templos”. Nasce a sua primeira filha Layane. Vai ao enterro do grande Erasmo Dias, onde faz um dramático discurso fúnebre. Muda-se para a Rua do Ribeirão, onde nasce sua segunda filha Tayane.
José Maria Nascimento é da geração de poetas imediatamente posterior ao famoso trio formado por Nauro Machado (2/8/1935-28/11/2015), Bandeira Tribuzi (2/2/1927-8/9/1977) e José Chagas (29/10/1924-13/05/2014). Embora todos fossem mais velhos que ele, a sua grande amizade era com Nauro Machado. Os dois poetas muito viveram a boemia na ilha de São Luís, nas ladeiras entre casarões, nos bares do Portinho e Praia Grande e nos cabarés da Rua 28 de Julho fazendo farras alcoólicas num tempo em que não havia outras diversões na cidade. Na verdade José Maria Nascimento é um dos últimos poetas da geração dele.
Se Nauro Machado expressava em sua poesia a angústia da solidão humana frente ao infinito, a busca de Deus como grito último e desesperado; se Tribuzi bradava contra a injustiça social, contra a crueldade do homem em fazer-se cruel contra o próprio homem; se Chagas cantava o lirismo da bela cidade de São Luís, seus casarões, telhados, ladeiras toda a sua beleza aparente e escondida, José Maria Nascimento trazia, das profundezas de seu sofrimento e solidão, uma poesia confessional. Do silêncio e da saudade redescobre a infância. Da infância traz os versos condoídos de “Estrada de Ferro (Os Verdes Anos da Maturidade)”:
Quem plantou neste rosto a nostalgia
e espancou a manhã da minha infância?
(...)
Sempre me encontrei onde nunca estava a minha infância.
Ultrapassada a infância, vive as turbulências da adolescência e da juventude. É quando vive entre Recife e São Luís. O verso Oh pai em que bonde ficou minha juventude? expressa bem essa angústia.
Tem na figura do pai um apoio muito grande para sua jornada existencial e poética. Ele lhe fará grande falta durante toda sua existência. É o que se vê no poema “Pedra”, de “Carrossel Ensolarado”:
-Adeus meu velho pai.
Os pássaros embalsaram a tua face
agora que te vais neste invólucro
de nenhum sonho para o paraíso.
São vários os poemas que o poeta dedica ao seu pai, como esta “Elegia Para o Meu Pai”, de “Os Frutos da Madrugada”:
(...).
E nesta angústia – pai – tu ainda flutuas
e me arrasta do presente que não tenho
para o passado em que morri contigo.
Se este delírio já te expõe um homem adulto
é que o teu sangue em minhas veias se revolta
e o ódio bruto de saber que nada sei da morte
me transporta para as portas de um inferno
em que um dia me ensinaste a evitar.
Este livro, “Os Frutos da Madrugada”, publicado quando o poeta completara 47 anos de idade, dá bem uma ideia de sua constante angústia, solidão e procura de um sentido maior para a existência e poesia. É o que se pode perceber do poema inicial da primeira parte “Colheita do Crepúsculo” (o livro está dividido em duas partes: “Colheita do Crepúsculo” e “A semente das Origens”):
Já lá se vão quarenta e tantos sofridos anos
que contemplo esta paisagem
sem encontrar nenhum sentido
(...)
E eu prossigo
Com as minhas quarentas quedas
De recheados tédios para o fim.
Das suas meditações nos bancos da beira-mar cria o livro “Constelação Marinha”, premiado pela Secretaria de Cultura do Estado. Neste ano, 1992, larga a bebida para sempre. Viaja pela primeira vez a São Paulo, com a família. Ali é convidado pela Associação Brasileira dos Escritores a um jantar na Pensão Jundiaí, onde recebe o título de pensionista. O poeta provinciano fica abismado com a presença de mais cem escritores naquela confraternização. De volta a São Luís, ganha o concurso literário do SIOGE ao lado de outros escritores. Tem a sua obra Ressonância do Barro vencedora, lançada.
Em 1995 lança “Turbulência’, em que consta o poema ‘Aniversário da Ilha”:
Oh! Ladeiras por onde a minha juventude
deslizando vai de manso para os mares.
Eu mesmo sou o porão de cada sobrado
que me olha e lamenta o abandono em que vivo.
Na orelha deste livro, Nauro Machado nos conta, grande amigo do poeta que era:
“Turbulência é o título do novo livro de poemas de José Maria Nascimento. Neste título vejo de fato fotografar-se retroativamente a passagem que foi a sua vida pregressa. E não falo, embora o pudesse fazer com conhecimento de causa, daquelas manhãs em que o poeta, roupa molhada e colada ao corpo magro, e esgueirando pelas portas abertas do Jornal Pequeno, saía em deambulação alcoólica pelos baixos do Portinho e do Desterro, adentrando por quase todas as portas de quase todos os botequins, verdadeiras biroscas daquela zona, que se lhe antepunham como portais em cuja fachada podia ler os versos dantescos: “deixai toda esperança, vós que aqui entrais”.
Desse mesmo livro, a coroar o que Nauro disse acima, o poema Jornal Pequeno:
Enquanto os ratos dormiam
sobre o acolchoado de fardos.
nos porões daquele sobrado
contemplava o tempo escorrendo
pelas dobras de cada parede
com os seus úmidos
segundos
minutos
horas
ofuscando o sol do meu inferno
Se o poeta sempre fez uma poesia intimista, em que a solidão e a angústia trazem o tom maior, em 1998 lança o espetacular “A Santa Ceia dos Renegados’, um livro em que a temática social está presente do começo ao fim. Trata dos menos favorecidos fazendo um apanhado geosocial de todos os bairros tradicionais de São Luís, expondo com bom humor e ironia a vida atribulada de ladrões, brincantes de bois, prostitutas e outras figuras folclóricas. É um livro único não só em seu conjunto particular como também na própria bibliografia maranhense. Neste volume estão enfeixados poemas satíricos ou de caráter burlesco, contudo dotado de profunda compreensão e fraterna tolerância pelos degredados da sorte.
Depois deste livro, a questão social ainda é abordada em ou outro poema, mas sua poesia sempre estará impregnada da substância de sua existência, a solidão e a dor. É o que se constata em “Elegia Para Rilke”, que faz parte de “Viajantes do Entardecer”:
Como se de tudo só a dor lhe resguardasse,
e a solidão costumeira fosse a sua graça;
e todo o coração nas trevas se iluminasse
(...)
Ainda desse livro, o poema Compulsão fala de maneira implícita dessa solidão e dor existencial e de modo explicito da sua incorrigível boemia:
(...)
vontade de andar novamente sozinho,
aos tombos, pelos sombrios becos da Zona;
(...)
Vontade de perambular pela Praia Grande,
vender meus livros aos turistas mais incultos,
trocar os meus sapatos por três garrafas de cana,
perturbar a vida dos vendedores de camarão,
mandar dona Santa, com seus miseráveis conselhos,
em uma manhã de ressaca, às raias do inferno.
Vontade de voltar a me apaixonar de mentira
como nos áureos dias da minha mocidade,
embriagado e chorando, pelas festas nos largos,
(...)
Pedir dinheiro emprestado aos ingênuos mendigos,
dispersos pelas escadarias da igreja do Carmo.
Vontade de jogar bilharina no bar do Cazuza,
solitário, pegar um fumo no Beco da Bost.
(...)
Relançar o meu primeiro livro no bar do seu Castro.
(...)
Ser expulso, por unanimidade, de cada quitanda,
ficar olhando para os lados, sem saber para onde ir.
A saudade do pai, o homem humilde, vigia do Matadouro, que incentivava o filho nas sendas da poesia, o acompanha mesmo na maturidade, nas lembranças da vida miserável que aquele sofria:
Agora estás liberto, finalmente,
do desvelo e da carne, vigia.
Pouco importa aos teus domingos
se na segunda te serviam boia-fria.
No matadouro, os quartos de boi
sangram a sua última agonia.
Para melhor qualidade do trabalho
o sonhar te foi proibido, vigia.
(...)
Aqui descansa João Baé.
Trocou a noite pelo dia.
Não foi um boêmio errante.
Na vida, um simples vigia.
José Maria Nascimento publicou ao todo 14 livros de poesia, dos quais nove foram premiados em concursos obtendo o primeiro lugar. Daremos, a seguir, o título de todos eles por ordem cronológica: “Harmonia do Conflito” (1960); “Silêncio em Família’ (1968); “Contemplação dos Templos” (1977); “Os Frutos da Madrugada” (1979); “Carrossel Ensolarado’ (1981); “Os Verdes Anos da Maturidade” (1987); “Constelação Marinha” (1992); “Ressonância do Barro’ (1993); “Turbulência” (1994); “Viajantes do Entardecer’ (2003); “Os Portais da Noite” (2006); “A Santa Ceia dos Renegados” (1998); “Colheita de Cactus” (1999); “Recreio na Ilha” (2015).
Consciente da passagem do tempo, da vida vivida, da infância, adolescência, juventude, maturidade, o poeta olha o tempo, e faz suas reflexões sobre o que a existência já lhe deu. É o que se vê em “A Idade Da Espera”:
Estou na idade da espera:
as esperanças se acabaram.
O azul do céu é um oceano
onde navego para o infinito.
Estou de volta às origens;
tudo me lembra a infância:
(...)
Um silêncio de sono em tudo.
O que se observa é que Jose Maria Nascimento em toda a sua obra vem revolvendo angústias, desesperos, insatisfações do comportamento humano numa carga de sofrimentos que ele enfrenta num cotidiano que configura sua autobiografia de gritante solidão. “Os Portais da Noite”, livro que se segue a “Viajantes do Entardecer”, demonstra um amadurecimento do poeta no desempenho de seu ofício, trazendo o fogo da paixão apesar da amargura, do ceticismo, da ironia, um confronto com a obscura tragédia do prosaico em meio à poesia.
Como afirma Jorge Nascimento, no Prefácio a este livro, sobre as habilidades e o destino do Poeta:
“Nasceu para ser poeta, como outros nascem para ser vocacionados para ser advogado, arquiteto, médico ou engenheiro, embora ultimamente venha se dedicando à arte da fotografia. Ainda assim, está fazendo poesia, como provam sua fotos artísticas de sobrados, mirantes e azulejos.
Surge-nos a indagação: teria José Maria Nascimento condições adequadas para exercer outro ofício, outra atividade, fora dos limites de sua predestinação poética? Cremos que não o teria; não sentir-se-ia bem no exercício duma outra função distante da poesia, barco dos seus dias singrando por escolhos, maremotos e tempestades, turbulências e pacificações.”
2020 traz uma dolorosa surpresa para o poeta. Este irmão, Jorge, que tanto o conhecia, de todos os irmãos era com quem tinha maiores afinidades. Também poeta, jornalista, ensaísta, já vinha doente há algum tempo, não resiste e no fatídico mês de agosto sucumbe. José Maria sente muito, pois era o irmão de quem mais gostava. Tinha 89 anos.
A perda do irmão o faz lembrar de outra, ocorrida em 2015, que lhe causou tanta dor. A de seu grande amigo, o poeta Nauro Machado, aos 80 anos. O poema que fez para o amigo foi uma forma de suavizar a dor. “Canto para Nauro Machado”:
Sei que dormes
Porque as folhas me falam do teu sono
E as conchas
Emitem a sonoridade dos teus versos
Transponho pontes sempre só
Na mendicância
De um amigo apenas
Enquanto a tarde
Se desfaz em cores
Hoje visito
A feira da Praia Grande
Onde vivíamos juntos
E não encontro nada
Que relembre o mês de agosto
(...)
(...)
(...)
As tormentas do nosso passado
Não se comparam
Com a dor que sinto agora
Quando lembro o teu corpo
Estendido no aveludado de um caixão
A plenitude de todas as glórias
Não preenche o vazio que ficou
Enfim, chega o tempo em que o horizonte não apresenta mais paisagens surpreendentes, em os sonhos não são mais madrugadas rompendo neblinas, em que o sol é o sol de todos os dias. O poema “O Envelhecer” nos diz:
Envelhecer é navegar em mar revolto,
É não pensar da morte das coisas tristes,
É estar sempre com o espirito cônscio
De que o amanhã à eternidade pertence.
Para concluir:
Bem-aventurados os que envelhecem puros
Na consciência lúcida das suas limitações,
fazendo do crepúsculo uma ponte para a vida.
O que é bom é saber que o poeta, ao completar 80 anos de idade, já está compondo outro livro com o belíssimo título de “O alvorecer do outono” que, dizendo ele, será o último. Eu duvido. Duvido levando em conta a sua sabedoria, sua experiência, e sobretudo sua inspiração e seu lirismo.
* Morano Portela é poeta e crítico literário
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