Um pouco de História

Referência em cuidados com a saúde mental, Hospital Nina Rodrigues tem quase oito décadas

Criado por meio do interventor federal, Paulo Ramos, a unidade de saúde hoje aposta na humanização de pacientes e funcionários

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18

[e-s001]São Luís - Quem passava, antigamente, pelos arredores do Hospital Nina Rodrigues era definido como corajoso ou corajosa. Afinal de contas, era comum as histórias de que, quem passasse em frente à porta da unidade de saúde, era levado para dentro e mantido como “prisioneiro”.

Um dos primeiros nomes da unidade corroborou com esta ideia. Em 25 de março de 1941, quando foi entregue o “Hospital Colônia dos Psicopatas”. A escolha do nome refletia o período em que a sociedade tratava as pessoas com distúrbios ou transtornos mentais, como peças “desumanas”, que somente serviam para permanecer enclausuradas e sujeitas a métodos que, nos tempos de hoje, seriam anticonvencionais.

Anos mais tarde, reestruturado, o local recebeu a referência de um dos nomes mais importantes da história da Medicina maranhense. Da concepção do terreno onde seria construída a unidade à inauguração, passaram-se dois anos. Os mais antigos que ainda residem atualmente no bairro Monte Castelo e adjacências, carregam na memória as lembranças de um lugar que mexeu com o imaginário popular e, ao mesmo tempo, auxiliou vidas.

Da compra ao erguimento do prédio
Segundo o pesquisador Hamilton Raposo Filho, em 1939, o Governo do Estado adquiriu do responsável pela Quinta dos Leões (onde estava situado o terreno em que seria erguido o hospital psiquiátrico), a área para a nova construção, pelo valor aproximado de trinta mil contos de réis.

A empresa responsável pelas obras foi a Construtora Leão, Ribeiro e Companhia Ltda, cuja sede estava situada no Rio de Janeiro (RJ). Com a revisão do projeto originalmente elaborado e a necessidade de extensão do espaço físico, em que seriam montadas as primeiras instalações da unidade, o Estado – detentor da responsabilidade dos serviços – foi obrigado a adquirir o terreno vizinho à obra. “Foi adquirida a Chácara Carmem, ao lado do terreno. Com isso, o custo de construção subiu”, disse a O Estado o pesquisador e psiquiatra, Hamilton Raposo Filho.

Ciente da necessidade de comprar a área vizinha, foi necessária a inclusão de um aditivo de trezentos mil contos de réis, que se somou aos outros setecentos e sessenta e sete mil contos já inclusos nos serviços preliminares.

Com as instalações prontas, coube ao interventor federal do Maranhão à época, Paulo Ramos e ao diretor do Departamento de Saúde do Estado, Barros Barreto, a responsabilidade de entrega da unidade. “O primeiro diretor da unidade foi o senhor Benedito Metre”, disse Hamilton Raposo.

Raposo é filho de Hamilton Raposo de Miranda, um dos diretores do Hospital Nina Rodrigues, na década de 1970. “Foram vários os nomes e importantes que passaram pela função”, definiu Hamilton Raposo Filho.


LEIA TAMBÉM:

Longe da fama de retiro para os "loucos", Nina transforma vidas


A criação do Nina e o desenvolvimento do tratamento mental no estado
Ainda de acordo com o artigo intitulado “O Hospital Nina Rodrigues é a história da psiquiatria maranhense”, do pesquisador Hamilton Raposo Filho, após o estabelecimento da unidade de saúde como referência no tratamento de doenças psiquiátricas, ainda no fim da década de 1940, o então Diretor do Departamento de Assistência aos Psicopatas, Adauto Botelho, cria o Serviço de Higiene Mental.

A partir da criação deste departamento específico na esfera do governo, Adauto Botelho determinou que outro médico, Odilon Resende, assumisse o serviço em acúmulo à função da diretoria do Hospital Nina Rodrigues, já que o então responsável pela unidade, Benedito Metre, havia sido transferido para assumir outro cargo no Rio de Janeiro (RJ).

Na década de 1950, Edson Teixeira passaria a ter a incumbência de ditar as regras no Nina Rodrigues, determinando ao colega, José Carlos Ribeiro, a chefia do ambulatório de saúde mental da unidade. Foi neste período que o pai de Hamilton Raposo Filho, Hamilton Raposo, integrou os quadros médicos da instituição.

Com a ascensão do Nina Rodrigues, começam a ser inauguradas na capital maranhense outras clínicas psiquiátricas. Uma das mais famosas chamava-se Clínica São José. Sem endereço definido pelo pesquisador, o local funcionou até o fim da década de 1960, sendo fechado por opção dos responsáveis.

Ainda na década de 1960, com o surgimento de estabelecimentos psiquiátricos e a evolução no estudo dos transtornos mentais, cujas percepções ainda eram praticamente desconhecidas do grande público, começam a ser recebidos, pelo Maranhão, profissionais com qualificação em outros estados e que puderam dar assistência técnica aos psiquiatras até então lotados no território estadual.

Por aqui, chegaram nomes como Edson Fontenele, Maria Olímpia Mochel, Alfredo Bacelar Viana, José Carlos Rodrigues e Raimundo Medeiros. Se por um lado estes nomes são desconhecidos do grande público, por outro, para os acadêmicos e profissionais do ramo, são verdadeiras referências no segmento do tratamento de distúrbios mentais no Maranhão.

No fim da década de 1970, o Maranhão – já como elemento central no segmento regional no atendimento psiquiátrico – registra a fundação da Associação Maranhense de Psiquiatria, e seu primeiro presidente foi Alfredo Bacelar Viana, que havia recém desembarcado no Estado.

[e-s001]Neste período, foi criada por um grupo de psiquiatras liderados por Heraldo Gomes Maciel, a Clínica La Ravardière. No período, é registrada ainda a criação da Clínica São Lucas, voltada exclusivamente para o atendimento privado.

A década de 1980 em diante significa a ascensão dos estudos psiquiátricos no Maranhão. Além de especialistas no atendimento público e privado, nomes conhecidos também se dirigem às academias, para a formação de futuros profissionais. No período, surgem nomes como Geraldo Melônio, Raimundo Teodoro, Hamilton Raposo Filho, Francisco Frazão e, principalmente, Ruy Palhano, sendo este último até hoje um dos nomes mais importantes no tratamento psiquiátrico no estado.

No fim da década de 1980, com a referência no segmento científico alcançado na psiquiatria, as principais jornadas e seminários locais passam a ser patrocinados pela Associação Maranhense de Psiquiatria ou por grupos de psiquiatrias.

No início da década de 1990, São Luís passa a receber a primeira unidade referência na psiquiatria da infância e adolescência, que presta serviços para a APAE, situada no Outeiro da Cruz.

SAIBA MAIS

O nome da unidade, Nina Rodrigues, é uma homenagem a um dos maiores maranhenses e brasileiro de todos os tempos. Raimundo Nina Rodrigues era filho do Coronel Francisco Telmo Rodrigues e de dona Luísa Rosa Nina Rodrigues.

Estudou no Colégio São Paulo e no Convento das Mercês em São Luís. Nina Rodrigues. Estudou Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro. Formado, Nina Rodrigues retorna a São Luís onde não é aceito pela imprensa, classe política e sociedade. Sem espaço, Nina retorna para a Bahia e se destaca como médico pesquisador na medicina legal, antropologia, religião, psiquiatria e psiquiatria legal.

Na capital baiana, Nina Rodrigues consegue o prestígio que, para muitos, era por seu mérito.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.