SÃO LUÍS - O Maranhão perdeu uma personalidade aguerrida e apaixonada pelas causas sociais. O maranhense Sálvio Dino Jesus de Castro e Costa faleceu ontem, aos 88 anos, vítima do novo coronavírus, deixando quatro filhos, entre eles, o governador Flávio Dino. A notícia da morte do advogado, jornalista, escritor, pesquisador e procurador aposentado circulou nas redes sociais e foi anunciada, de forma oficial, pelo chefe do Executivo Municipal em seu Instagram.
Na postagem, Flávio Dino diz que o pai teve uma vida de luta e ressalta o fato de ele ter tido o mandato de deputado estadual cassado pela ditadura militar, em 1964, acusado de comunista. “Tinha profundo amor pela vida. Lutou com humildade e coragem”, escreveu.
Comunicativo, engajado, corajoso e apaixonado por política e literatura, Sálvio Dino era um homem de fibra. Elegeu-se vereador nos anos 1950, por dois mandatos, e depois tornou-se deputado estadual, em 1962. No Parlamento, destacou-se pela garra e coragem, sempre saindo em defesa das causas sociais. Nunca se intimidava, apesar da maioria governista que tinha de enfrentar. Mas pagou um alto preço por isso.
O ex-presidente da Academia Maranhense de Letras, jornalista e escritor Benedito Buzar (cujo mandato de deputado estadual foi cassado pelo mesmo motivo e na mesma época) conta que o amigo e compadre Sálvio Dino vinha de um mandato vitorioso na Câmara Municipal de São Luís.
“Ele atuou de forma brilhante como vereador, em um dos períodos áureos da Câmara Municipal, à época com uma significativa representatividade de intelectuais. Era bem jovem e se destacou bastante. Anos depois, após ter o mandato de deputado cassado, passou anos fora da politica e se elegeu prefeito de João Lisboa. Depois, retornaria à Assembleia, com o mesmo espírito cívico, coragem e inteligência. Ele deixa uma grande lacuna na AML. Este ano, é o quarto membro que perdemos, algo inédito na história da instituição”, disse Buzar, que é padrinho do governador Flávio Dino.
Para o ex-presidente da República, José Sarney, a morte de Sálvio Dino significa a partida de um amigo de uma vida inteira. “Nós militamos juntos na política e na literatura, e fomos confrades na Academia Maranhense de Letras. Lamento profundamente seu falecimento”, destacou José Sarney em nota de pesar.
O ex-presidente destacou a trajetória de Sálvio na literatura e na política. “Era um escritor que deixou uma marca na literatura sobre o sertão do Maranhão com livros que são referências. Foi uma liderança marcante e consagrada no sul do Maranhão, notadamente em Imperatriz e João Lisboa. Deputado, secretário de Estado, prestou relevantes serviços. Desde o início de nossas vidas nos integramos em campanhas memoráveis de nossa geração, que marcou época no Estado”, disse.
O presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, deputado Othelino Neto, decretou luto oficial de três dias no Parlamento Estadual. Em nota de pesar, ele destaca a trajetória de Sálvio Dino e solidariza-se com a família enlutada. “Neste momento de dor pela perda do ente querido, a Assembleia Legislativa solidariza-se com os familiares e amigos, a quem manifesta sinceros pêsames”, diz a nota.
O procurador-geral de Justiça do Maranhão também emitiu nota de pesar. “Membro da Academia Maranhense de Letras, Sálvio Dino deixa um legado literário, com 13 obras publicadas, e na política, na qual teve mandatos de vereador, deputado estadual e prefeito do município de João Lisboa. O Ministério Público se solidariza com a família e amigos nesse momento de profunda dor”, diz o trecho da nota.
Participativo - Sálvio Dino era mesmo engajado e participativo. Desde muito cedo, demonstrou ser um jovem atuante. Envolvido com os movimentos estudantis ligados à União Maranhense dos Estudantes Secundaristas (Umes), manteve uma postura inquietante e transformadora ao ingressar na Faculdade de Direito de São Luís. Jornalista e pesquisador, trabalhou nos Diários Associados como repórter e revisor e, por muitos anos, assinou a coluna “Hoje é Dia De…”, publicação semanal do jornal O Estado.
Como advogado, atuou em numerosos júris populares no interior e em São Luís, tendo sido autor do projeto de criação da primeira Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão, núcleo instalado em Imperatriz e do qual foi conselheiro.
Por dois mandatos, foi presidente da Associação dos Municípios da Região Tocantina e da Associação dos Municípios do Sul do Maranhão. Exerceu diversos cargos em comissão no Governo do Maranhão. Membro da Academia Maranhense de Letras (AML), onde ocupada a Cadeira 32, foi eleito para a Casa de Antônio Lobo em 16 de julho de 1998 em empossado em 16 de julho do ano seguinte, tenso sido recepcionado pelo confrade Benedito Buzar, ex-presidente da instituição.
Fundou a Academia Imperatrizense de Letras, instituição da qual foi vice-presidente em 1991 e 1992, e membro da Academia Grajauense de Letras. No campo da literatura, é autor de livros como “Nas barrancas do Tocantins” (contos, 1981), “Semeando manhãs” (poesia, 1985) e “Luzia, quase uma lenda de amor” (poesia, 1990). Sálvio também escreveu “Quem passar por João Lisboa” (estudos biográficos, 1989), “Clarindo Santiago: o poeta maranhense desaparecido no rio Tocantins” (estudos biográficos, 1997), “Verde sertões e vidas” (crônica, 1999) e Raízes históricas de Grajaú” (história, 1974).
É de autoria dele também os livros “Onde é Pará, onde é Maranhão?” (história, 1990), “O perfil histórico do rio Tocantins” (história, 1992), “A Faculdade de Direito do Maranhão (1918-1941)” (histórica, 1996), “Leões: um palácio de histórias, lenda, mitos & chefões” (história, 1997) e “A coluna revolucionária Prestes a exilar-se” (história, 2016).
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