"Fadiga da quarentena": mecanismo psicológico incentiva o abandono do confinamento

Cansaço psicológico, narrativas conflitantes de esferas do governo e influência social criam cenário que estimula as pessoas a ignorarem as recomendações de isolamento

Danilo Moliterno/Rádio USP/Jornal da USP

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19
Após muito tempo de confinamento, alguns mecanismos do cérebro relaxam e pode surgir a “fadiga da quarentena”
Após muito tempo de confinamento, alguns mecanismos do cérebro relaxam e pode surgir a “fadiga da quarentena” (fadiga)

SÃO PAULO- As recomendações de distanciamento social já perduram no Brasil há mais de quatro meses. E, conforme o período de isolamento se estende, a tarefa de permanecer em casa se torna mais complicada, mesmo para os favoráveis ao confinamento. Isso porque, com o passar do tempo, a tendência é que os mecanismos psicológicos relativos aos perigos do novo coronavírus relaxem e que surja a “fadiga da quarentena” — um sintoma que atinge cada vez mais pessoas e que pode levá-las a quebrarem os protocolos —, como explica o professor Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, do Instituto de Psicologia da USP: “Ficar em casa, para quem pode ficar, também é difícil. Vamos pensar em quem tem família, filhos pequenos, pais em teletrabalho, crianças em teleformação. Isso claramente desgasta”, aponta o especialista.

Apesar de o sintoma, somado às medidas de flexibilização do isolamento social, incentivar as pessoas a abandonarem a quarentena, como comenta o professor Gonzalo Vecina Neto da Faculdade de Saúde Pública, caso as pessoas passem a contrariar as recomendações haverá maior propagação. Ele ainda relembra que “flexibilização não é sinônimo de liberou geral”.

Além do cansaço natural acarretado pelo isolamento, outros fatores atuam sobre o psicológico humano estimulando o abandono do confinamento. Um exemplo é a falta de uniformidade entre as narrativas e políticas públicas: o discurso anti-isolamento, adotado pelo governo federal, confunde a população, gera dúvidas sobre a efetividade do distanciamento e, portanto, leva as pessoas a saírem de casa.

Outro incentivo é o comportamento alheio, este — de acordo Aguirre Antúnez — “interfere em nosso juízo”. Aqueles que, mesmo com todos esses estímulos, permanecem em casa são obrigados a ver seus esforços irem por água abaixo, já que a maioria das pessoas não vêm seguindo as recomendações e, por causa disso, os efeitos negativos da pandemia não cessam: “Os que veem outros não respeitando a quarentena podem, por meio de um contato psíquico, relaxar e sair de casa”, aponta o professor.

Tal conduta, de abandono das medidas de isolamento, vem se mostrando mais comum entre os jovens. O que, segundo Aguirre Antúnez, é natural, visto que o jovem tende a ser mais impulsivo. As pessoas das faixas etárias mais baixas também podem se sentir menos vulneráveis por estarem fora do grupo de risco da doença. Mas, como explica o professor Vecina Neto, essa sensação é ilusória e mesmo os mais jovens devem se ater às recomendações, já que correm risco de contaminação e até morte.

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