Felicidade sempre

Mães da esperança: os bebês que nasceram durante a pandemia

Mães que tiveram os filhos em plena pandemia de Covid-19, falam de suas experiências e mostram que a esperança é a primeira que nasce e prevalecerá

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

[e-s001]Na vida, sempre há desafios. Superá-los é a missão do homem. A Terra, atualmente, está passando por um momento que desperta incertezas, causadas por micro-organismos patogênicos que se aglutinaram em forma de pandemia. No entanto, uma luz retira a sombra da insegurança: a geração de crianças. O sorriso das mamães mostra que a esperança é a primeira que nasce e prevalecerá.

“A criança é alegria como o raio de sol e estímulo como a esperança”. Essa frase, atribuída ao escritor maranhense Coelho Neto, sugere que a vida sustenta o mundo com suas manifestações autênticas. Esta realidade tem sua validade em um campo específico: o dos afetos. Demonstrar carinho para com alguém é uma forma de amor que suplanta o distanciamento social. Isso porque um sentimento também é demonstrado mesmo sem contato físico. O fato de não poder visitar alguém não representa a anulação da emoção que surge como proteção.

Essa proteção está sendo oferecida com o maior cuidado possível em São Luís, capital maranhense, por mulheres que deram luz aos seus filhos, nesse momento que abalou a estrutura da civilização devido à atuação de “inimigos invisíveis”. O novo coronavírus causa medo, mas o amor por uma criança é maior do que qualquer coisa. A cirurgiã-dentista Camila Maria Simas Almondes está vivendo instantes de felicidade ao lado da filha, que nasceu no último dia 21 de março. O sorriso da menina ilumina o lar da família e anula qualquer pensamento errôneo de que o ser humano não conseguirá vencer a pandemia.

“Consagrada a Deus”
O milagre da vida se consolidado nos planos divinos. A esperança está na essência do nome da filha de Camila Maria Simas Almondes. A menina é “consagrada a Deus”, pois Isabela tem esse significado especial. O nome do pai da criança, Israel, também combinou com o do bebê. “O planejamento ocorreu em meados de 2019. Na ocasião, eu e meu marido completávamos 3 anos e meio de casados. Aí, decidimos que estava na hora de completarmos nossa felicidade. Estava na hora, portanto, de aumentar a família”, enfatizou a cirurgiã-dentista.

Segundo Camila Maria Simas Almondes, assim que tomaram essa decisão, ela descobriu que estava grávida. Naquele momento, a alegria invadiu o íntimo do casal. Não havia pedras. Havia apenas o caminho, que precisava ser percorrido durante alguns meses. Cada segundo era um tempo a menos na contagem para a chegada de Isabela Simas Almondes. Tudo foi cuidadosamente preparado para o grande momento, que iria transformar o cotidiano de duas pessoas e de familiares, que estavam na torcida para que tudo ocorresse sem problemas.

“A expectativa pela chegada foi muito grande, porque, como pais de primeira viagem, além da felicidade, também sentimos um pouco de medo. É o medo pelo que é novo; ou de não dar conta; ou de não conseguir educar da maneira correta; ou de não conseguir conciliar com a antiga rotina de vida, com o trabalho”, disse a cirurgiã-dentista. Com a pandemia do novo coronavírus, a apreensão ganhou uma proporção maior, sobretudo no que se refere à proteção, com os cuidados que o casal teria com a saúde do bebê, como Camila Maria Simas Almondes observou.

Por este motivo, surgiu uma sensação de angústia, ainda mais porque, no dia anterior ao nascimento de Isabela, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) confirmou o primeiro caso da Covid-19 no Maranhão, mais precisamente, em São Luís. “Então, não sabíamos se realmente era somente um caso. Outras pessoas poderiam estar contaminadas sem apresentar sintomas, como de fato acontece no mundo, e ficar circulando entre nós. Eu e meu marido ficamos apreensivos com relação à saúde da nossa filha”, relembrou a mamãe.

Devido à situação da pandemia, não houve fotografia do parto, uma vez que a maternidade proibiu a entrada de fotógrafos, além de visitas, na sala onde foi realizado o procedimento. Na ocasião, permitiram a entrada de apenas um acompanhante, no caso, o pai da criança. “Só permitiram uma acompanhante por vez. A troca era realizada a cada 12 horas. A família acompanhou a chegada de Isabela por meio das redes sociais. Não houve ainda aquele momento das boas-vindas. A família está acompanhando o crescimento dela a distância”, pontuou a cirurgiã-dentista.

Cuidados redobrados
Como precaução, por causa do novo coronavírus, alguns cuidados extras estão sendo adotados pela família, no lar. Uma das medidas é o não recebimento de visitas, incluindo amigos e familiares. O casal também não está saindo com a filha, exceto quando é necessário levá-la à consulta de rotina com a pediatra. “Estamos usando máscaras e levamos álcool em gel. A criança só entra no consultório no momento da consulta. Também adotamos outras estratégias de higiene. Por exemplo: em cada compartimento da casa, há dispensas de álcool em gel. Quando carregamos o bebê, lavamos as mãos com água e sabão”, salientou ela.

A fé é a principal motivação da família. Por isso, Camila Maria Simas Almondes pede às mulheres que estão grávidas que não percam a confiança, pois a pandemia é apenas uma fase, que vai passar. Ela frisou que é importante manter a calma, apesar de a situação ser delicada. “Deus já preparou tudo para a chegada do grande dia. Eu sei que muitas coisas não saíram como planejado, mas nada foge dos planos do Senhor. Ele continua no controle de todas as coisas”, declarou a entrevistada.

“Para as mamães com filhos pequenos em casa, eu gostaria de dizer para tentarem extrair algo de bom desse momento difícil. Tentem dar mais atenção aos filhos e acompanhem bem de perto o crescimento deles. Passem mais tempo juntos. Quem sabe não é uma chance de estreitar laços e fazer tudo diferente. Sempre tem um lado bom. Nós só precisamos enxergar isso. Vamos manter nossa fé. Logo logo todos estaremos juntos”, finalizou Camila Maria Simas Almondes.

[e-s001]“Ele sorriu”
“Abraão tinha 100 anos quando seu filho Isaac nasceu. E Sara disse: ‘Deus me deu motivo de riso, e todos os que souberem disso vão rir de mim’. E acrescentou: ‘Quem diria a Abraão que Sara iria amamentar filhos? Apesar de tudo, na sua velhice eu lhe dei um filho’”. O trecho bíblico, extraído do livro de Gênesis, é repleto de emoção porque comprova que nada é impossível quando existe esperança. Em São Luís, no dia 20 de abril, o jornalista Ronaldo Rocha e a enfermeira Elane Rocha elevaram as mãos para o céu e agradeceram a chegada de Isaac Rocha, mais uma criança que nasceu nesse contexto de pandemia.

“O nome escolhido tem um significado especial. É o ‘Filho da Alegria’. É ‘aquele que trouxe riso’ ou ‘aquele que ri’. Isaac é fruto de um sonho. Ele nos trouxe alegria desde o primeiro momento em que soubemos que estávamos o esperando. Estamos muito felizes e gratos ao Senhor”, expressou a enfermeira. Mantendo a fé, Elane Rocha enfatizou que a criança terá um desenvolvimento normal e será muito saudável.

Ela informou que predomina um sentimento de incerteza, devido a esse cenário do novo coronavírus, tendo em vista que houve uma mudança com relação aos planejamentos, ao que se imaginava para o momento. “As coisas estão mudando a cada dia, de acordo com a situação. Em um primeiro momento, o cenário é um. Depois, é outro. Tudo ficou meio incerto, incluindo as programações. Você saber exatamente a melhor via de parto, sem as visitas, sem que o fotógrafo esteja presente para eternizar o momento. Em alguns momentos, restringiram o acompanhamento na hora do parto. Realmente, a gente se planeja para uma coisa, mas tudo muda”, declarou ela. Nesse sentido, os planos tiveram de ser alterados, para se adequar ao contexto. Mas, de acordo com a enfermeira, a única certeza é que Deus está no controle de tudo, o que fornece uma sensação de paz.

A ausência de contato, por causa das medidas de isolamento, não impediram que os outros familiares pudessem olhar a criança, embora não presencialmente. Essa observação está sendo feita por meio de videoconferência, como Elane Rocha comentou.

Cuidados no isolamento
Elane Rocha disse que o cuidado maior está sendo com relação ao isolamento. O casal seguiu todas as orientações da maternidade, para que a criança não corresse nenhum risco. Na residência deles, as visitas foram suspensas, a fim de restringir os contatos, em virtude da baixa imunidade de Isaac, fato comum em bebês. “A gestação foi muito esperada, muito planejada. Nós nos preparamos para o momento. Quando recebemos a notícia, fizemos um planejamento a longo prazo. Fizemos mudanças na casa para recebê-lo. No final da gestação, fomos surpreendidos por essa situação global. Então, algumas coisas foram redirecionadas, como a via de parto”, mencionou a mamãe.

Apesar da situação, o casal tentou não ficar aflito ou ansioso demais, sempre confiando em Deus para que tudo saísse sem contratempos. “Eu peço às mães que tenham fé, que depositem suas esperanças no Senhor, porque Ele tem o controle das coisas. Foi Ele quem formou a criança no ventre materno e escolheu esse período para o nascimento. Tomem os cuidados necessários, mas confiem em Deus com relação àquilo que não está ao nosso alcance. Tentem pensar nesse bem precioso, na criança, pois tudo vai dar certo”, frisou a enfermeira!

SAIBA MAIS

[e-s001]Nascer com amor

Durante esse momento marcado pela pandemia, onde morte e vida acontecem de maneira dialética, o trabalho de quem trabalha com mulheres gestantes adquire um aspecto especial. Um profissional que faz todo o acompanhamento que precede e sucede o nascimento se destaca nesse contexto. É o caso dos enfermeiros obstetras, que também atuam no planejamento familiar, para além do pós-parto, com atribuições caracterizadas pelas assistências. A enfermeira obstetra Gisélia Vasconcelos, que trabalha em São Luís com parto humanizado, é uma dessas pessoas que ama a profissão. De acordo com ela, trabalhar nesse momento está sendo muito importante, pois o objetivo é proteger as gestantes. “Temos feito mais orientações, incluindo as emocionais. Além disso, fazemos atividades, como spinning babies, e alimentação, encorajando para que esse sonho tão lindo de parto normal seja ainda respeitado e para que possamos juntos realizar”, assinalou a profissional. O spinning babies é um método que propõe uma sequência de movimentos durante a gestação. Também ocorre no trabalho de parto, para que a mulher utilize posições que facilitem o bebê para encaixar corretamente na pelve, a fim de reduzir a dor e favorecer o procedimento. Gisélia Vasconcelos participa de um projeto chamado “Nascer com Amor”, juntamente com a enfermeira obstetra Isabela Pinto. A iniciativa começou em março de 2017. Desde então, não pararam mais de se dedicar. Por meio do projeto, ambas ajudam as mamães de São Luís, levando mais informação e carinho para essa fase, que é tão cheia de dúvidas e anseios, não somente para as genitoras, como, também, para toda a família.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.