Homenagem

Sobre José Sarney

Carlos Gaspar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Com a esposa Marly e os filhos Roseana e Fernando
Com a esposa Marly e os filhos Roseana e Fernando (sarney)

A partir do início deste mês começaram a ser divulgadas manifestações de homenagens ao Presidente José Sarney, pelo transcurso dos seus noventa anos de idade. Têm sido elas em forma de expressão verbal ou através de textos bem escritos de pessoas que o conhecem e admiram. O certo é que as páginas dos jornais se apresentam mais enriquecidas com a inserção e o consequente registro de um fato relevante para todo Maranhão e para o Brasil inteiro, como o que seria publicamente comemorado no próximo dia vinte e quatro.

Em particular, a despeito de José Sarney ter sido o maior político brasileiro, desde a proclamação da República até os nossos dias, como assinalam uns, ou até quando findou seu último mandato de senador, no querer de outros, ele jamais abandonou os seus pendores intelectuais. Bem ao contrário, cuidadoso, soube cultivá-los com esmero e dividir com a sociedade suas produções literárias, como contos, crônicas, ensaios, poesias e romances.

Desde cedo foi vencido pela literatura, ao ser admitido nos quadros da Academia Maranhense de Letras aos vinte e dois anos de idade. Àquela altura, no ano de 1952, já participava de encontros e organizações de intelectuais, voltadas para o engrandecimento das letras maranhenses. Participou do mais famoso grupo de sua época, desta cidade, chamado da Movelaria Guanabara, ao lado de Luís Carlos Bello Parga e Bandeira Tribuzi. E assim, o intelectual e o político se revezaram no espírito talentoso de José Sarney, para se tornar um político de excepcional qualidade, a quem o Brasil muito deve; e um intelectual não menos talentoso, que recebeu as justas homenagens da mais importante confraria de homens de letras, a Academia Brasileira de Letras, ao ser admitido nos seus quadros a 17 de julho de 1980, na Cadeira 38, sucessão de José Américo de Almeida, onde foi efusivamente recebido pelo imortal Josué Montello.

Gostaria de fazer alguns comentários sobre a obra romanesca de José Sarney, mas dado que o espaço não me permite, ficará para outra oportunidade. No entanto, coligi algumas referências de escritores nacionais dos mais ilustres, a título de evocação do que de importante para a literatura brasileira foi escrito pelo contista de “Norte das águas”.

Jorge Amado, ao se referir ao romance “O dono do mar”, assim se expressa:

“De começo os tempos do romance são linhas paralelas, acontecidos diversos e distantes, mas no decorrer da narrativa essas linhas se aproximam e se misturam, fundindo-se na realidade de um tempo maior que contém o ontem e o hoje. Tarefa difícil que José Sarney resolveu na perfeição da arquitetura do seu romance.[...] O romancista conhece, com um conhecimento vivido, a vida de seu povo e a história do mar do Maranhão”.

No ano 2000 Sarney lança um novo romance, Saraminda, que o confirma como mestre na arte do romance, ambientado na região fronteiriça entre o Amapá e a Guiana Francesa. Trata-se de um romance histórico excepcional, que o torna ímpar, pela não contemplação ou destaque de uma só figura da vida política de então. Ademais, repassa ao leitor um enredo que igualmente destaca passagens de erotismo, envolvendo Caiena do século XIX e o Contestado Franco-Brasileiro. Sobre “Saraminda”, um dos melhores romances da literatura brasileira, assim se expressou Carlos Heytor Cony: “Um contraponto de Iracema”? Uma Capitu que provoca dúvida e é justiçada pelo dono de sua carne? Um pouco de uma e outra, num cenário inédito da ficção brasileira?”

Por último, Sarney lança “A duquesa vale uma missa” que, na opinião da crítica, o “autor concebeu um enredo original, que mistura suspense, sensualidade e digressão histórica”.

Para encerrar, embora seja lamentável o que vem acontecendo no mundo inteiro, com a disseminação do “coronavírus”, impedindo que as comemorações pontuais se realizem, pelos 90 anos do presidente José Sarney, a Academia Maranhense de Letras homenageia seu mais ilustre membro, ao eleger o ano 2020, no âmbito da Casa de Antônio Lobo, o ANO JOSÉ SARNEY. Portanto, se estendem por todo o correr do presente ano as homenagens prestadas e a serem prestadas ao acadêmico e estadista José Sarney.

*Carlos Gaspar é escritor e presidente da Academia Maranhense de Letras



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