Causos

Histórias e estórias de José Sarney

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
José Sarney acena para o povo na cerimônia de transferência de faixa presidencial, em 1990, após cumprir o desafio de fazer a transição do Brasil para a democracia
José Sarney acena para o povo na cerimônia de transferência de faixa presidencial, em 1990, após cumprir o desafio de fazer a transição do Brasil para a democracia (sarney presidência)

Nos noventa anos de José Sarney, poderia escrever algum texto sobre a sua vida literária e política, o que já fiz em diversas oportunidades, organizados sob a forma de cadernos especiais e publicados por este jornal, quando ele completava idades redondas ou sobre efemérides que marcaram a sua presença no governo do Maranhão ou na presidência da República.

Para não ser repetitivo ou cair na mesmice, em homenagem ao brilhante aniversariante, relato episódios jocosos e descontraídos, produtos de sua invejável verve, nos quais podem ser detectados a inteligência, a sagacidade e a presença de espírito do notável político e intelectual maranhense.

À BASE DE UÍSQUE

Um dia o presidente José Sarney não gostou de um comentário do jornalista Carlos Castello Branco, de quem era amigo fraternal, na sua coluna no Jornal do Brasil. Por isso, resolveu em pessoa e sem avisar ir à casa de Castelinho para tomar satisfação por um artigo que rotulava de “injusto”, com relação à sua conduta presidencial. Ao ver Castelinho disse-lhe: - Hoje, eu vim aqui para brigar com você.

A briga varou a madrugada e uma garrafa de uísque foi consumida pelos dois amigos. Quando o dia amanhecia, depois de muita discussão, Castelinho estendeu a mão para o presidente e disse: - Sarney, somos amigos. Sarney contemporizou: - Realmente, Castello, assim como você, eu não tenho mais idade para mudar de amigos.

PRESENÇA NO ENTERRO

No discurso de adeus a Manoel Bandeira, o presidente da Academia Brasileira de Letras, Austregésilo de Athayde lamentou a ausência de representantes do presidente da República, do ministro da Educação e do governador do Rio de Janeiro.

Lembrava-se do enterro de Olavo Bilac em 1919, que ele assistiu como repórter de A Tribuna e teve a oportunidade de ver, naquela última homenagem, todo o mundo oficial de então.

Foi nesse instante que se ouviu uma voz: - Mas estou presente! Era o governador do Maranhão, José Sarney, que viera de São Luís para a última homenagem ao poeta.

PALAVRA DO DUQUE DE CAXIAS

No governo do presidente Costa e Silva, o ministro dos Transportes, Mário Andreazza, veio a São Luís discutir com o governador José Sarney sobre a construção do Porto do Itaqui, que o Governo federal relutava na liberação de recursos.

Contrapondo-se à posição das autoridades da República, Sarney disse a Andreazza e aos técnicos que o acompanhavam: - Ministro, desde os meados do século XIX existem estudos de viabilidade para a construção do Porto do Itaqui, sendo o mais importante o legado pelo Duque de Caxias, quando governou o Maranhão, por ocasião da Guerra da Balaiada.

O ministro Mário Andreazza perguntou se havia cópias desses estudos. Sarney respondeu que não, mas mostrou a mensagem do Duque de Caxias aos maranhenses antes de partir de São Luís, na qual dizia que só a construção do Porto do Itaqui poderia salvar o Maranhão.

Sem pestanejar, o ministro autorizou a construção do Porto do Itaqui.

CONSULTA APROVADA

O presidente eleito do Brasil, Tancredo Neves, montava o seu ministério, mas antes de convidar Renato Archer para o cargo de ministro da Ciência e Tecnologia, teve o cuidado de sondar o vice, José Sarney, para saber como via a presença de um tradicional adversário político do Maranhão, na sua equipe ministerial.

Sarney, com tranquilidade, responde: - Quanto mais maranhense você convidar para o governo, mais agradecido ficarei eu e o Maranhão.

RECLAMAÇÃO DE MAROCA

Maroca, uma das mais famosas donas de cabaré da Zona do Meretrício de São Luís, pediu audiência ao governador José Sarney, para dizer que não suportava os prejuízos que sofria por culpa de seu governo.

Impactado com a acusação, o governador quis saber o motivo das dificuldades da Rainha da Zona, que imediatamente desabafou: - Depois que você criou o Maranhão Novo, a Rosa Castro passou a funcionar à noite e eu fiquei sem as minhas melhores auxiliares.

VELHICE PRECOCE

Em abril de 1980, uma vasta programação foi organizada pela prefeitura de Pinheiro, para comemorar os cinquenta anos de nascimento de José Sarney, o mais importante filho da terra.

O ponto alto da festiva programação foi a inauguração do busto do aniversariante na principal praça da cidade.

Descerrada a bandeira que cobria o busto, para espanto geral, Sarney ostentava uma velhice precoce, que valeu do aniversariante a seguinte observação: - Daqui a cinquenta anos, vou voltar a Pinheiro para comemorar o meu centenário de vida.

MATUSALÉM DO INTERIOR

Luís Carlos Bello Parga, amigo de geração de Sarney, marcou presença em todos os comícios na campanha política que o elegeu governador do Maranhão, em 1965.

Nos comícios, anotava os dias que Sarney dizia que vivera nas cidades quando o pai era promotor ou juiz de Direito.

Ao terminar a campanha, Bello Parga entrega a Sarney uma anotação com esta observação: - Se você tivesse vivido todo esse tempo no interior do Estado, teria hoje mais de cem anos de vida.

FINGIR DE MORTO

Muito prestigiado politicamente na esfera federal, pelo governo realizado no Maranhão, sobretudo voltado para modernização da máquina administrativa, não foi difícil para José Sarney convencer o Palácio do Planalto de que o nome mais acertado para sucedê-lo no Palácio dos Leões era o de Pedro Neiva de Santana, ao qual deu este conselho:- Professor, para ser escolhido governador, você só precisa se fingir de morto.

MURO DAS LAMENTAÇÕES

Tão logo começaram a vir à superfície os desentendimentos entre o governador João Castelo e o deputado Edson Vidigal, este, foi ao gabinete do senador José Sarney, para se queixar do governante maranhense.

Mal começou a derramar as suas queixas, Sarney interrompe a conversa em tom paternalista: - Vidigal, eu não tenho vocação para ser muro das lamentações.

PINGUIM DE GELADEIRA

É forte o lado supersticioso de José Sarney. Ao assumir o governo e chegando no Palácio dos Leões, viu de longe um pinguim de porcelana em cima de uma geladeira.

Imediatamente, chamou Eurípedes Bezerra, do Gabinete Militar, e ordenou: - Coronel, convoque a guarda e mande retirar todos os pinguins de porcelana que se encontram no palácio.

SITUAÇÃO DELICADA

Candidato a governador, José Sarney encontrava-se em campanha no interior do Estado, em companhia do amigo Wilson Neiva.

De repente, na estrada, sentiu vontade de defecar. Mandou parar o jipe e invadiu o mato e fez o serviço. Como não tinha nenhum papel para se limpar, recorreu às folhas de mato, recurso bastante usado pelo caboclo maranhense.

Aliviado, recomeçou a viagem. Antes, porém, não esqueceu de comentar com Wilson Neiva: - Eu só queria ver o Renato Archer vivendo a situação pela qual passei agora.

RATOS CATALOGADOS

Nos primeiros dias de moradia no Palácio dos Leões, o governador José Sarney toma conhecimento de que, pelo abandono em que se encontrava o imóvel, estava literalmente cheio de ratos.

Eram tantos e de todos os tamanhos, que Sarney mandou separá-los e identificá-los: os maiores, seriam holandeses, os médios, franceses, e os menores, portugueses.

RABO DE SAIA

Na tumultuada sucessão do governador Pedro Neiva de Santana, o senador José Sarney conversava em Brasília, no Congresso Nacional, com o ex-deputado Líster Caldas.

A conversa transcorria bem animada, sendo interrompida com a chegada intempestiva do padre Manoel Oliveira, que tinha a fama de mulherengo.

Como o sacerdote, permanecia no gabinete, Sarney disse-lhe: - Padre, o Congresso está cheio de mulher bonita. Enquanto eu converso com Líster, veja se encontra uma dando sopa.

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