Artigo

A humanidade entre o visível e o invisível

James Magno A. Farias

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

A pandemia do vírus Covid-19 paralisou quase todo o mundo nos primeiros meses de 2020, com mais de trezentos mil doentes em apenas três meses, mais de dez mil mortes, sendo a maioria de pessoas de idade mais elevada, conforme as estatísticas oficiais da OMS. Editaram-se decretos de quarentena obrigatória em muitos países, inclusive no Brasil, para reduzir o risco de contágio, fechando lojas, shoppings, bares e restaurantes. Competições esportivas foram suspensas mundo afora. Foi reduzida drasticamente a oferta de voos. A probabilidade de recessão econômica mundial é real, bem como o risco de aumento do desemprego e de falência de muitas empresas.

Como chegamos nesse ponto? A comunidade científica foi atacada repetidamente nos últimos anos por variados grupos, como o movimento anti-vacinação e os terraplanistas. Eis, agora, o valor inestimável de cientistas e pesquisadores, que, de modo incansável, trabalham contra a urgência do tempo e sob duras provações em busca de cura.

Inicialmente, os chineses foram ofendidos e confinados, mas, depois, a pandemia fez com que europeus também fossem barrados mundo afora. A União Europeia regressou a um tempo anterior ao Tratado de Schengen, de 1985, e vários países fecharam suas fronteiras. Até italianos do norte foram proibidos de chegar ao sul da Itália, agora menos afetada pela pandemia - e por anos uma região desprezada pelos nortistas. Ironicamente, a Itália era a mais empenhada em bloquear as legiões de refugiados das guerras e da miséria na África e na Síria, que tentavam chegar à rica Europa em embarcações frágeis demais para vencer as ondas bravias do Mediterrâneo.

A fraternidade é imprescindível nesse momento. O ministro Reynaldo Soares da Fonseca vê na fraternidade “uma ligação universal entre seres igualmente dignos, cujo resultante um complexo sistema de solidariedade social e atenção social aos necessitados, previamente à própria falência do Estado liberal” (FONSECA, Reynaldo Soares da. 2019. p. 51).

Michael Sandel, em seu livro “Justiça” (SANDEL, Michael. Justiça: o que é fazer a coisa certa, 2015. p. 11.), criticou o egoísmo de alguns norte-americanos após o furacão Charley devastar o sul dos Estados Unidos, em 2004, quando muitos obtiveram lucros astronômicos pela venda de água mineral e pão, dois itens essenciais. Em 2020, na pandemia do Corona vírus, muitos estocaram álcool gel e papel higiênico, como se fosse enredo de filme apocalíptico.

A crise advinda da pandemia viral mostrou a importância de um Estado organizado, que possa garantir o funcionamento das instituições fundamentais, como hospitais, transportes, distribuição de água e manutenção de sistemas sanitários, afastando o risco do colapso dos sistemas sociais e de segurança pública. O Estado deve coexistir harmonicamente ao lado das empresas e da sociedade civil, mas não pode ser insensível à realidade de uma sociedade em crise. O Judiciário teve de fechar os fóruns, mas, graças ao Processo Eletrônico, os magistrados continuam a analisar os processos.

A quarentena durante a Quaresma não permitirá que milhões de trabalhadores fiquem recolhidos em casa, pois terão de continuar em intenso e fundamental labor. São médicos, enfermeiros, cientistas, motoristas, cuidadores de idosos, policiais, farmacêuticos, bombeiros, padeiros, entregadores de produtos, atendentes de hospitais, açougueiros, comerciantes, eletricistas, técnicos de informática, cozinheiros, agricultores, metalúrgicos, dentre tantos outros, que precisam continuar trabalhando.

Hoje, a humanidade sofre as dores trazidas pela pandemia viral. Esse momento será superado. Mas, que nunca se esqueça o valor do trabalho de todos os profissionais que dedicaram suas vidas em 2020 para salvar milhões de outras vidas.

Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região/MA e Professor do Departamento de Direito da Universidade Federal do Maranhão


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