Uma viagem...

Gente simples que usa o ferry como transporte, a passeio ou a trabalho

Perfil do usuário dos ferries é predominantemente formado por quem frequenta ou usufrui do serviço pelo menos uma vez por semana

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

[e-s001]A consolidação do serviço dos ferry-boats no estado dependeu, nas últimas três décadas, do interesse das empresas, de sua capacidade de investimento na recuperação e reforma dos veículos e, principalmente, na necessidade que a população de renda média e baixa do estado de se locomover diária, semanal e mensalmente do interior para a capital e vice-versa.

Em sua maioria, o perfil dos passageiros transportados é quem frequentemente utiliza a estrutura de transporte portuário para deslocamento ao trabalho, ou para uma consulta médica, ou ainda para verificação dos processos relacionados a aposentadorias e outros benefícios. Há quem dependa dos serviços do meio de transporte para manter negócios próprios, como o transporte intermunicipal de passageiros por empresas detentoras de vans, apesar das reclamações quanto às condições de estradas.

Cada passageiro representa uma história de vida e uma ligação quase parental com os ferries. Alguns usuários frequentam o meio de transporte há duas décadas. “Seja para passar férias, ou mesmo para resolver algo na cidade de São Luís, o ferry-boat é o meu meio de transporte preferido”, disse Gislene Carvalho dos Santos, usuária dos ferries desde 2000.

O funcionário público aposentado e agricultor, Geraldo França Amorim, de 59 anos, é natural de Peri-Mirim (MA) – distante 100 quilômetros da capital maranhense – e morou em São Luís por 30 anos. Cinco anos após permanecer na cidade interiorana de forma definitiva, O Estado acompanhou o retorno do aposentado para a Ilha Patrimônio da Humanidade.

E para chegar na Ilha, nada como uma viagem de ferry-boat. Segundo ele, o retorno à capital maranhense era para negociar a liberação de um benefício previdenciário e para um passeio breve. “Nunca mais tinha ido na minha cidade, onde morei. Agora, retornar de ferry, não tem algo melhor”, disse.

Para ele, a ligação entre a terra natal e a capital do seu estado tem a ver com o desenvolvimento dos ferries. “Quando ainda trabalhava, usava muito o ferry. Depois, fiquei mais na minha terra, cuidando da roça e voltar pra São Luís pelo ferry é quase como voltar no tempo”, afirmou.

[e-s001]Outros usuários elogiam serviço
Em levantamento rápido feito por O Estado durante a viagem, o grau de satisfação dos clientes com o serviço (considerando preço e disponibilidade) foi de 90%. Um dos usuários que elogiou os serviços foi Thalia Costa. Modelo, ela precisa se deslocar com frequência para a capital maranhense e faz uso semanal do serviço. “Aqui, se tem preço e comodidade. É importante contar com um serviço de qualidade para se deslocar até a capital, São Luís, pelo menos uma vez por semana”, afirmou.

Acompanha da filha e do sobrinho, a modelo disse que o meio de transporte melhorou nos últimos anos. “Antes era mais desconfortável. Agora está melhor, com boas acomodações e mais fácil de utilizar também”, disse.

O motorista de van, Fabiano França Mendes, faz frete entre a capital maranhense e as cidades do interior e depende do transporte via ferry para deslocar seu veículo até as proximidades do destino final no interior. Ele elogia a estrutura da Internacional Marítima, mas faz ponderações quanto à administração portuária. “Em relação a horários e disponibilidade, não temos problema nenhum. Há uma boa relação entre os motoristas e a empresa. No entanto, a estrutura de embarque e desembarque ainda é precária. Prejudicam os veículos e tornam o que era para ser lucro em prejuízo”, afirmou.

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Reclamações
A funcionária pública Maria Eugênia Araújo apontou como algo negativo, segundo ela, apenas os encostos onde os passageiros são colocados durante a viagem. “É bem desconfortável, não dá para descansar direito”, disse. Em contato, a Internacional se prontificou a fazer melhorias, para tornar os assentos ainda mais confortáveis.

Quem vive dos ferries?
O negócio ferry-boat mobiliza vários setores da economia e oferece empregos para quem está excluído do mercado. Foi o que ocorreu com a funcionária da limpeza do Ferry Boat Alcântara, Rosimar Santos Silva. Atualmente, a jovem integra a equipe que deixa tudo arrumado para a chegada dos passageiros, antes de mais uma viagem.
Ela teve que superar, inclusive, o medo de viajar em embarcações. “Morria de medo de água [risos]. Agora, já me acostumei e tem horas que até esqueço onde estou”, afirmou.

A mais antiga vendedora de lanches do Terminal do Cujupe é Simpliciana Sodré, de 67 anos. Especializada na arte de cozinhar cuscuz, doces e sucos em geral, a comerciante elenca histórias dos mais de 50 anos a frente do negócio no mesmo ponto. “Antes, era uma bagunça por aqui. Agora, está melhor. Mais organizado”, disse.

Apesar de o negócio depender do ferry, ela confidenciou que morre de medo de entrar na embarcação. Tudo por um ‘causo’ contado por ela. “Uma vez, sonhei que no barco em que estava ia afundar. Pois pronto, foi o pretexto para nunca entrar nesse troço aí”, disse. Mesmo convidada por O Estado e pela Internacional para um passeio em breve, a comerciante relutou. “Prometo pensar”, afirmou.

Datas de grande demanda e preços
Em geral, os ferries são usados para encurtar o itinerário para cidades, como Bequimão, São Bento, Pinheiro, Porto Rico, Governador Nunes Freire, entre outras. Por causa do bilhete considerado barato (o mais caro atualmente está estimado em R$ 12 por passageiro) e alto índice de gratuidades – além da oferta diária de ferrys – o transporte pelas águas de São Marcos se popularizou. A procura pelos serviços costuma ser maior em datas específicas, como Carnaval (data de maior demanda no ano pelas empresas detentoras do serviço) e festas de fim de ano.

Outra data costumeiramente atrativa no quantitativo de passageiros é o feriado de São Sebastião, valorizado em povoados e cidades da baixada. Em alguns municípios, houve programações até o dia 21 deste mês, o que gerou grande fluxo de
usuários, inclusive no período noturno até quinta-feira, 23.

Para o Carnaval, por exemplo, estima-se encerramento na oferta de bilhetes até, no máximo, o início do próximo mês.

SAIBA MAIS

Dicas salva-vidas
Antes de cada viagem, os passageiros são convidados a ouvir as dicas de segurança para o uso correto, em situações de naufrágio de coletes salva-vidas. Em geral, o quantitativo em cada embarcação é superior em até 10% da capacidade total de pessoas.
Inicialmente, a colocação sob a cabeça é fundamental. Em seguida, a alça superior deve ser amarrada na altura do tórax. Depois, na alça inferior, é feito um nó para finalizar a fixação do item. Por fim, além do colete, a instrução é posicionar braços de forma correta (um tapando as vias nasais e outro por sob o peito para evitar danos com o possível impacto na água).

Recomendações oficiais
Segundo a Marinha do Brasil, é recomendado não puxar, cortar, escrever ou alterar a estrutura do colete salva-vidas. De acordo com normas da instituição, o acessório é projetado e testado para a segurança do usuário (a). Ainda de acordo com a Marinha, é imprescindível não apoiar objetos pontiagudos e não usar o colete como assento ou encosto. Desta forma, o item pode perder parte de sua flutuabilidade.
A Marinha recomenda ainda que a empresa lave o dispositivo em água doce após o uso e sempre o seque em locais ventilados.

Informações adicionais
A Internacional Marítima LTDA - empresa genuinamente maranhense fundada em 18 de Maio de 1988, tendo como atividades principais a prestação de Serviços de Navegação e de Serviços de Apoio Portuário - registra sede fixa com endereço na Avenida Getúlio Vargas, nº 42, no Monte Castelo.
De acordo com dados do departamento comercial, os ferrys da empresa transportaram 941.477 passageiros e 159.438 veículos de 1º de janeiro a 31 de dezembro do ano passado.
Apesar do desempenho satisfatório, no balancete oficial, os custos operacionais foram calculados em 24,49% acima do faturamento bruto, devido à aplicação de recursos em serviços considerados não-previstos, como limpeza das rampas dos terminais e custeio do litro de óleo, elevado pelo tempo de espera para desembarque, em especial, no Cujupe.

PERSONAGENS DA NOTÍCIA

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“Aqui, se tem preço e comodidade. É importante contar com um serviço de qualidade para se deslocar até a capital, São Luís, pelo menos uma vez por semana”

Thalia Costa (modelo)

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“Antes, era uma bagunça por aqui. Agora, está melhor. Mais organizado”

Simpliciana Sodré (vendedora de lanche no Cujupe, sobre o terminal)


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“Morria de medo de água [risos]. Agora, já me acostumei e tem horas que até esqueço onde estou”

Rosimar Santos Silva, funcionária da limpeza do Ferry Boat Alcântara

NÚMEROS

941.477 passageiros transportados pela Internacional Marítima em 2019
159.438 veículos transportados pela Internacional Marítima em 2019
24,49% foi a elevação do orçamento bruto da empresa no ano passado devido à aplicação em serviços não-estimados

Fonte: Internacional Marítima

SAIBA MAIS

Volume de passageiros nos terminais do Cujupe e Ponta da Espera
2018: 1.906.311 passageiros
2019: 1.939.222 passageiros

Movimentação de veículos nos terminais do Cujupe e Ponta da Espera
2018: 363.367 veículos
2019: 370.217 veículos

Fonte: Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap)

GRATUIDADES

Preço normal das passagens: R$ 12,00
Seis a dez anos: R$ 2,00
De 60 a 65 anos de idade: R$ 6,00
De 65 em diante (não paga)
Autoridades policiais em serviço não pagam

Fonte: Internacional Marítima

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