Distritais de Hong Kong

Oposição a governo pró-Pequim passa a controlar 17 conselhos

Pleito legitima demandas dos manifestantes que tomam as ruas da cidade semiautônoma há quase seis meses; o resultado final da eleição, que transcorreu sem maiores episódios de violência , foi confirmado ontem,25, pelo governo local

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Apoiadores do movimento pró-democracia comemoram derrota do governo chinês
Apoiadores do movimento pró-democracia comemoram derrota do governo chinês (AFP)

HONG KONG — A oposição ao governo local pró-Pequim teve uma vitória contundente nas eleições locais de domingo,24, na cidade chinesa semiautônoma de Hong Kong, aumentando a pressão sobre o governo chinês. Geralmente desimportante, o pleito distrital deste ano transformou-se em uma espécie de referendo sobre os protestos antigoverno que tomam as ruas da cidade há quase seis meses e suas demandas antigoverno.

Em resultado inédito, legisladores de oposição controlarão 17 dos 18 conselhos distritais — resultado ainda mais surpreendente visto que, nas eleições de 2015, o grupo não havia conseguido a maioria em nenhum deles. O comparecimento de 71,2% dos eleitores também foi recorde, correspondendo a 2,94 milhões dos 4,12 milhões aptos a votar — quase metade dos 7,4 milhões de habitantes da cidade. Em comparação, apenas 47% dos eleitores registrados haviam comparecido no pleito anterior.

O resultado final da eleição, que transcorreu sem maiores episódios de violência , foi confirmado ontem,25, pelo governo local. Estavam em disputa 452 dos 479 assentos dos conselhos distritais, que deliberam sobre temas como poluição sonora e pavimentação de ruas e são a mais elementar instância deliberativa local. Destes, os grupos pró-democracia conquistaram 347 cadeiras, e os independentes — muitos deles também de oposição a Pequim — ficaram com 45. O grupo pró-governo, que atualmente tem o controle de todos os 18 distritos, ficará com apenas 60 representantes.

A Xinhua, agência de notícias estatal chinesa, anunciou o fim das votações, mas não divulgou o resultado. Segundo o veículo, “por mais de cinco meses, desordeiros e ‘forças externas’ vêm trabalhando continuamente para criar e aumentar a violência” e isso “atrapalhou seriamente" o processo eleitoral. Por sua vez, a contestada chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, disse que o governo local respeitará e refletirá sobre o resultado:

“Muitos apontaram que o resultado reflete a insatisfação do público com o status quo e com problemas enraizados [no território]. O governo escutará as opiniões do público com humildade e refletirá seriamente sobre o assunto”, disse uma declaração divulgada por Lam.

Os conselhos distritais foram criados em 1967 para aumentar o apoio popular ao governo colonial britânico após rebeliões inspiradas pela Revolução Cultural chinesa.

Apesar do seu poder limitado, ambos os lados do espectro político reconheciam a importância do que estava em disputa. Como obteve a maioria dos assentos nos conselhos, o grupo pró-democracia terá direito a 117 assentos no colégio eleitoral de 1.200 pessoas que elege o chefe do Executivo local. Isto será insuficiente para que controlem o organismo majoritariamente pró-China, mas aumenta de modo significativo seu poder de barganha e legitima suas demandas cada vez mais contrárias à soberania de Pequim, entre elas eleições diretas para o cargo de Lam.

Validação dos protestos

A vitória de domingo representa uma validação do movimento pró-democracia que toma a cidade desde o início de junho, mesmo em meio a episódios de violência que já deixaram mais de 5 mil presos e outros milhares de feridos. Os confrontos se acirraram ainda mais na semana que antecedeu a eleição, quando manifestantes ocuparam cinco universidades locais, transformando-as em quartéis e paióis de armas artesanais e equipamentos de proteção. Ontem, 25, ainda há pouco mais de 50 pessoas dentro da Universidade Politécnica, a PolyU.

Comemoração

O resultado foi comemorado por grupos contrários a Lam e a Pequim, com champanhes sendo estouradas no centro da cidade durante o horário do almoço, segundo o Financial Times. Entre os eleitos, há diversas lideranças importantes do movimento de oposição. Em contraste, importantes líderes pró-Pequim perderam seus assentos.

“Os resultados das eleições — um referendo de fato — são bastante claros. Nós não aceitamos a violência policial! Nós não esqueceremos que o campo pró-Pequim apoia o totalitarismo!”, disse a Frente Civil dos Direitos Humanos.

Ainda assim, analistas apontam que o resultado pode não ser sinônimo de uma mudança política no território. As eleições distritais são realizadas por voto distrital simples, no qual o mais votado para cada cadeira ganha o posto, enquanto a votação para Conselho Legislativo (o Parlamento local) — que acontecerá no ano que vem — é por meio do voto proporcional.

"Esta é, obviamente, uma vitória imensa para o grupo pró-democracia, mas é importante notar que o grupo pró-Pequim ainda obteve cerca de 40% dos votos, apesar do que aconteceu nos últimos meses", disse ao Financial Times Samson Yuen, professor da Universidade de Lingnan. "Se você olhar para a fatia de votos do movimento pró-democracia, não há muito para ficar feliz porque, em termos gerais, o cenário ainda é bastante parecido".

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