Tensão

Otan vai criar sistema de proteção contra ameaças vindas do espaço

Após Macron dizer que organização sofreu ''morte cerebral'', Alemanha propõe a criação de um comitê de especialistas para fortalecer coalizão

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Visão geral da reunião ministerial da Otan em Bruxelas, que discutiu ataque espacial
Visão geral da reunião ministerial da Otan em Bruxelas, que discutiu ataque espacial (Reuters)

Legenda/Reuters

Visão geral da reunião ministerial da Otan em Bruxelas, que discutiu ataque espacial

BRUXELAS - A Organização do Tratado do Atlântico Norte se prepara para expandir seu campo de influência rumo ao horizonte espacial. Os ministros das Relações Exteriores da Otan querem que a coalizão esteja pronta para responder no caso de um eventual ataque especial contra satélites de um de seus membros.

A reunião foi marcada por dúvidas sobre o futuro da organização, manifestadas na semana passada pelo presidente francês Emmanuel Macron, que disse que a organização sofre de "morte cerebral". A Alemanha tentou amenizar a situação com a proposta de criar um comitê de especialistas para repensar como fortalecer a coalizão.

Os excessos retóricos de Macron estão forçando o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, a se esforçar com diligência para convencer que o estado de "morte cerebral" com que o presidente francês diagnosticou a organização é apenas mais um dos muitos resfriados que ela sofreu em seus 70 anos de história. Mas, enquanto o debate sobre o futuro da Aliança Atlântica consome as energias do secretário-geral da coalizão, ela se lança também em uma espécie de conquista do espaço. Os ministros das Relações Exteriores reunidos em Bruxelas concordaram em reconhecê-lo como um cenário operacional, juntamente com as outras quatro frentes que provavelmente poderiam enfrentar hostilidades: ar, terra, mar e ciberespaço.

Mal estar

O estupor diante do pessimismo veemente das reflexões do presidente francês, destiladas em uma entrevista à revista britânica The Economist, gerou mal estar em uma reunião ministerial que, a princípio, parecia um preparação plácida da cúpula a ser realizada em Londres daqui a duas semanas, onde, com Donald Trump presente, haveria pouco espaço para relaxar (desta vez, foi o secretário de Estado, Mike Pompeo, que esteve presente). Em vez disso, as declarações de Macron, que até questionou o compromisso com o artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte, que compromete parceiros a ajudar um aliado quando este é atacado, principal pilar da aliança, ofuscou parte da agenda inicialmente prevista.

Apesar da ansiedade, ou talvez graças a ela, os ministros das Relações Exteriores tentaram provar que a Otan opera sem um respirador. Neste sentido, Stoltenberg anunciou que o espaço se tornará um campo de atuação relevante para a Otan. O político norueguês esclareceu que a intenção da coalizão não é militarizar o espaço, mas estar pronto para se defender contra possíveis ataques.

Os interesses são grandes: dos dois mil satélites que orbitam a Terra, cerca de metade pertence a Estados integrantes da Otan Serviços bancários, companhias aéreas ou serviços de previsão do tempo dependem do seu bom funcionamento. Com a crescente suspeita que desperta a maior atividade da China e da Rússia para além da atmosfera terrestre, o objetivo é se preparar para o pior.

"O espaço faz parte do nosso dia a dia. Pode ser usado para fins pacíficos, mas também de forma agressiva. Os satélites podem ser bloqueados, invadidos ou atacados. As armas anti-satélite podem tornar inúteis as comunicações e os serviços dos quais nossa sociedade depende", afirmou Stoltenberg.

A antecipação de ameaças é fundamental na estratégia da Otan. A extensão de seu perímetro de interesse ao espaço abre as portas para debates como a melhor maneira de se proteger contra mísseis inimigos destinados a satélites aliados — discussão que poderia parecer próxima da ficção científica, mas já está sobre a mesa.

Posição contra a China

O poder econômico e militar chinês é percebido como uma ameaça ainda mais próxima. A Comissão Europeia combina uma aproximação com Pequim em questões como as mudanças climáticas com uma desconfiança da presença imponente do gigante asiático. Bruxelas já considera a China um "rival sistêmico". Na reunião, os Ministros das Relações Exteriores da Otan discutiram como deveria ser sua abordagem ao segundo maior orçamento militar do mundo.

A maneira de Trump de manter a supremacia militar da Aliança continua ser aumentar os gastos com defesa, uma questão que permanecerá muito presente na cúpula de Londres. Stoltenberg comemorou que os países europeus aumentarão os gastos militares em 100 bilhões de euros entre 2016 e o final do próximo ano, mas resta ver o quanto o presidente dos EUA vai valorizar esses esforços, ainda longe do pedido feito a seus aliados de dedicar 2% do seu PIB para a defesa.

Enquanto, por razões diferentes, o descontentamento de Trump e Macron enfraquece a Otan, a Alemanha respondeu com uma proposta para seguir seu curso. Berlim quer criar um comitê de especialistas presidido por Stoltenberg, com o objetivo de melhorar a sua coordenação. O secretário-geral da aliança elogiou a iniciativa de Berlim, e disse que foi bem recebida pelos membros.

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