Poluição

Sobe para 17 número de pontos afetados pelas manchas de óleo no Maranhão

Dentre os pontos afetados, estão a Avenida Litorânea, em São Luís, e a Ilha dos Poldros, no Delta do Parnaíba. Na divisa dos estados do Maranhão e Piauí, foi detectado um aumento do número de manchas de óleo

Nelson Melo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Equipes tentam remover manchas de óleo de praia no Delta do Parnaíba
Equipes tentam remover manchas de óleo de praia no Delta do Parnaíba (óleo delta)

Subiu para 17 o número de áreas afetadas pelas manchas de óleo no litoral do Maranhão, segundo relatório atualizado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A região do Delta do Parnaíba, na divisa com o estado do Piauí, é o local mais atingido pela substância tóxica. Naquele trecho, estão ocorrendo constantes operações de limpeza envolvendo diversos órgãos, sob a coordenação das capitanias dos Portos do Maranhão e Piauí, da Marinha do Brasil.

Segundo o Ibama, 11 desses 17 pontos foram classificados como “não observado na última revisita”. Isto significa que, embora algumas áreas não contenham a mancha, podem sofrer novamente com o problema, pois o fluxo das marés leva e traz a substância, em um movimento contínuo. Comumente, as equipes da força-tarefa fazem a patrulha, que pode ser aérea ou marítima, e não encontra vestígios do material tóxico. Em ronda posterior, porém, o óleo pode ser localizado.

Outros seis pontos estão classificados como “oleada (vestígios/esparsos)”, que é uma categoria abaixo de “oleada (manchas)”, considerada a mais grave. Dentre as áreas afetadas pelo petróleo cru, há a Ilha Caçacueira, que fica no Arquipélago de Maiaú, na Reserva Extrativista de Cururupu, na Baixada Maranhense. Também há a Avenida Litorânea, em São Luís, e a Ilha dos Poldros, no Delta do Parnaíba, na divisa com o estado do Piauí.

Delta do Parnaíba

Na região do Delta do Parnaíba, considerado um santuário ecológico, o número de praias atingidas pelo problema aumentou nos últimos dias. Além da Ilha dos Poldros, em Araioses/MA, o material tóxico foi detectado na Ilha das Canárias, Praia de Caiçaras, Praia do Pontal, Ilha do Caju, Barra dos Melancieiras e Ilha do Passeio. Em nota, o Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) informou que, no último fim de semana, ocorreram operações de limpeza naquele trecho. Foram empregados meios navais, aeronaves e terrestres nessas incursões.

Juntamente com o GAA, que é formado pela Marinha do Brasil, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e Ibama, participaram das ações militares do Exército Brasileiro e agentes estaduais e municipais de limpeza e coleta de vestígios de óleo nas praias da região. Para reforçar as operações, a Capitania dos Portos do Piauí (CPPI) está utilizando o navio-patrulha “Guanabara”, para o recolhimento dos resíduos oleosos do mar no Delta do Parnaíba, que é composto por dunas, ilhas, igarapés e mangues.

De acordo com o técnico Robson Medeiros, da Secretaria de Turismo e Meio Ambiente do município de Araioses, há cerca de 15 dias, foi feita uma fiscalização na Ilha dos Poldros, quando foi encontrada uma área contendo a substância oleosa. “O material foi recolhido e entregue à Marinha. Agora, fomos pegos de surpresa na madrugada de sexta-feira (15) com novas manchas em várias ilhas e praias do Delta”, declarou ele.

A grande preocupação da força-tarefa é que as manchas atinjam os rios do Delta, o que pode prejudicar o abastecimento de água em toda a região. “Além do turismo, porque a área teria que ser interditada”, disse Robson Medeiros.

Primeiras manchas

De acordo com o capitão de Mar e Guerra Marcio Ramalho Dutra e Mello, comandante da Capitania dos Portos do Maranhão (CPMA), o primeiro caso no território maranhense ocorreu no dia 18 de setembro, quando a substância foi encontrada na Ilha dos Poldros, em Araioses. Ali, só foi recolhido cerca de 1kg do material, ou seja, pouca quantidade. Devido à presença das manchas de óleo no Delta do Rio Parnaíba, uma tartaruga marinha impregnada da substância morreu.

Já no dia 23 de setembro, ocorreu o segundo caso, na Praia de Itatinga, em Alcântara, onde uma tartaruga foi encontrada suja de óleo na faixa de areia. Um universitário achou o animal quando fazia uma caminhada. “Ali, já tínhamos uma ideia de que era o mesmo óleo que apareceu na Ilha de Poldros. Começamos a agir para coleta e recolhimento. A partir dali, surgiram novos pontos. O Ibama, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e o Corpo de Bombeiros se uniram aos esforços”, comentou o capitão Marcio.

Centro de Operações

Assim como o GAA no Piauí, foi criado, no Maranhão, o Centro de Operações de Incidentes de Poluição por Óleo, que foi anunciado, oficialmente, no dia 31 de outubro, em uma entrevista coletiva na Capitania dos Portos do Maranhão. O objetivo é agilizar o fluxo de informações e a coleta das manchas de óleo no litoral maranhense. De acordo com a Marinha do Brasil, desde o início do primeiro caso em nosso estado, já foram retirados mais de 1.230 kg da substância.

Conforme informou o capitão de Mar e Guerra Marcio, desde o primeiro surgimento das manchas, na Ilha de Poldros, na área do Delta do Parnaíba, já havia um esforço conjunto para combater o problema ambiental. Com o segundo caso, que aconteceu em Alcântara, na Praia de Itatinga, os trabalhos se intensificaram e passaram a envolver outros órgãos, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

O oficial da Marinha pontou que, no dia 6 de outubro, foi montado o Grupo de Monitoramento e Avaliação, em âmbito nacional. Mas, agora, tornou-se necessária a criação de uma coordenação setorizada e local. Segundo Marcio Ramalho, isso aconteceu porque a contaminação se alastrou no litoral maranhense, embora em pouca intensidade quando comparada aos outros estados do Nordeste. “O objetivo da centralização é colher as informações e nivelar os conhecimentos. É colocar todo o apoio logístico para canalizar os dados o mais rápido possível, a fim de remover e analisar as manchas de óleo”, frisou o comandante da CPMA.

Fauna ameaçada

O Projeto Quelônios Aquáticos do Maranhão (Queamar) já demonstrou preocupação com a poluição provocada pelas manchas de óleo em nosso litoral por conta da interferência na dinâmica da fauna marinha. As cinco espécies de tartarugas presentes no litoral maranhense, por exemplo, estão sob ameaça de extinção, que pode ser acelerada por esse episódio da contaminação pelo petróleo cru.

Segundo o Queamar, a presença da substância tóxica nas praias nordestinas pode causar a morte desses animais e de outros, como já aconteceu no Maranhão, na Ilha dos Poldros, em Araioses, no dia 18 de setembro, quando uma tartaruga foi achada sem vida e suja de óleo. “O derramamento de óleo tem impactos ainda bem difíceis de serem calculados, já que apresenta danos tanto a curto como longo prazo. Esse tipo de acidente acaba comprometendo diferentes tipos de vida marinha, dependendo da fisiologia e dos hábitos desses animais. Os componentes que são deixados por esse tipo de substância se caracterizam por serem densos, tóxicos e causam bioacumulações”, esclareceu Amanda Emília Rêgo, integrante do projeto.

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