Reserva Araribóia

Polícia tem 30 dias para apurar morte de Guajajara e não indígena

A Secretaria de Segurança Pública do Maranhão baixou portaria determinando a equipe da Delegacia Regional de Imperatriz para apurar o caso, enquanto a Polícia Federal foi designada pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, para realizar investigação

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
A morte do Índio Paulo Paulino está sendo investigada pela Polícia Civil do Maranhão
A morte do Índio Paulo Paulino está sendo investigada pela Polícia Civil do Maranhão (Divulgação)

SÃO LUÍS - A Polícia Civil tem o prazo de 30 dias para apurar o duplo assassinato que teve como vítimas o líder indígena e guardião da floresta, Paulo Paulino Guajajara, o Lobo Mau; e do suposto madeireiro Márcio Greykue Moreira Pereira, como também da tentativa de homicídio sofrida por Laércio Sousa Silva, o Laércio Guajajara. A Polícia Federal também vai investigar o caso. A empreitada criminosa ocorreu no último dia 1º, na terra indígena Araribóia, entre as cidades de Amarante do Maranhão e Bom Jesus das Selvas, noroeste do estado.

O delegado Guilherme Campelo, que é superintendente da Polícia Civil do Interior (SPCI), informou que, por determinação da cúpula da Secretaria de Segurança Pública (SSP), foi aberto uma portaria designando a equipe da Delegacia Regional de Imperatriz, sob a coordenação do delegado Edson Martins, para investigar esse ato bárbaro. As primeiras informações denotam possível emboscada realizada por “não-indígenas” em desfavor dos índios Paulo Guajajara e Laércio Sousa.

Ainda de acordo com o delegado, policiais civis e peritos do Instituto de Criminalística (Icrim) já começaram o trabalho investigativo, tendo como base em dados testemunhais. Até o momento, o caso possui duas versões. Uma delas foi apresentada por Laércio Sousa. Ele disse que estava com Paulo Paulino caçando no matagal quando foram surpreendidos por um grupo de criminosos. Houve troca de tiros. Laércio Sousa foi baleado no braço e na nuca, enquanto o indígena foi atingido no rosto e veio a falecer no local. Os tiros também atingiram Márcio Moreira, que não resistiu os ferimentos. Laércio, mesmo baleado, conseguiu andar mais de 10 quilômetros, para pedir socorro em uma aldeia.

O delegado informou ainda que a polícia já ouviu familiares do suposto madeireiro. Eles disseram que Márcio Moreira, que estava em companhia de outras pessoas, presenciaram os índios tentando saquear uma motocicleta, de marca e placa não identificadas. Houve uma discussão e, logo após, o tiroteio.

Investigação
Guilherme Campelo disse que as investigações vão continuar no decorrer desta semana, inclusive, várias testemunhas serão ouvidas na delegacia. A polícia ainda está no aguardo do resultado dos exames periciais. Um deles do local do crime que foi feito pelos peritos do Instituto de Criminalística.

Também está sendo aguardado o resultado dos exames de balística e cadavérico. O delegado disse que sábado, 2, os policiais conseguiram levar o corpo de Paulo Guajajara para o Instituto Médico Legal (IML) de Imperatriz para ser autopsiado, enquanto o corpo da outra vítima já tinha sido liberado para os familiares. Já Laércio Sousa foi submetido a tratamento cirúrgico no Hospital Municipal de Imperatriz (HMI), mas não corre risco de morte.

O delegado informou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, por meio da rede social, disse que a Polícia Federal também vai investigar o caso e a situação é um grave crime à Justiça. Ainda no decorrer do fim de semana ocorreu uma reunião entre a Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão, da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão e representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Imperatriz.
A Polícia Federal publicou, no último dia 2, uma nota em seu site informando que vai investigar as mortes ocorridas na reserva Araribóia e ainda esta semana uma equipe de policiais vai se deslocar para essa localidade.

Conflito
A Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão (Sedihop) já havia alertado, em setembro deste ano, por meio de ofício enviado à Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao Ministério da Justiça, sobre as ameaças e ações ilegais de criminosos ambientais que indígenas do Maranhão estavam sendo alvos.
No documento, o secretário Francisco Gonçalves,da Sedihpop, explica que, por conta da situação tensa na região, cinco indígenas foram incluídos no Programa Estadual de Proteção a Defensores dos Direitos Humanos do Maranhão (PEPDDH/MA). O ofício solicitou ainda, em caráter de urgência, a adoção de medidas de proteção dos povos indígenas. “A terra indígena vem sendo alvo constante de ações ilegais por parte de criminosos ambientais e causando elevado nível de tensão entre indígenas e não-indígenas”, diz Gonçalves.

.Saiba mais

Desde 2012, os chamados "guardiões da floresta", grupo formado por cerca de 180 indígenas, tentam proteger a região por conta própria. A terras indígenas do Maranhão sofrem invasões de grileiros e madeireiros há décadas.

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