O mais atual relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) mostra que, no Maranhão, ainda há três pontos com vestígios esparsos de óleo. Outros, que também continham a mancha, já foram limpos, como a Praia de Itatinga, em Alcântara, onde o material foi encontrado pela primeira vez no estado. Na Praia de Travosa, em Santo Amaro do Maranhão, mais de 700 kg da substância já foram retirados por uma força-tarefa.
Segundo o Ibama frisa em seu relatório, os vestígios esparsos estão em dois pontos de Santo Amaro do Maranhão, incluindo a Praia de Travosa, assim como na Ilha Caçacueira, que fica no Arquipélago de Maiaú, na Reserva Extrativista de Cururupu, na Baixada Maranhense. Outros trechos do litoral já foram limpos, como as praias da Mamuna e Itatinga, e Ilha do Livramento, que ficam em Alcântara.
Reserva afetada
A situação verificada em Cururupu foi classificada, inicialmente, como “Oleada – manchas”, que é o nível mais grave de contaminação, segundo o Ibama. Mas, agora, após ações de limpeza do mar e da faixa de areia, está na categoria “Oleada – vestígios esparsos”. O fato é que a presença do petróleo cru na Ilha Caçacueira preocupa, porque é considerada a maior reserva marinha e costeira do Brasil, composta por 15 ilhas. Além daquela cidade, é constituída pelos municípios de Apicum-Açu, Bacuri e Serrano do Maranhão.
No local, vivem mais de 4 mil pessoas, que retiram seus sustentos da atividade pesqueira. Se as manchas de óleo atingirem a fauna marinha daquela região, a pesca ficará comprometida. Consequentemente, as famílias serão afetadas nos níveis mais básicos da sobrevivência humana.
Retirada das manchas
Uma força-tarefa composta, além do Ibama, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e Marinha do Brasil, retirou mais de 700 kg de óleo da Praia de Travosa, em Santo Amaro do Maranhão, nos Lençóis Maranhenses, na quarta-feira, 23. Moradores da região também participaram da ação. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, a mancha já estava endurecida.
As manchas de óleo estavam em vários trechos da faixa de areia. Até esculturas construídas ao longo da praia foram atingidas pelo material.
Primeiro caso
Na tarde do dia 22 de setembro, o primeiro vestígio do material foi detectado no Maranhão, depois que o universitário Júlio Deranzani Bicudo localizou uma tartaruga repleta de petróleo, por volta das 16h30, quando caminhava nas areias da Praia de Itatinga, em Alcântara. O animal estava com uma densa camada da substância na cabeça e no casco. O estudante contou que seguiu o rastro das manchas na extensão da faixa de areia.
O universitário relatou na época que a tartaruga estava agitada por conta do material. Ele, então, levou o animal até um chuveiro situado na praia, para limpá-lo. Após livre da substância, a tartaruga foi devolvida ao mar já à noite, perto das 19h. Com a divulgação do caso nas redes sociais, a Empresa Maranhense de Administração Portuário (Emap) se pronunciou e disse que não havia registros de nenhum vazamento de óleo na região do Porto do Itaqui, e que as operações no local seguiam normalmente.
No Maranhão, além dessa tartaruga-marinha, outra foi encontrada na Ilha dos Poldos, em Araioses. Nessa situação, o animal já estava morto, segundo o Ibama.
Estados atingidos
Conforme o Ibama, nove estados já foram afetados pelas manchas, sendo eles Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Já são 238 locais atingidos, em 88 municípios. Há suspeita de que a contaminação tenha relação com navios petroleiros. A hipótese é que algum deles tenha efetuado uma limpeza nos tanques e despejado os rejeitos no mar.
Investigações
Muitas hipóteses estão sendo levantadas sobre as manchas, por diversos órgãos e universidades. Porém, até o momento, não há uma resposta científica e definitiva para o problema. Recentemente, tambores da Shell foram encontrados na Praia da Formosa, em Sergipe, o que levou o Ibama a pedir explicações à empresa. Análises feitas pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) verificaram que o material encontrado no interior desses barris é o mesmo das manchas de óleo que estão atingindo as praias nordestinas. Pelo menos dois testes realizados pela UFS chegaram ao mesmo resultado.
A Shell Brasil, no entanto, negou e disse que o conteúdo original desses barris não têm relação com o óleo cru que está poluindo o litoral nordestino.
"Tratam-se de embalagens de lubrificante para embarcações, de um lote não produzido no Brasil. Vale ressaltar que o próprio adesivo em um dos tambores encontrados em Sergipe traz a data de 17/02/2019 associada ao transporte do lubrificante Argina S3 30, e que a mancha de óleo cru que está atingindo o litoral começou a impactar a costa em setembro. Isso aponta para uma possível reutilização da embalagem em questão – reutilização esta que não foi feita pela Shell”, explicou a empresa em nota.
Já um relatório da Petrobras afirma que as manchas são uma mistura de óleos produzidos na Venezuela, mas o governo venezuelano rebateu as acusações. Para o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, há três possíveis explicações para a origem da substância nas praias do Nordeste: navio afundado, acidente durante passagem de óleo de um navio para outro e despejo criminoso. Já foi descartado que a substância tenha brotado de uma fissura no fundo do mar ou que seja fruto da limpeza do tanque de uma embarcação.
A Marinha, por sua vez, identificou 140 navios-tanque que passaram por águas brasileiras em frente ao litoral nordestino desde o início de setembro. As embarcações com cargas compatíveis já foram procuradas pelos militares. De acordo com essa investigação, a hipótese mais provável é de um acidente na transferência de óleo de um navio para outro. Mas o caso é considerado complexo e inédito pela extensão da área atingida e pela duração, uma vez que já dura mais de um mês.
Outra explicação veio da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pesquisas feitas pelo Departamento de Oceanografia indicam que a substância saiu de um navio que passou pelo litoral pernambucano. O professor Marcus Silva, responsável pelo estudo, disse que suas análises levaram em conta a intensidade das correntes marinhas, a força e a direção dos ventos e das marés. Para ele, o óleo foi derramado quando a embarcação estava a uma distância de 40 a 50 quilômetros da costa.
"Muito provavelmente [partiu] do Litoral entre Pernambuco e Paraíba. Boa parte desse óleo se deslocou e atingiu o litoral norte do Nordeste, como Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão. E uma parte se dispersou pelo Litoral Sul, atingindo depois Alagoas, Sergipe e chegando à Bahia nos últimos dias”, afirmou o pesquisador.
Simultaneamente, há investigações conduzidas pela Polícia Federal, Ministério da Defesa e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Enquanto isso, as manchas continuam se espalhando e atingindo mais localidades.
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