Caixas misteriosas

Mais pacotes de borracha são encontrados em praias do MA

Desta vez, as "caixas misteriosas" foram achadas em Paulino Neves e Cedral; pesquisadores do Ceará descobriram que esses pacotes estão vindo de um navio que naufragou em 1944, no litoral nordestino

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Em Cedral, os objetos estavam na Praia de Saçoitá, e em Paulino Neves os materiais de borracha foram encontrados na Praia do Barro Vermelho, ponto turístico da cidade
Em Cedral, os objetos estavam na Praia de Saçoitá, e em Paulino Neves os materiais de borracha foram encontrados na Praia do Barro Vermelho, ponto turístico da cidade (pacotes estranhos)

SÃO LUÍS - Os “pacotes estranhos”, que têm um aspecto de couro sintético, continuam aparecendo no litoral do Maranhão. Desta vez, as “caixas misteriosas” foram localizadas nas praias de Paulino Neves, na região dos Lençóis Maranhenses, e em Cedral. Em setembro deste ano, cinco desses materiais foram achados na Praia de São Marcos, em São Luís. Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) descobriram que os objetos são oriundos de um navio alemão que naufragou durante a Segunda Guerra Mundial, na costa do Nordeste.

Em Paulino Neves, os materiais de borracha foram encontrados na Praia do Barro Vermelho, que é um ponto turístico da cidade. Quatro caixas estavam enfileiradas na faixa de areia. Naquele município, pacotes com as mesmas características já haviam sido achados em outubro de 2018. Já em Cedral, os objetos estavam na Praia de Saçoitá. Alguns estão totalmente expostos e outros estão semienterrados na areia. A presença desses “pacotes estranhos” causou surpresa nos moradores e banhistas dos dois locais.

Na mesma praia de Cedral, foi encontrado, em março de 2017, um “navio fantasma”, que tem estampado na carcaça o nome Baraka. Na embarcação, que não foi reivindicada por nenhum pescador, não havia tripulantes. Alguns moradores saquearam o barco de pesca, cujo interior continha documentos de dois homens de origem oriental, assim como embalagens de produtos de várias partes do mundo, como Serra Leoa, Senegal e Malásia. Também havia anotações em folhas de caderno datadas de 2015.

Explicação
Além do Maranhão, os objetos também foram localizados em outros estados, como Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Segundo uma pesquisa divulgada recentemente pela Universidade Federal do Ceará, as caixas misteriosas seriam provenientes de um navio alemão que naufragou no litoral nordestino em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial.

Os membros do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da UFC, que analisaram os fardos de borracha encontrados nas praias cearenses do Serviluz, Aracati, Camocim, Caucaia, São Gonçalo do Amarante, Trairi e Pecém, fizeram a descoberta quando tentavam identificar de on­de se originaram as manchas de óleo que surgiram no litoral do Nordeste.Cerca de 200 “caixas misteriosas” foram achadas na costa do Cea­­rá, no segundo semestre do ano passado.

Segundo o oceanógrafo físico Carlos Teixeira, do Labomar, o navio de onde possivelmente os pacotes são originários, utilizava, de forma estratégica, o nome brasileiro “SS Rio Grande”, como uma tentativa de o Estado alemão se disfarçar de inimigos de guerra. A embarcação era carregada com os fardos de borracha e foi afundada pela Força Aérea dos Estados Unidos um ano antes do fim da 2ª Guerra Mundial.

Sem relação
Assim sendo, os “pacotes estranhos” teriam saído do navio, no fundo do mar, e alcançado a superfície e as praias do Nordeste. Mas o professor Carlos Teixeira alerta que, embora a descoberta tenha ocorrido durante pesquisas das manchas de óleo, seria prematuro afirmar que exista alguma relação entre as caixas misteriosas e o petróleo cru que está se espalhando pelo litoral nordestino, incluindo o Maranhão, cujo mar está poluído pelo material em Alcântara, Cururupu e Santo Amaro do Maranhão.

“Para ter relação, o óleo teria de ser muito velho. O naufrágio foi em 1944. Navios naufragados começam a sofrer corrosão. Então, décadas depois, começam a vazar suas cargas. E, por ter acontecido no Oceano Atlântico, perto do Nordeste, elas chegaram até aqui", esclareceu o professor Luís Ernesto Bezerra, também do Instituto de Ciências do Mar. Ele está realizando a pesquisa juntamente com Carlos Teixeira, Luís Ernesto Arruda e Rivelino Cavalcante.

O pesquisador Luís Ernesto disse que encontrou uma dessas caixas de borracha em Itarema, no interior do Ceará, e o objeto continha uma inscrição pertencente à Indonésia Francesa, que ficou independente em 1953. “Ou seja, é muito antiga. Então, começamos as pesquisas e encontramos confirmações desse naufrágio", pontou o professor. O navio afundou entre 1º e 4 de janeiro de 1944, mas só foi descoberto alguns anos depois do episódio, em meados de 1966.

A embarcação alemã estava a cer­ca de mil quilômetros do litoral nordestino, segundo os pesquisadores do Labomar. O oceanógrafo Carlos Teixeira começou um trabalho de simulação para confirmar que as caixas poderiam chegar até a costa nordestina e foi bem-sucedido. Segundo ele, a equipe tem 99% de certeza dessa origem.

Praia de São Marcos
Sem nenhum tipo de identificação, os “pacotes estranhos” foram encontrados na extensão da Praia de São Marcos no dia 23 de setembro, logo nas primeiras horas. Eram cinco objetos, que pesavam mais de 100 quilos cada. Especialistas da Oceanografia presumiram que eles foram descartados, propositalmente, de navios internacionais que passam pela costa maranhense.

Banhistas que caminhavam pela praia acharam os pacotes, que, pelo aspecto incomum, chamaram a atenção. A aparência dos objetos, que não têm indicação de origem, sugere que seriam compostos de couro prensado, mas a textura pode ser sintética, ou seja, muito diferente da origem animal. Em pouco tempo, bombeiros militares apareceram na faixa de areia, para impedir que curiosos manuseassem o material.

O oceanógrafo Leonardo Lima disse na ocasião que havia uma gran­de possibilidade de que os pacotes teriam sido lançados ao mar de navios que passaram pelo litoral do Maranhão. Esse procedimento é realizado para diminuir o impacto na hora da atracagem das embarcações. “É um material utilizado dentro das embarcações com algum tipo de revestimento, seja ele mecânico, para evitar o contato da carga com o casco. Isso serve para evitar choques mecânicos, por exemplo. Uma vez que se tenha problemas com esse material, que fica velho, não tem mais utilidade”, explicou ele.

O especialista avaliou que, por não ser mais útil à tripulação, é descartado em alto-mar As ondas, então, carregam os objetos até as praias. A degradação dos pacotes pode causar poluição ambiental, com risco de serem engolidos por peixes, conforme Lima. “Fisicamente, não há problemas para a população. Mas esse material vai se transformar em pedaços menores. Aí, pode poluir o meio ambiente”, revelou o oceanógrafo.

Pacotes parecidos com esses já haviam sido encontrados na capital maranhense no ano passado, no começo do segundo semestre. Na ocasião, os objetos estavam na Praia da Guia, na área Itaqui-Bacanga. Garotos que jogavam futebol no local avistaram o material, que pesava cerca de 180kg e teve de ser retirado com o auxílio de uma retroescavadeira.

Da praia, foram levados até o bairro Vila Nova. Na época, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Iba­ma) disse que o material poderia ser lixo descartado de navios que passavam pela costa do Maranhão. Mas lançou a possibilidade de ser derivado de petróleo. Um fato curioso é que, um mês depois, no fim de outubro de 2018, os pacotes foram novamente encontrados nas cidades de Santo Amaro, Cândido Mendes e Paulino Neves.

SAIBA MAIS

OUTROS ESTADOS

Em outubro do ano passado, os “objetos estranhos” também foram encontrados em outras praias do Nordeste, como Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Os pacotes foram localizados, primeiramente, no Estado de Alagoas. O Instituto Biota de Conservação suspeitou, na ocasião, que o material foi descartado de embarcações que navegavam por mares internacionais, como os especialistas também presumiram nesse caso recente ocorrido na capital maranhense.

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