Saúde alimentar

Restringir totalmente o consumo de carboidrato pode provocar fobias

Especialistas alertam sobre perigo de ''carbofobia'' para adeptos de dietas para emagrecer; as pessoas acreditam que vão engordar e que até outros elementos macronutrientes, como proteína e gordura, não são tão preocupantes no ganho de peso

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Carboidratos devem ser ingeridos com equilíbrio.
Carboidratos devem ser ingeridos com equilíbrio. (carboidratos)

São Paulo - O que há em comum en­tre as dietas cetogêni­ca, da proteína e “low-carb”? Todas elas res­tringem, consideravelmente, o consumo dos carboidratos. Muita gente realiza esse tipo de regime e garante que emagrece rapidamente.

O sucesso das dietas sem carboidrato fez com que muita gente acreditasse que o macronutriente é o vilão, ou seja, que carboidrato engorda.

“Ele virou 'vilão' porque é consumido em excesso de uma maneira geral, principalmente o carboidrato (farinha branca, açúcar). Isso está muito inserido no padrão de alimentação da maioria das pessoas e retirar esses alimentos é um fator primordial para conseguir o emagrecimento. O excesso do consumo de carboidratos não saudáveis acabou criando mais tensão de que todos os carboidratos são ruins”, avalia o nutrólogo Kaue Kranholdt.

O especialista em performance esportiva, emagrecimento e vegetarianismo acredita que, hoje em dia, existe um certo medo de consumir carboidrato. As pessoas acreditam que vão engordar e que até outros elementos macronutrientes, como proteína e gordura, não são tão preocupantes no ga­nho de peso.

“O carboidrato não é o vilão. O ideal é o equilíbrio sempre. Muitas vezes, o consumo do carboidrato simples é exagerado, aí o paciente procura assistência médica para perder peso e precisa adequar sua alimentação”, explica a endocrinologista Livia Marcela.

A mestre em Endocrinologia pela Unifesp conta que a maior procura por emagrecimento na clínica é por parte dos jovens, que acompanham esse movimen­to low-carb nas redes sociais e surgem com a chamada “carbofobia”, ou seja, o medo de consumir carboidratos.

O nutrólogo Kaue Kranholdt acredita que a “carbofobia” pode ser associada inclusive ao consumo de carboidratos integrais: "É um comportamento alimentar excessivamente preocupado na ingestão de carboidratos mesmo considerados os carboidratos saudáveis (provenientes de frutas naturais, farinhas integrais, grãos etc).

A carbofobia é a preocupação unicamente das pessoas com esse ingrediente para fazer uma dieta e isso acaba sendo muito mais acentuado com a popularização das dietas low carb, cetogênica, paleo, que preconizam uma alimentação com baixa
ingestão de carboidrato".

Lívia aconselha fazer uma adequação do cardápio para a perda de peso e não a extinção do consumo de carboidrato. “Diminuir doces e alimentos processados, além de introduzir os integrais e frutas, que são carboidratos também, mas são muito bem-vindos na alimentação”.

O que é carboidrato
Carboidrato é um macronutriente formado fundamentalmente por moléculas de carbono, hidrogênio e oxigênio. Este macronutriente quando ingerido e absorvido é responsável por liberar glicose, fornecer energia para as células por ser a primeira fonte de energia celular e fazer a manutenção metabólica glicêmica para que o corpo continue funcionan­do bem.

Você vai emagrecer rápido se deixar de comer carboidrato?
O nutrólogo Kaue Kranholdt afirma que a dieta low-carb cria uma falsa impressão de rápida perda de peso. “O uso da dieta low-carb e o uso de uma dieta com restrição calórica apresentam a médio e longo prazo exatamente o mesmo resultado. O único fator diferencial é que a low-carb pode apresentar uma perda de peso mais rápida e isso ocorre porque o carboidrato, como macronutriente, é responsável pela locomoção de água no nosso organismo e quando as pessoas restringem excessivamente o consumo de carboidrato existe uma falsa impressão de mudança de peso. Essa variação líquida pode ser percebida quando as pessoas adeptas do low carb eventualmente consomem carboidrato novamen­te às vezes escapam da dieta no final de semana, feriado, e relatam ganho de peso muito rápido”, enfatiza. O especialista explica que isso ocorre porque existe uma mudança de líquido corporal quando entra novamente o carboidrato na alimentação.

A endocrinologista conta sua experiência com os pacientes e ressalta que alguns arriscam a fazer a dieta rica em proteína e aumentam o consumo de gordura para sentirem mais saciedade. “Esses pacientes frequentemente se queixam de mudança do hábito intestinal, ou até mesmo percebendo que não perdem peso, apesar de uma dieta rica em proteínas porque, com o aumento da gordura, a caloria não diminui”.

A restrição de consumo de carboidrato pode prejudicar sua saúde?
Para o nutrólogo Kaue Kranholdt, deixar de comer carboidrato pode ser perigoso: “A restrição de carboidrato por ser prejudicial ao organismo porque isso pode eventualmente causar alteração comportamental (transtorno alimentar) e alguns micronutrientes podem ficar ausentes de uma alimentação saudável porque os carboidratos estão sendo totalmente evitados”.

Ele lembra que, para quem faz atividade física, restringir o consumo de carboidrato é totalmente contra indicado, pois não existe performance esportiva sem o nutriente.

SAIBA MAIS

O QUE É LOW-CARB?

As pessoas até conseguem emagrecer com ela, que prevê uma ingestão de algo entre 20 e 40% de calorias provenientes de carboidratos ao dia. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em um cardápio padrão, o ideal é que o consumo fique entre 55 a 75% - embora não haja um consenso universal sobre o assunto. Mas é preciso fazer uma série de ressalvas aqui. Primeiro, que o low-carb (ou poucos carboidratos, em tradução livre do inglês) deve vir acompanhado de escolhas mais saudáveis e equilíbrio na mesa. Ora, de nada adianta riscar o pão branco e comer muita gordura, por exemplo. Já a dieta cetogênica, que corta os carboidratos em níveis ainda mais drásticos, é desaconselhada pelos especialistas, salvo em situações excepcionais.

CARBOIDRATOS SIMPLES VERSUS COMPLEXOS

Os carboidratos são divididos nessas duas categorias. Está aí um dos motivos de confusão. “O que devemos, sim, é reduzir o consumo simples, proveniente dos doces, massas brancas e açúcar de mesa, e não os carboidratos no geral”, explica Masquio. Para perder peso ou não ganhar, o consumo destes não deve ultrapassar 10% das calorias que comemos ao dia. Ou seja: em uma dieta de 2.000 kcal, apenas 200 devem vir do grupo, que também inclui pão francês, arroz branco e macarrão tradicional. Já os complexos, provenientes dos grãos integrais, são até benéficos na redução das medidas. É que eles são fontes de fibras, nutrientes que promovem uma saciedade mais duradoura, pois são digeridos de forma mais lenta pelo nosso organismo. Invista neles - e em um prato bem variado- para manter a saúde e o peso em dia.
Exemplos de carboidratos simples: glicose, frutose, sacarose e lactose são os carboidratos simples mais encontrados nos alimentos. Como exemplo temos açúcar de mesa, mel, açúcar do leite e das frutas, garapa, rapadura, balas, chicletes, doces em geral, refrigerantes, pães e massas feito com farinha refinada, entre outros.
Exemplos de carboidratos complexo: cereais e derivados, como arroz, trigo, centeio, cevada, milho, aveia, massas e pães (integrais), batata-doce, batata, inhame, cará, mandioca, mandioquinha, feijões, ervilha, lentilha, grão-de-bico, soja, entre outros.

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