Negociações

Governo do Equador anuncia abertura de canal de diálogo com movimento indígena

Conversas são medidas pela ONU e pela Igreja Católica; Conaie vincula negociações à suspensão de decreto que acabou com subsídios

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Manifestantes entraram em confronto com a polícia no lado de fora da Assembleia Nacional
Manifestantes entraram em confronto com a polícia no lado de fora da Assembleia Nacional (Reuters)

QUITO — O presidente Lenín Moreno anunciou a abertura de um canal de diálogo com a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), movimento que lidera os protestos contra o governo. As conversas, iniciadas no mesmo dia em que manifestantes tomaram controle brevemente do prédio da Assembleia Nacional do país, estão sendo mediadas pelas Nações Unidas e pela Igreja Católica .

Moreno, no entanto, diz que apesar do contato inicial, "há alguma dificuldade" para concretizar as negociações já que "mais de 60 organizações" mostram seu descontentamento com a alta dos preços da gasolina e do diesel, causada pelo fim dos subsídios aos combustíveis.

Segundo o jornal equatoriano El Comércio, o prefeito da cidade de Azuay, Yaku Pérez, um dos dirigentes do movimento indígena, confirmou que uma comissão do grupo opositor está em contato direto com as Nações Unidas.

O Equador está virtualmente paralisado desde quinta-feira da semana passada,3, quando começaram os protestos contra reformas trabalhistas e fiscais que leveram o governo decretar estado de exceção . Elas fazem parte de um acordo firmado em março com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que Quito recebesse um empréstimo de US$ 4,209 bilhões. Uma das medidas anunciadas foi o fim de subsídios aos combustíveis, em vigor havia 40 anos, que fizeram os preços nas bombas de gasolina aumentar até 123%. O objetivo é reduzir o déficit público de cerca de US$ 3,6 bilhões este ano para menos de US$ 1 bilhão em 2020.

Em uma entrevista transmitida em rede nacional na noite de terça-feira, Moreno disse ter informado aos mediadores de que "não é possível reverter a eliminação do subsídio" aos combustíveis. Ele, no entanto, apresentou uma carta de negociação que traça alternativas como assumir um compromisso de que parte dos recursos que o Estado economizará com a medida seja voltada para a agricultura.

A Conaie , por sua vez, disse ao El Comércio que suas lideranças se reuniram para discutir sobre as propostas de Moreno. Na manhã de terça-feira, 8, o presidente do grupo, Jaime Vargas, havia sinalizado que a condição para o prosseguimento de um diálogo com o governo era a suspensão do Decreto Executivo 883, que eliminou os subsídios.

Marcha hoje

O anúncio de diálogo vem antes de uma grande marcha convocada pela Conaie para ontem, 9, para protestar contra as medidas do governo. Na terça, cerca de 10 mil pessoas já estavam concentradas em um parque da região. Parte desse grupo decidiu caminhar até a Assembleia e, apesar do grande número de policiais, conseguiu chegar até o plenário.

Os manifestantes foram expulsos do local com bombas de gás lacrimogêneo. Horas depois, Moreno anunciou um toque de recolher em áreas próximas a prédios do governo, como a própria Assembleia, e instalações consideradas estratégicas. Segundo o decreto, a medida valerá por 30 dias, sendo aplicada de segunda a sexta-feira, impedindo o acesso de pessoas sem autorização entre as 20:00 e as 05:00.

A ordem que estabelecia as restrições já trazia a assinatura do presidente que, horas antes, havia anunciado a transferência da sede do governo equatoriano de Quito para Guayaquil. Em paralelo, sete países americanos se juntaram aos Estados Unidos e manifestaram seu apoio a Moreno.

Os governos de Argentina, Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Peru e Paraguai manifestaram "repúdio à qualquer tentativa de desestabilizar os regimes democráticos legitimamente constituídos", e reafirmam seu "forte apoio às ações empreendidas pelo presidente Lenín Moreno para recuperar a paz, a institucionalidade e a ordem, utilizando os instrumentos concedidos pela constituição e pela lei, assim como ele vem fazendo".

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